Faz amanhã 80 anos que um jovem repórter chamado Tintim partiu para a Rússia soviética. Começava a publicação de 'Tintim no País dos Sovietes', a primeira aventura do herói de Hergé, no 'Le Petit Vingtième', suplemento para crianças do diário belga 'Le Vingtième Siècle'.
Herói não voltou mais a escrever
No dia 10 de Janeiro de 1929, faz amanhã 80 anos, partia da gare da estação de comboios de Bruxelas, para a Rússia soviética, em serviço do Le Petit Vingtième, o suplemento infanto-juvenil do diário católico e conservador Le Vingtième Siècle, "um dos seus melhores repórteres", Tintim, acompanhado por Milu, o seu fiel fox-terrier branco.
Trajando sobretudo, calças à golfe e casaco de padrão escocês, e com um boné na cabeça, Tintim prometia enviar "postais, caviar e vodka" aos camaradas e amigos que se tinham ido despedir dele, enquanto o seu redactor-chefe dizia: "Boa viagem! Seja prudente e mantenha-nos ao corrente de tudo."
Começava assim a primeira prancha de Tintim no País dos Sovietes, desenhada a preto e branco por um jovem ilustrador chamado Hergé (pseudónimo de Georges Rémi). Começava também a fazer-se história da banda desenhada (BD), pois esta seria a primeira aventura daquele que se tornaria no maior, mais popular e mais universal herói da Nona Arte.
Tintim nasceu porque o recém-criado Le Petit Vingtième precisava de ter um herói-âncora a protagonizar uma história de longa duração que apaixonasse os pequenos leitores deste suplemento infanto-juvenil.
Hergé criou-o em poucos dias, indo buscar o escuteiro Totor, que tinha criado antes para uma revista escuta, Le Boy-Scout Belge, modificando-o e dando-lhe a companhia de Milu. Tintim permite-lhe também escapar à corveia que é desenhar Les Aventures de Flup, Nénesse, Poussette e Cochonnet, que não entrará para a história da BD...
O desenhador tinha o fascínio dos Estados Unidos, mas o abade Norbert Wallez, director do Le Vingtième Siècle, e criador do Le Petit Vingtiéme, anticomunista fervoroso, decidiu orientar a primeira reportagem de Tintim para a União Soviética, então a viver "numa espécie de caos mais ou menos organizado", como escreveu Michael Farr em Tintin, le rêve et la realité (Moulinsart). Tinham passado apenas 12 anos sobre a Revolução de Outubro, e o mundo estava cada vez mais temeroso dos seus efeitos.
Recordou Hergé: "Fui assim inspirado pelo ambiente que se respirava no jornal mas também por um livro intitulado Moscou sans voiles, de Joseph Douillet [1928], ex-cônsul da Bélgica em Rostov-sobre-o-Don, que denunciava com veemência os vícios e as infâmias do regime". No futuro, Hergé documentar-se-á cuidadosamente antes de desenhar os álbuns de Tintim.
Como escreve Pol Vandromme em Le Monde de Tintin, para este jovem repórter com espírito de escoteiro, "a Rússia leninista é uma invenção infernal", e a história de estreia da personagem, que já não é Totor mas ainda não é bem Tintim, "ilustra uma Rússia de pesadelo. Mais exactamente: uma Rússia que não é senão um pesadelo viscoso e sangrento".
Cento e trinta e seis pranchas de sátira anticomunista e peripécias depois, Tintim regressou triunfalmente à Gare du Nord de Bruxelas. No papel como na vida real, uma multidão acorreu a acolhê-lo. Seria a sua primeira e única reportagem.»
Herói não voltou mais a escrever
No dia 10 de Janeiro de 1929, faz amanhã 80 anos, partia da gare da estação de comboios de Bruxelas, para a Rússia soviética, em serviço do Le Petit Vingtième, o suplemento infanto-juvenil do diário católico e conservador Le Vingtième Siècle, "um dos seus melhores repórteres", Tintim, acompanhado por Milu, o seu fiel fox-terrier branco.
Trajando sobretudo, calças à golfe e casaco de padrão escocês, e com um boné na cabeça, Tintim prometia enviar "postais, caviar e vodka" aos camaradas e amigos que se tinham ido despedir dele, enquanto o seu redactor-chefe dizia: "Boa viagem! Seja prudente e mantenha-nos ao corrente de tudo."
Começava assim a primeira prancha de Tintim no País dos Sovietes, desenhada a preto e branco por um jovem ilustrador chamado Hergé (pseudónimo de Georges Rémi). Começava também a fazer-se história da banda desenhada (BD), pois esta seria a primeira aventura daquele que se tornaria no maior, mais popular e mais universal herói da Nona Arte.
Tintim nasceu porque o recém-criado Le Petit Vingtième precisava de ter um herói-âncora a protagonizar uma história de longa duração que apaixonasse os pequenos leitores deste suplemento infanto-juvenil.
Hergé criou-o em poucos dias, indo buscar o escuteiro Totor, que tinha criado antes para uma revista escuta, Le Boy-Scout Belge, modificando-o e dando-lhe a companhia de Milu. Tintim permite-lhe também escapar à corveia que é desenhar Les Aventures de Flup, Nénesse, Poussette e Cochonnet, que não entrará para a história da BD...
O desenhador tinha o fascínio dos Estados Unidos, mas o abade Norbert Wallez, director do Le Vingtième Siècle, e criador do Le Petit Vingtiéme, anticomunista fervoroso, decidiu orientar a primeira reportagem de Tintim para a União Soviética, então a viver "numa espécie de caos mais ou menos organizado", como escreveu Michael Farr em Tintin, le rêve et la realité (Moulinsart). Tinham passado apenas 12 anos sobre a Revolução de Outubro, e o mundo estava cada vez mais temeroso dos seus efeitos.
Recordou Hergé: "Fui assim inspirado pelo ambiente que se respirava no jornal mas também por um livro intitulado Moscou sans voiles, de Joseph Douillet [1928], ex-cônsul da Bélgica em Rostov-sobre-o-Don, que denunciava com veemência os vícios e as infâmias do regime". No futuro, Hergé documentar-se-á cuidadosamente antes de desenhar os álbuns de Tintim.
Como escreve Pol Vandromme em Le Monde de Tintin, para este jovem repórter com espírito de escoteiro, "a Rússia leninista é uma invenção infernal", e a história de estreia da personagem, que já não é Totor mas ainda não é bem Tintim, "ilustra uma Rússia de pesadelo. Mais exactamente: uma Rússia que não é senão um pesadelo viscoso e sangrento".
Cento e trinta e seis pranchas de sátira anticomunista e peripécias depois, Tintim regressou triunfalmente à Gare du Nord de Bruxelas. No papel como na vida real, uma multidão acorreu a acolhê-lo. Seria a sua primeira e única reportagem.»
Eurico de Barros
In Diário de Notícias, 09.01.2009.
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