26.2.10

Arquivo do Ministério do Ultramar

"O arquivo do extinto Ministério do Ultramar, que se encontra disperso por vários organismos do Estado, foi objecto de uma inventariação e tratamento estando agora reunido e disponível para consulta pública.
A documentação, produzida entre 1930 e 1974 no quadro das actividades do Ministério do Ultramar, passou a estar contida numa base de dados de descrição arquivística, sendo agora possível aos investigadores, e ao público em geral, identificar, localizar e relacionar toda esta informação.
Este projecto, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, foi criado em 2006 sob proposta de José Mattoso com o objectivo de resgatar a memória histórica da presença portuguesa no Ultramar, passado o período, segundo o historiador, em que a sua consulta poderia agravar óbvias tensões.
As bases de colaboração para o desenvolvimento deste projecto ficaram estabelecidas num protocolo assinado entre a Fundação e os Ministérios dos Negócios Estrangeiros, Finanças, da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e Ministério da Cultura. Em Março de 2008 concluiu-se a primeira fase do Projecto, que consistiu na inventariação e tratamento da documentação existente no Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento e Arquivo Histórico Diplomático, instituições dependentes do MNE, Direcção Geral do Tesouro e Direcção Geral da Administração Pública. Falta apenas a inventariação e o tratamento da documentação do Arquivo Histórico Ultramarino, hoje integrado no Instituto de Investigação Científica Tropical, tutelado pelo MCTES. A Fundação cedeu esta base de dados ao Arquivo Nacional da Torre do Tombo, de modo a assegurar a preservação digital e o eficaz acesso da comunidade científica e do público em geral à informação."

16.2.10

Lançamento d` Antologia Poética de Rodrigo Emílio

A Associação Cultural Areias do Tempo, fará o lançamento da "Antologia Poética" de Rodrigo Emílio, organizada por Bruno Oliveira Santos e prefaciada por António Manuel Couto Viana, no próximo dia 20, Sábado, às 18 horas, na SHIP, (no Palácio da Independência, ao Largo de São Domingos, n.º 11, em Lisboa).
O lançamento terá a participação de José Valle de Figueiredo, de
Manuel Varella e a contribuição musical de José Campos e Sousa.
A não perder!

15.2.10

Ciclo de Cinema na SHIP


Teve início no passado dia 10 deste mês, na SHIP, - no Palácio da Independência, ao Largo de São Domingos, 11, em Lisboa - , o Ciclo de Cinema de Autor: de Griffith a Lopes Ribeiro do qual há a destacar, esta semana, as exibições dos documentários A Inauguração do Estado Nacional e As Festas do Duplo Centenário (dia 17, às 18h30) e o filme A Revolução de Maio (dia 18, às 18h30), todos da autoria de António Lopes Ribeiro.

Por outro lado, terá início no dia 24 de Fevereiro, às 18h30, o Ciclo As Outras Guerras do Séc. XX, com a exibição de Sin Novedad en el Alcazar.
Os ciclos de cinema, a cargo do Núcleo Pró-Cineclube, decorrem todas as quartas e quintas-feiras, pelas 18h30, com entrada livre.

Pelo Casamento, Pela Família


6.2.10

Robert Brasillach: os últimos instantes por Bernard George

ROBERT BRASILLACH: OS ÚLTIMOS INSTANTES...

"Só podemos aqui citar o processo verbal dos últimos instantes — porque fazem parte da sua vida e da sua figura — autenticado por Jacques Isorni no próprio dia da sua execução, 6 de Fevereiro de 1945. “Às 8h30 diante das grades do Palácio da Justiça forma-se o cortejo de seis viaturas negras que irão conduzir a Fresnes as pessoas requisitadas pela lei e pelo costume para a execução. Ao longo de todo o percurso, um importante serviço de ordem constituído por guardas da paz armados de pistolas-metralhadoras. Nas proximidades de Fresnes, o serviço de ordem é muito mais compacto. Na entrada da prisão os guardas móveis formam alas. Esperamos alguns instantes (...) diante da grade de acesso ao grande corredor que conduz às celas.
Às 9 horas em ponto dirigimo-nos seguidos de um pelotão de guardas à divisão dos condenados à morte. O Comissário do governo francês abre a porta da cela de Robert Brasillach e anuncia-lhe num tom seco que o pedido de indulto foi recusado.
Entro neste momento na cela com Mlle. Mireille Noël e o capelão. Robert Brasillach abraça-nos aos três. Logo depois, pede para ficar só com o capelão. Dois guardas retiram-lhe as cadeias. Depois da sua confissão e de alguns minutos de conversa com o sacerdote, manda-me chamar e a Mlle. Noël. Dá-me as últimas cartas que escreveu para a mãe, para a família, para Mlle. Noël e para mim mesmo. Dá-me também os manuscritos dos poemas escritos na prisão e uma folha com algumas linhas e o título La Mort en Face. De quando em quando, olha-me com um sorriso de criança. Tinha compreendido desde ontem que seria esta manhã.
— Sabe, diz-me, dormi perfeitamente!
Como tem que vestir o seu fato civil e tirar o fato dos condenados à morte, Mlle. Noël retira-se e eu fico só com ele.
— Sim, fique aqui comigo, diz-me.
Mostra-me algumas fotografias da mãe e dos sobrinhos. Põe-nas na carteira, exprimindo o desejo de morrer com essas fotografias sobre o coração. Naquele momento sofre um ligeiro desmaio, solta um suspiro, e as lágrimas correm-lhe dos olhos. Volta-se para mim, como se quisesse desculpar-se:
— É natural, isto. Mas, tranquilize-se, daqui a pouco a coragem não me abandonará.
Veste-se tranquilamente, compõe cuidadosamente o risco do cabelo diante do espelho; depois, sem descurar nada, retira da metade de um pão um pequeno canivete e uma tesoura escondidos e entrega-mos. Explica-me:
— Para ninguém ter problemas...

Arruma os seus objectos pessoais num saco grande. Sente sede nesse momento. Bebe um pouco de água da sua tigela. Depois, acaba de se arranjar. Veste o sobretudo azul que usara durante o julgamento. Passou à volta do pescoço o mesmo cachecol de lã vermelha.
Pede para falar com o Comissário do governo, Reboul. Este avança. Está rígido pela emoção, o rosto atormentado, intensamente pálido. Com uma voz surda, Brasillach faz-lhe a declaração seguinte:
— Não lhe quero mal, M. Reboul, sei que acredita ter agido segundo o seu dever; mas tenho a dizer-lhe que não procurei senão servir a minha Pátria. Sei que o senhor é cristão, como eu sou. Só Deus nos julgará. Posso pedir-lhe um favor?
M. Reboul inclina-se, Robert Brasillach continua:
— A minha família sofreu muito, o meu cunhado está na prisão, sem motivo nenhum, há seis meses. A minha irmã precisa dele. Peço-lhe que faça tudo o que puder para que seja posto em liberdade. Ele foi também o companheiro de toda a minha juventude...
O Comissário do governo responde-lhe:
— Prometo-lhe.
Robert Brasillach diz-lhe para terminar:
— Aceitaria, M. Reboul, apertar-me a mão?
O Comissário do governo aperta-a durante um longo momento.
Robert Brasillach abraça-me uma vez mais; abraça igualmente Mlle. Mireille Noël que acabara de entrar e diz-lhe:
— Tenha coragem e fique junto da minha pobre irmã.
Está pronto e, ele mesmo, abre a porta da cela. Avança até à frente das personalidades que o aguardam e diz-lhes:
— Senhores, estou à vossa disposição!
Dois guardas avançam para ele e colocam-lhe as algemas. Chegamos ao grande corredor da saída. Ao passar diante duma cela, Robert Brasillach grita com uma voz clara: “Até à vista, Béraud”, e alguns metros mais longe: “Até à vista, Lucien Combelle!” A sua voz ressoa na abóbada por sobre o ruído dos passos."


Quando chegamos ao corredor onde o carro celular espera, volta-se para Mlle. Noël e diz-lhe enquanto lhe beija a mão:
— Confio-lhe Suzanne e os dois pequenos. Acrescenta:
— Hoje, 6 de Fevereiro, pensará em mim e pensará nos outros que morreram neste mesmo dia há onze anos.
Subo com ele para a viatura que vai conduzir-nos ao forte de Montrouge. Senta-se, impassível, agarrando-me a mão. A partir deste momento não falará mais.
O poste ergue-se junto duma elevação revada. O pelotão de doze homens e um suboficial volta-nos as costas. Robert Brasillach abraça-me e dá-me palmadas nas costas em sinal de encorajamento. Um sorriso puro ilumina-lhe o rosto, e o olhar não traduz nenhuma amargura. Depois, calmo, com um grande à-vontade, sem o menor estremecimento, dirige-se para o poste. Mantenho-me um pouco afastado do grupo oficial. Voltou-se, encostado ao poste. Olha-me como se me dissesse: “Eis o fim”.
Um soldado sai do pelotão para lhe amarrar as mãos, mas fica perturbado e não consegue amarrá-las. O maréchal des logis, por ordem do tenente, tenta por sua vez. Os segundos passam... Ouve-se a voz do tenente que rompe o silêncio:
Maréchal des logis!... Maréchal des logis!...
Robert Brasillach, atado ao seu poste, mantém-se muito direito, a cabeça levantada e altiva. Em contraste com o cachecol vermelho, está muito pálido. O meirinho lê a pronúncia de rejeição do recurso judicial.
Depois, com voz forte, Robert Brasillach grita ao pelotão:
— Coragem!...
E com os olhos levantados:
— Viva a França!
O fogo de salva ressoa. A parte superior do corpo separa-se do poste como que a levantar-se para o céu. A boca crispa-se. O impedido precipita-se e dá-lhe o tiro de misericórdia. O corpo desliza suavemente para a terra. São 9h38.
O Dr. Paul avança para confirmar a morte. O capelão e eu seguimo-lo e inclinamo-nos. O corpo está, aparentemente, intacto. Recolho, para os que o amam, a grossa gota de sangue que lhe rola na testa”.
“Antecipa toda a separação, como se ela estivesse atrás de ti, semelhante ao inverno que num instante se vai. Porque entre os invernos, está um sem fim tal que, depois de o superares, o teu coração sobreviverá a tudo”.
É o início dum dos Sonetos a Orfeu, de Rilke. Antecipa toda a separação... o teu coração sobreviverá a tudo. Sim, este quinhão dos eleitos da morte precoce é o de Robert Brasillach. Alguns quiseram discutir sobre que romances, que teatro, que crónicas. Mas é duma obra única que se trata e, como a de Orfeu, a sua voz continuará a elevar-se e a fazer-se ouvir, impossível de confundir-se com alguma outra. Nem criminoso, nem traidor. François Mauriac resolveu este problema duma vez por todas. E, como diz Jean Anouilh, o autor de Antígona, no seu prefácio das Obras completas: “Quando a salva inútil estala, o homem que assinou a sentença desmorona-se, começando a sua putrefacção e passeando o seu cadáver glorioso e barulhento — por um tempo ridiculamente curto. O moço que olhava a morte de frente continua de pé e intacto — eternamente... Este moço tomou o seu lugar para sempre entre os primeiros escritores de língua francesa”.
Sim, como a morte alimentou a sua vida, a vida alimentou a sua morte; o canto de Orfeu continuará a elevar-se para celebrar a beleza dos dois reinos.
Quem quer que se aproxime desta obra, ouvirá sempre, com esta voz única, ecoarem os mesmos temas, como o sangue no coração: o tempo que passa, a bondade, o verão, a praia maravilhosa, as raparigas, o fogo nas faces, o amor incandescente...
...E as chaves de toda a poesia: a juventude e a morte.


Bernard George


1.2.10

O Fim da Linha por Mário Crespo

"Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada."
Mário Crespo

Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicado hoje (1/2/2010) no Jornal de Notícias.
Mário Crespo revela conversa de José Sócrates que o aponta como "mais um problema a resolver"