6.2.07

Robert Brasillach: Hitler, o Mestre da III Alemanha


"Perguntava-me qual seria a minha impressão diante do homem que suporta nos ombros, não somente este Império, mas ainda esta religião nova.
Recordava-me de ter ouvido Hitler na altura da sua campanha eleitoral de 1932, na rádio ou no cinema. Essa campanha era qualquer coisa de inesquecível: os sinos, os tambores, os coros, toda uma magia musical o envolvia em cada instante numa emoção que a expectativa do poder tornava ainda mais alta.
O futuro Chanceler, o Führer do Partido prometido para a vitória começava a falar num tom simples, quase uniforme. Depois, a voz avolumava-se, enrouquecia, aumentava formidavelmente de registo com algo de mágico e de terrível e a palavra “Deutschland” revoava apaixonadamente cada vinte segundos como um encantamento sagrado.
Hoje, Hitler fala de maneira mais calma. Os alemães exaltam-se sempre que o ouvem e aplaudem-no com um estoicismo ébrio de si mesmo quando ele lhes promete as privações, a pobreza. A sua voz parece comover-se quando, como outro dia, na parada dos Politischenleiter, declarava sacrificar tudo pela Alemanha e que entregaria a sua vida se fosse necessário. Mas o conjunto dá-nos a impressão de uma moderação maior. Não faz gestos, tem as mãos quase sempre cruzadas quando fala e os altifalantes repetem em eco o final das suas frases...
Acabo de o ver há duas horas e de muito perto. Oitenta a cem convidados estrangeiros foram obsequiados com um chá em que o Chanceler deveria estar presente. Fomos conduzidos para uma sala onde descobrimos numa espécie de barafunda sem ordem um homem pequeno que é o Mestre de setenta milhões de homens. Rodeiam-no sem cerimónia, como se rodeassem um vendedor ambulante na rua, um vendedor de gravatas...
Um homem pequeno. Mais pequeno do que pareceria no écran, triste, de casaco castanho, calças pretas, a mecha de cabelo, o rosto fatigado. Mais velho também do que aparenta. Só de perto se vê o seu sorriso. Um sorriso quase infantil, como têm frequentemente os condutores de homens...
No entanto, é necessário observar os seus olhos. Nesse rosto vulgar, só eles contam. São olhos de outro mundo, olhos estranhos de um azul profundo e escuro onde apenas se distingue a pupila. Como adivinhar o que se passa neles? Que há ali senão um sonho prodigioso, um amor sem limites para com a Deutschland, a terra alemã, aquela que é real, a que está a construir ainda?
Que temos nós de comum com os seus olhos? A primeira impressão, a mais prodigiosa, subsiste: esses olhos são tristes. Uma angústia quase indefinível, uma ansiedade singular fixam-se ali. Adivinhamos num ápice as dificuldades presentes, a guerra possível, a crise religiosa, todas as preocupações do chefe responsável. Sentimos fortemente, fisicamente, que aventura terrível é conduzir uma nação, conduzir a Alemanha em direcção ao seu destino devorante. Sobretudo, quando se trata de a transformar de tal forma que um homem novo, como diz a cada instante, possa aí nascer e viver.
Não se vê Hitler como um vulgar chefe de Estado. É também um reformador. Foi chamado, chamado a uma missão que sabe divina, e os seus olhos dizem-nos que ele suporta esse peso terrível."
Robert Brasillach

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