Nenhuma figura da História portuguesa merece ser cultuada com mais carinho e devoção, porque nenhuma, como ela, subiu tão alto em cavalheirismo, em dignidade patriótica e em espírito de abnegação. Guerra Junqueiro disse que Nuno Álvares foi uma «alma pura em natureza pura» e um outro escritor célebre definiu-o em poucas, mas expressivas e eloquentes palavras: «piedade feita energia, oração feita espada».
De facto, Nuno Álvares, símbolo de uma Pátria que ressurge, era uma flor altíssima e imaculada no meio do pântano; um exemplo de confiança no meio do acabrunhamento geral; uma lição de indefectível patriotismo, vibrando e triunfando clangorosamente sobre o escárnio dos estranhos e a traição de alguns naturais. O Condestável — homem de vontade inquebrantável e de fé sublime — fez da sua vida uma longa e formosíssima ascese. Norteado por dois ideais — Deus e Pátria — a eles se consagrou inteiramente. Onde se encontrará figura mais cheia de ensinamentos e de fecunda humanidade? Nuno Álvares era forte porque era puro, e ainda hoje — volvidos tantos séculos — a sua personalidade gigantesca avulta como eloquentíssima lição. O Condestável foi, em vida, a personificação da lealdade — foi o chicote para os cobardes, para os traidores e para os absolutos; foi protector e amparo para os fracos e para os bons! A existência do grande Herói é um compêndio vivo e palpitante de civismo do melhor, de energia, de fé, de patriotismo e de disciplina!
Hoje, como sempre e talvez mais do que nunca, é dever dos portugueses prestar homenagem a todos os grandes vultos nacionais, procurando extrair da sua vida a lição fecunda e activa que eles comportam.
Só desta maneira será possível compreender a grandeza de Portugal no Passado e contribuir frutuosamente para ela, no Presente e no Futuro. Na lição de antanho se deve ir procurar o justo orgulho da hora actual e o caminho rectilíneo e certo dia do dia de amanhã. Nuno Álvares Pereira, o místico sublime, o genial patriota e inconcusso carácter, cuja vida real mais parece uma lenda, vale a História inteira de um povo e constitui manancial vivo de sempre remoçadas energias nacionais; representa uma inapreciável lição de fé, de coragem, de optimismo e de entusiasmo que nunca será demais relembrar. É por isso que Camões exclamava, a propósito do invencível e boníssimo Condestável, num maravilhoso verso dos Lusíadas, que ficou célebre: «Ditosa Pátria que tal filho teve!»
Mário Gonçalves Viana.
In Nuno Álvares, Editora Educação Nacional, colecção Figuras Nacionais, Porto, 1938, págs. 172/173/174.
In Nuno Álvares, Editora Educação Nacional, colecção Figuras Nacionais, Porto, 1938, págs. 172/173/174.
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