27.4.09

Livro: Alvorada Desfeita de Diogo de Andrade


Editado a coincidir com os 35 anos da revolução dos cravos, com a chancela da Izipress, do grupo editorial Guimarães, Alvorada Desfeita conta com um prefácio do professor de Ciência Política António Marques Bessa. A obra é uma ficção histórica alternativa, que descreve o cenário da derrota do Movimento dos Capitães, em 25 de Abril de 1974, graças à decidida resposta armada do Governo à sublevação militar. No centro do enredo está a personagem ficcional do jovem ministro da Defesa Ricardo Valera, cuja determinação faz gorar a revolução dos cravos, após sangrentos combates travados em Lisboa. O autor, de pseudónimo Diogo de Andrade, conheceu e privou com muitas das personagens reais do livro.



Já está nas livrarias Alvorada Desfeita, uma história alternativa onde o MFA é derrotado e o 25 de Abril fracassa. O autor, de pseudónimo Diogo de Andrade, falou ao DN sobre esta obra inédita em Portugal.
A história alternativa é um género praticamente desconhecido em Portugal. Foi influenciado por alguma obra para escrever Alvorada Desfeita, ou o livro é apenas um reflexo da sua vivência da época, e das suas meditações sobre o 25 de Abril e as consequências que teve?
A história virtual romanceada tem escassa projecção em Portugal. Na opção que tomei terão pesado algumas obras estrangeiras de ficção alternativa, como Fatherland, de Robert Harris (que retrata a vitória do III Reich e a sua nova ordem décadas depois), Terra Nostra, de Carlos Fuentes (o triunfo da Invencível Armada), e o A Conspiração Contra a América, de Philip Roth, que concebe uns EUA em que Roosevelt é derrotado por Charles Lindbergh.
Porque é que optou por um enredo que integra o romanesco no cenário alternativo ?
Nos últimos 35 anos vingou, como verdade única e indiscutível, uma interpretação "autêntica" do 25 de Abril, feita pelos capitães vitoriosos e crismada pela historiografia oficial da III República, a qual considera que a revolução era irreversível, que só essa opção poderia ter vencido e que o destino de Portugal e do seu Ultramar só poderia ter sido o que foi. A discussão de cenários alternativos ao da revolução triunfante nunca foi trabalhada por historiadores e politólogos, em nome de um "dogma de fé" de correcção política transformado em filosofia pública, o qual formatou a mesma revolução como via única para um regime democrático. Um novo estudo, 35 anos depois, seria, apenas mais um, enquanto um romance de história virtual consegue ser inovador. É um meio mais lúdico, mais provocador e mais apto a transmitir uma ideia, às pessoas fora das áreas militar, política e académica.
A personagem do ministro Ricardo Valera é totalmente ficcional? E porque não houve um Ricardo Valera, na realidade?
O ministro Ricardo Valera, que encarna a resistência à revolução, é uma figura ficcionada, já que não existia no Governo de Marcello Caetano ninguém cujo perfil lhe pudesse corresponder. Em qualquer caso, a sua personalidade seria sempre incompatível com a geron- tocracia incolor, servil e imobilista que predominava no último Governo de Caetano, pelo que a sua nomeação teve que ser concebida como obra do acaso. Ora o acaso é uma realidade imponderável que faz muitas vezes história, mas que, às seis da manhã de 25 de Abril de 1974 não visitou o Terreiro do Paço. No seu lugar estava a figura previsível do professor Silva Cunha.
Qual foi o momento- -chave que definiu a vitória da revolução e a derrota das forças do antigo regime, impedindo que o cenário alternativo de Alvorada Desfeita se realizasse?
No plano militar, o triunfo da revolução foi traçado no momento em que, no Terreiro do Paço, elementos das forças leais, comandadas pelo brigadeiro Junqueira dos Reis, recusaram acatar a ordem deste oficial para abrirem fogo sobre os revoltosos. As forças governamentais detinham um maior poder de combate do que o dos rebeldes, pois eram mais numerosas e tinham carros de combate claramente superiores aos dos seus adversários. Não tenho dúvidas de que, se a ordem de fogo do brigadeiro Reis tivesse sido acatada e o material estivesse operacional, a coluna de Santarém seria derrotada. Tal não significaria, necessariamente, o colapso da revolução, mas constituiria para esta um sério revés, já que os revolucionários teriam perdido a sua força móvel de "embate" mais importante. No plano político, a derrota do regime foi ditada pela bizzarra clausura de Marcello Caetano no refúgio indefensável do Carmo e pela ordem ( da qual existe uma gravação) que deu ao director da DGS para não fazer correr sangue. Ora uma revolta com a dimensão da do 25 de Abril não poderia ser vencida sem o uso da força. No fundo, Marcello recusou bater-se.
Há neste livro algum wishful thinking retroactivo, alguma catarse ou "ajuste de contas" com o 25 de Abril, 35 anos depois? Ou é apenas uma obra de especulação histórica, tout court?
Trata-se de um mero exercício romanceado de especulação histórica. Quem questiona subliminarmente se o 25 de Abril valeu a pena parecem ser aqueles que o comemoram todos os anos e que assinaram este ano um manifesto algo sombrio sobre o estado a que o País, na sua opinião, chegou.
Eurico de Barros
In Diário de Notícias

4 comentários:

João Pedro Gomes disse...

Exceptuando os mortos que a história narra, era assim que tudo deveria ter acontecido. O 25 de Abril, com todo o aproveitamento criminoso que a esquerda fez dele, é a causa do nosso atraso cada vez maior. Somos cada vez mais a cauda da europa

Anónimo disse...

O 25 de Abril FOI A DATA MAIS NEGRA DA HISTÓRIA DE PORTUGAL.
VIVA SALAZAR!

Adriano Ferreira Pinto disse...

E se o “ministro” “Ricardo Valera” tivesse existido mesmo, ainda que fora daquele governo ?
Se estiver vivo ?
Se quiser, agora e já, DESFAZER a ALVORADA ?
Quantos o acompanhamos ?
Eu, pelo menos, vou.
Mas seremos muitos mais, DE CERTEZA ! ! !
Ajfp

Anónimo disse...

A visão economicista da Pátria de R. Varela: aceitar a independência da Guiné porque o território não é economicamente rentável assenta na mesma lógica do fecho dos hospitais, escolas, linhas de caminhos-de-ferro, etc., dos actuais políticos e vai levar-nos mais cedo ou mais tarde à perda da nossa independência. No fundo, se o romance fosse verídico estaríamos, neste momento, muito provavelmente, na mesma situação do País real. Pessoalmente, repugna-me a ideia de abandonar partes do território e populações pela simples razão de não serem rentáveis. Os Guinéus na sua maioria (como reconhece o autor) queriam continuar Portugueses. O seu abandono via referendo manipulado (como preconiza o romance) constitui um acto de traição pior ou igual ao da descolonização. Este livro (bem escrito) não acrescenta valor às ideias sobre o nosso antigo ultramar