Não se trata de comentar o sucesso, nem é para isso que me dirijo a V.ª Ex.ª. Venho apelar para os seus sentimentos de piedade cristã, e pedir-lhe o favor de intervir para que o desventurado rapaz seja sepultado no Cemitério alemão. Parece-me que é escusado importunar mais V.ª Ex.ª Nós somos, no mundo, o único País onde nem tudo é perdido. É à sombra dessa circunstância que venho pedir isto a V.ª Ex.ª A não ser que os ingleses façam questão de levar o cadáver para a Alemanha e aí – o enforcarem!
Tudo isto é horrível. E eu peço a V.ª Ex.ª que me creia seu dedicado e grato
A.P.» (p. 278)
PRESIDENTE DO CONSELHO DE MINISTROS
«Lisboa, 18 de Janeiro, Sábado
Ex.mo Sr. Presidente do Conselho: - Começo por agradecer a V. Ex.ª a prontidão com que teve a bondade de responder à minha carta sobre o enterramento do sr. H. Wissemann. Efectivamente tudo correu como devia ser. Lá fui acompanhar o desventurado moço até à sua sepultura. Cerimónia de vencidos: silenciosa e fria; uma dúzia de pessoas entre portugueses e alemães. Mas não foi desacompanhado de algumas palavras minhas - palavras de português e de católico, de português que não abandona os perseguidos, e de católico que tem a coragem de rezar alto pelos mortos. Chamo a atenção de V. Ex.ª para o boato que corre de que o Dr. H. Wissemann foi assassinado pela Polícia. Segundo as informações que colhi, isso não é verdade; tentou suicidar-se com um tiro de pistola que se encravou. O agente deitou-lhe a mão; ele, brioso e nobre, não tolerou que as mãos da Polícia o prendessem, e sacudiu o agente. Este, então feriu-o na cabeça com a sua pistola. O Dr. Wissemann, com a cara ensanguentada, pediu que o deixassem ir ao quarto lavar o rosto. E então, tomou o comprimido de cianeto de potássio, e veio cair morto aos pés do agente. Isto é horrível. Assim me contaram o facto. Mas o boato de que assassinato corre, V.ª Ex.ª julgará se é melhor ou não esclarecer o que se passou. O que eu não queria era que se dissesse ou pudesse dizer que houve um alemão indefeso, sem Pátria, sem Governo que por ele fale foi assassinado por Polícia portuguesa.» (p. 279)
In "Salazar e Alfredo Pimenta - Correspondência, 1931-1950". Editorial Verbo. Lisboa. 2008, pp. 278/279.
Nota:
Surpreendentemente no livro faltam estas duas cartas do dossier Wissemann que fazem parte do espólio depositado no Arquivo Salazar na Torre do Tombo:
«Ex.mo Sr. Presidente do Conselho: - tenha V. Ex.ª a bondade de desculpar. Mas talvez possa habilitar-me a responder à filha do Fernando Campos.
Se ele apresentar uma procuração da irmã do pobre Wissemann, a polícia entregar-me-á os livros, trabalhos que foram dele, que ela, polícia, apreendeu, quando se deu o (...)? V. Ex.ª que conhece muito melhor do que eu os (...) do caso, pode fazer-me o favor de me dizer alguma coisa a tal respeito?
Muito lho agradecia e de V. Ex.ª muito atenciosamente A . P.»
«Ex.mo Sr. Presidente do Conselho: - devolvo a V.Ex.ª a informação que teve a bondade de me confiar, e de que dei conhecimento, ontem, à filha do Fernando Campos.
Com os meus melhores agradecimentos sou de V. Ex.ª muito grato. A . P.»
1 comentário:
Passei por esta "casa" e fiquei agradavelmente surpreendido.
Saúdo a sua capacidade de trabalho e inteligência,na forma como fornece informação credível,principalmente àqueles que estão atordoados com o "politicamente correcto"!
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