«Para mim, existiram vários factores, que levaram ao precipitar do 25 de Abril. Pelos contactos tidos, na altura, com o meu pai(1) e com o Eng. Santos e Castro(2), sabia-se estar em preparação, a nível político português, uma manobra de grande envergadura, ligada àquilo que estava a ser feito com o complexo de Sines. Esta estrutura destinava-se a destilar o petróleo de Angola, fugindo aos esquemas de produção controlada, de modo a oferecer ao mercado europeu um petróleo de custo extremamente mais baixo que o do mundo árabe. Assim Portugal passaria a ter um peso maior, a nível internacional.
Daí poderiam advir numerosas contrapartidas, tais como condescendência política e diplomática, a nível internacional, em relação ao problema africano. Também com a baixa de preços poderia haver outra política de aquisições de material de guerra…» (p. 201)
«(…) Esse petróleo tornar-se-ia num reforço da capacidade de manobra de Portugal no mundo. Assim, nas nossas conversas chegámos à conclusão de que o facto de a oposição portuguesa acabar por ter, então, o apoio internacional e até meios financeiros de que terão passado a usufruir, foi exactamente a necessidade de contrariar essa grande manobra do governo português…
- Qual a razão do falhanço dessa estratégia?
Porque a nível internacional não interessava que Portugal viesse ter a poder económico. Que ficasse na CEE, mas na cauda da fileira… Tal não interessava, até aos países europeus: Portugal continuar a utilizar meios que a eles tinham sido negados, ou obrigados a isso.
- Passaram, então, a boicotar esse projecto…
Chegou a ser projectada uma acção, com o efectivo apoio da França, em relação à Guiné-Conakry, e não como a que tinha sido realizada, anos antes…
Encontrava-se também previsto o fornecimento do petróleo angolano à África do Sul, através de um pipe-line, que atravessaria o Sudoeste Africano (hoje Namíbia), com a contrapartida de fornecimento de material de guerra, incluindo aviões militares. Isso foi recusado por Marcello Caetano, por considerar não haver relações com um Governo racista.
- Mas muita gente pensava que estava a ser ultrapassado o timing, em relação às possíveis negociações a fazer para normalizar a situação naqueles territórios…
Para mim a negociação apenas devia ser efectuada numa situação de supremacia militar. Assim, quando um país não consegue ter os seus fornecimentos de material de guerra suficientes e não possui a força diplomática necessária, a negociação será sempre em seu prejuízo…» (p. 202)
Daí poderiam advir numerosas contrapartidas, tais como condescendência política e diplomática, a nível internacional, em relação ao problema africano. Também com a baixa de preços poderia haver outra política de aquisições de material de guerra…» (p. 201)
«(…) Esse petróleo tornar-se-ia num reforço da capacidade de manobra de Portugal no mundo. Assim, nas nossas conversas chegámos à conclusão de que o facto de a oposição portuguesa acabar por ter, então, o apoio internacional e até meios financeiros de que terão passado a usufruir, foi exactamente a necessidade de contrariar essa grande manobra do governo português…
- Qual a razão do falhanço dessa estratégia?
Porque a nível internacional não interessava que Portugal viesse ter a poder económico. Que ficasse na CEE, mas na cauda da fileira… Tal não interessava, até aos países europeus: Portugal continuar a utilizar meios que a eles tinham sido negados, ou obrigados a isso.
- Passaram, então, a boicotar esse projecto…
Chegou a ser projectada uma acção, com o efectivo apoio da França, em relação à Guiné-Conakry, e não como a que tinha sido realizada, anos antes…
Encontrava-se também previsto o fornecimento do petróleo angolano à África do Sul, através de um pipe-line, que atravessaria o Sudoeste Africano (hoje Namíbia), com a contrapartida de fornecimento de material de guerra, incluindo aviões militares. Isso foi recusado por Marcello Caetano, por considerar não haver relações com um Governo racista.
- Mas muita gente pensava que estava a ser ultrapassado o timing, em relação às possíveis negociações a fazer para normalizar a situação naqueles territórios…
Para mim a negociação apenas devia ser efectuada numa situação de supremacia militar. Assim, quando um país não consegue ter os seus fornecimentos de material de guerra suficientes e não possui a força diplomática necessária, a negociação será sempre em seu prejuízo…» (p. 202)
Nuno Barbieri
1.º Tenente
In Manuel Maria Bernardo, Memórias da Revolução, Prefácio Editora, Lisboa, 2004.1.º Tenente
(1) - Refere-se ao ex-Director-Adjunto da DGS, Barbieri Cardoso.
(2) – Governador Geral de Angola até ao 25 de Abril e irmão do Coronel Gilberto Santos e Castro, fundador dos “Comandos” em Angola e, posteriormente, comandante da força da FNLA, apoiada por americanos e zairenses que, em 1975, invadiu Angola, com a intenção de ocupar Luanda.
(2) – Governador Geral de Angola até ao 25 de Abril e irmão do Coronel Gilberto Santos e Castro, fundador dos “Comandos” em Angola e, posteriormente, comandante da força da FNLA, apoiada por americanos e zairenses que, em 1975, invadiu Angola, com a intenção de ocupar Luanda.
4 comentários:
Caro Nonas, a fazer HISTÓRIA.
Portugal, ou o que dele resta, agradece sempre.
Abraço
RS
Quem é o elegante (sem ironia) e bem fardado oficial da foto? Pela fisionomia não parece Marcello Caetano, mas terá que ser. Quanto à magreza sim. Ele era de facto extremamente magro em novo, conforme tenho reparado nas fotografias aqui reproduzidas, facto que me surpreendeu.
Maria
É o jovem Comissário Nacional da Mocidade Portuguesa, Marcello Caetano.
Estou a tentar enviar um comentário (para outra caixa) sobre Caetano e Salazar, no seguimento das excelentes transcrições que tenho aqui lido, abordando de caminho o perfil dos traidores que nos desgovernam desde o dia em que o primeiro lhes entregou o País de mão beijada, mas não estou a conseguir. Talvez o motivo seja mesmo esse. Vamos ver se o conseguirei enviar mais logo ou amanhã.
Maria
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