No que se refere a IV - Os Retornados/Desalojados trata-se de um verdadeiro e minucioso relato da notável acção que concebeu, dirigiu e levou a bom termo pela qual merece o respeito e a gratidão não só dos beneficiários directos da mesma mas de todos os portugueses conscientes. Tem o meu e a minha. A sua formação profundamente humanista de que dá notável testemunho nesta complexa, delicada e prolongada acção fora já revelada, como também refere, no seu magnífico apoio a populações africanas. A par da devotada vontade que tudo enfrenta para, com coragem, iniciativa e persistência, obter soluções, no cumprimento de uma missão a si próprio atribuída, evidencia uma capacidade organizadora rara entre nós.
Isto é independente dos reparos que fiz a respeito de III-7 e também de um outro que lhe junto agora.
Muito me impressiona que militares bem formados e inteligentes, como o Senhor, convivendo dia a dia com a evolução que o processo da chamada “descolonização” ia sofrendo e com a intervenção nele dos respectivos mandantes, conseguiram manter, em relação a ela, neutralidade, alheamento e mesmo acomodação... E, mais, como é possível manter tal neutralidade, com raras excepções (a mais recente e de todas a mais importante terá sido a do nosso camarada Silva Cardoso) quando responsáveis directos por tal evolução se pavoneiam entre o nosso povo como heróis da “nossa” Pátria!
Como um “assim não!” teria sido importante!
Estou a lembrar-me que no meu curto Governo fui insistido para correr com a vereação da C. M. de Luanda, como estavam fazendo com ocupações no Portugal europeu. Não deixei. Só após eleições que estavam prometidas.
E não estou a esquecer a sua atitude quando sentado, como réu, em frente de um grupo de mfas, marcou uma posição, a qual, pelo que julgo ter entendido, foi depois essencialmente a de alheamento e de neutralidade que conserva relativamente a eles.
Certamente pensavam os militares sérios e competentes que embora o poder estivesse a revelar-se destruidor, era nos termos democráticos apregoados, não revolucionário, mas legítimo, e acomodavam-se visando evitar o pior. O pior que assim acabou por acontecer causando destruições sem par, vítimas aos milhares, lá e cá a tragédia que foi confessada!
A ocupação pelo MPLA da C. M. de Luanda logo se verificou com a chegada do Alm. Rosa Coutinho! E deve ter sido importante para ajudar o MPLA a manejar meios humanos e materiais para... a sua (do MPLA) “descolonização”de Luanda.»
Nota: Nas páginas do livro, encontram-se vários erros históricos, omissões de factos e relatos inexactos como o do assalto ao Palácio do Governador, no qual o autor repete a versão posta a circular logo nessa noite em Luanda.
Lembro que face ao Acordo de Paris, o governo português estava obrigado a que os «colonos deveriam ser repatriados a expensas de Portugal.» — Liquidação do Ultramar, Jornal Português de Economia e Finanças, 1980.
Ora, foi ao general Gonçalves Ribeiro que tocou pôr em prática essa exigência. E, sobre o tema do eufemístico "repatriamento" dos mal chamados "retornados" (léxico abrileiro), quando na realidade, se tratava de Deslocados, Exilados, Desterrados, Refugiados, Espoliados nacionais do território português, nem vale a pena falar. Dava pano para mangas e milhares de páginas sobre uma nova tragédia vivida por esses milhares de portugueses expulsos da sua terra portuguesa. O IARN, os dinheiros do IARN, enfim, uma festa!
Finalmente, ao longo do livro o gen. Gonçalves Ribeiro fala em Portugal como, por exemplo, "Em Portugal" (p. 478) ou "expulso para Portugal" (p. 224).
Caro senhor Gonçalves Ribeiro: Angola, Moçambique, Guiné, S. Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Estado da Índia, Macau, Timor eram províncias portuguesas ultramarinas! Eram território português! Eram Portugal!
As Províncias Ultramarinas não eram de Portugal! Eram Portugal!
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