Fui um dos compradores do segundo número da Visão História por duas razões: uma pelo portfolio de Eduardo Gageiro, a outra pelas declarações de Mário Soares, de Pinto Balsemão e de Freitas do Amaral.
Pela primeira vez, após sempre o ter negado, Mário Soares conta a forma como foi convidado a fazer parte da lista da Acção Nacional Popular: «Antes de as “eleições” serem marcadas, fui apresentado ao novo secretário-geral da União Nacional (esse e os outros nomes só mudaram depois das eleições), Melo e Castro, pelo antigo director de O Tempo e o Modo, o meu amigo António Alçada Baptista, que, quando eu já estava no exílio, aceitou ser o autor de um livro de “entrevistas” com Marcelo Caetano, ou seja, como lhe disse em Paris, “o António Ferro de Caetano”, com menos fôlego e originalidade. Melo e Castro convidou-me para jantar, no Grémio Literário. Com algum cuidado e vários rodeios chegou ao ponto que lhe interessava: convidou-me para figurar, em destaque, na lista concorrente (e obviamente ganhadora) da Acção Nacional Popular.» (p. 88)
Mário Soares refere-se às eleições de 1969, as primeiras sob o mandato de Marcello Caetano.
E mais conta: «Realmente, no primeiro Conselho de Ministros, Marcelo Caetano fez sair um breve comunicado, fixando num ano a minha pena de deportação, contando o tempo de prisão antes sofrido, em Caxias. O que significava que estaria de volta a Lisboa em Novembro, dias antes de meu pai completar 90 anos.
Foi a primeira medida concreta da chamada “Primavera marcelista”.»
Sobre o bispo vermelho do Porto: «Entretanto, o bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, continuava proibido de entrar em Portugal, no seu exílio no Convento de Tormes, em Espanha, perto de Salamanca. Decidi ir, com a minha filha a conduzir e o meu amigo Raul Rego, então director do República, e sua esposa, visitá-lo, para lhe expressar a nossa solidariedade.» (p. 87).
Por seu lado, o bispo vermelho do Porto endereçou a Marcello Caetano, datada de 29 de Maio de 1969, uma carta que teve resposta de Marcello a 12 de Junho, na qual diz: «Pode vir para Fátima, como deseja, quando quiser. Peço-lhe porém que não se dirija ao Porto enquanto a Santa Sé não resolver a situação do administrador apostólico» (p.82) e que gostaria que o seu regresso «tivesse lugar após o acordo do Governo com a Santa Sé» (p.83).
O testemunho de Freitas do Amaral é interessante e relevante quando atesta como êxitos: «reduziu drasticamente (numa primeira fase) os cortes da Censura; permitiu o regresso do bispo do Porto, exilado em Roma, e do dr. Mário Soares, com residência fixa em S. Tomé» (p. 67) e finaliza o texto desta forma: «Assim, a Revolução não se fez contra Marcello Caetano – mas contra as políticas de Salazar, e apesar das correcções tentadas por Marcello Caetano (por serem insuficientes, não por serem erradas). Por isso considero que este não merecia ter acabado como acabou.» (p. 68)
Balsemão na entrevista prestada a Pedro Vieira, quando lhe é questionado «o que pretenderia Marcelo ao chamar os “liberais”? responde: «Numa primeira fase, na fase da Primavera, era encontrar gente não comprometida e até com algumas provas, mesmo limitadas, como era o meu caso, de não estar com o regime de Salazar. Gente que não era da oposição clássica, mas com algum afastamento em relação, que depois podia apoiá-lo para fazer as mudanças. O problema era África. O prof. Marcelo Caetano, de início, quis caminhar para uma Federação, que depois evoluísse para uma espécie de Commonwealth. Numa das últimas conversas com ele, eu disse: “Bom, e a Federação e todo esse projecto?” E a resposta foi: “Aonde é que isso já vai!” Nunca me hei-de esquecer desta frase.» (p. 78)
Pinto Balsemão foi convidado por Marcello para se candidatar à lista da União Nacional pelo distrito da Guarda e reconhece a existência de uma amizade familiar com a família Caetano. (p. 78)
No que diz respeito à Ala Liberal, escreve Marcello Caetano no seu livro Depoimento: «Assentei com o dr. Melo e Castro em tentar recrutar para as listas da União Nacional um núcleo forte de jovens da ala progressista moderada, garantindo-lhes liberdade de movimentos desde que aceitassem os princípios fundamentais comuns à lista em que haviam de ser propostos aos eleitores» (p. 71).
Da Ala Liberal faziam parte: Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Magalhães Mota, (estes três foram os fundadores do PPD), José Pedro Pinto Leite, Miller Guerra e Mota Amaral.
Duas outras e novas razões que me deixam satisfeito pela compra desta revista/lixo são: que os escrevinhadores de serviço, quais canetas de ouro, poderão vir a ser um dia Prémio Pullitzer, Prémio Nobel, Prémio Fernando Pessoa e que esta revista – sucessora (?) da revista História – demonstra às claras que Marcello Caetano foi um TRAIDOR ao Estado Novo e que passa a fazer parte - ao lado dos livros de Manuel Maria Múrias “De Salazar a Costa Gomes”, Nova Arrancada, Lisboa, 1998; de António José de Brito, “Sobre o Momento Político Actual”, ed, do Autor, Porto, 1969; e de Eduardo Freitas da Costa “Acuso Marcello Caetano”, Editorial Liber, Lisboa, 1975; - do libelo acusatório de traição aos princípios de Salazar e do Estado Novo confirmando as célebres e premonitórias de Alfredo Pimenta no seu opúsculo "Contra a Democracia”, pp. 6/7, Amigos do Agora!, 1949.:
«... O meu conceito de Democracia e a minha repugnância por este sistema absurdo de orgânica política, obrigam-me, por coerência mental e compreensão histórica, a desejar que o meu País não se deixe seduzir pelas fantasmagorias transparentemente interesseiras dos srs. Jorge Botelho Moniz e Marcelo Caetano, arautos da renovação democrática e da reconciliação na Democracia, e tenha sempre presentes os conceitos fundamentais expostos pelo sr. Presidente do Conselho no seu já famoso discurso de 7 de Janeiro deste ano, no Palácio da Bolsa, no Porto.»
Como Alfredo Pimenta os topava e já em 1949!!!
Pela primeira vez, após sempre o ter negado, Mário Soares conta a forma como foi convidado a fazer parte da lista da Acção Nacional Popular: «Antes de as “eleições” serem marcadas, fui apresentado ao novo secretário-geral da União Nacional (esse e os outros nomes só mudaram depois das eleições), Melo e Castro, pelo antigo director de O Tempo e o Modo, o meu amigo António Alçada Baptista, que, quando eu já estava no exílio, aceitou ser o autor de um livro de “entrevistas” com Marcelo Caetano, ou seja, como lhe disse em Paris, “o António Ferro de Caetano”, com menos fôlego e originalidade. Melo e Castro convidou-me para jantar, no Grémio Literário. Com algum cuidado e vários rodeios chegou ao ponto que lhe interessava: convidou-me para figurar, em destaque, na lista concorrente (e obviamente ganhadora) da Acção Nacional Popular.» (p. 88)
Mário Soares refere-se às eleições de 1969, as primeiras sob o mandato de Marcello Caetano.
E mais conta: «Realmente, no primeiro Conselho de Ministros, Marcelo Caetano fez sair um breve comunicado, fixando num ano a minha pena de deportação, contando o tempo de prisão antes sofrido, em Caxias. O que significava que estaria de volta a Lisboa em Novembro, dias antes de meu pai completar 90 anos.
Foi a primeira medida concreta da chamada “Primavera marcelista”.»
Sobre o bispo vermelho do Porto: «Entretanto, o bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, continuava proibido de entrar em Portugal, no seu exílio no Convento de Tormes, em Espanha, perto de Salamanca. Decidi ir, com a minha filha a conduzir e o meu amigo Raul Rego, então director do República, e sua esposa, visitá-lo, para lhe expressar a nossa solidariedade.» (p. 87).
Por seu lado, o bispo vermelho do Porto endereçou a Marcello Caetano, datada de 29 de Maio de 1969, uma carta que teve resposta de Marcello a 12 de Junho, na qual diz: «Pode vir para Fátima, como deseja, quando quiser. Peço-lhe porém que não se dirija ao Porto enquanto a Santa Sé não resolver a situação do administrador apostólico» (p.82) e que gostaria que o seu regresso «tivesse lugar após o acordo do Governo com a Santa Sé» (p.83).
O testemunho de Freitas do Amaral é interessante e relevante quando atesta como êxitos: «reduziu drasticamente (numa primeira fase) os cortes da Censura; permitiu o regresso do bispo do Porto, exilado em Roma, e do dr. Mário Soares, com residência fixa em S. Tomé» (p. 67) e finaliza o texto desta forma: «Assim, a Revolução não se fez contra Marcello Caetano – mas contra as políticas de Salazar, e apesar das correcções tentadas por Marcello Caetano (por serem insuficientes, não por serem erradas). Por isso considero que este não merecia ter acabado como acabou.» (p. 68)
Balsemão na entrevista prestada a Pedro Vieira, quando lhe é questionado «o que pretenderia Marcelo ao chamar os “liberais”? responde: «Numa primeira fase, na fase da Primavera, era encontrar gente não comprometida e até com algumas provas, mesmo limitadas, como era o meu caso, de não estar com o regime de Salazar. Gente que não era da oposição clássica, mas com algum afastamento em relação, que depois podia apoiá-lo para fazer as mudanças. O problema era África. O prof. Marcelo Caetano, de início, quis caminhar para uma Federação, que depois evoluísse para uma espécie de Commonwealth. Numa das últimas conversas com ele, eu disse: “Bom, e a Federação e todo esse projecto?” E a resposta foi: “Aonde é que isso já vai!” Nunca me hei-de esquecer desta frase.» (p. 78)
Pinto Balsemão foi convidado por Marcello para se candidatar à lista da União Nacional pelo distrito da Guarda e reconhece a existência de uma amizade familiar com a família Caetano. (p. 78)
No que diz respeito à Ala Liberal, escreve Marcello Caetano no seu livro Depoimento: «Assentei com o dr. Melo e Castro em tentar recrutar para as listas da União Nacional um núcleo forte de jovens da ala progressista moderada, garantindo-lhes liberdade de movimentos desde que aceitassem os princípios fundamentais comuns à lista em que haviam de ser propostos aos eleitores» (p. 71).
Da Ala Liberal faziam parte: Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Magalhães Mota, (estes três foram os fundadores do PPD), José Pedro Pinto Leite, Miller Guerra e Mota Amaral.
Duas outras e novas razões que me deixam satisfeito pela compra desta revista/lixo são: que os escrevinhadores de serviço, quais canetas de ouro, poderão vir a ser um dia Prémio Pullitzer, Prémio Nobel, Prémio Fernando Pessoa e que esta revista – sucessora (?) da revista História – demonstra às claras que Marcello Caetano foi um TRAIDOR ao Estado Novo e que passa a fazer parte - ao lado dos livros de Manuel Maria Múrias “De Salazar a Costa Gomes”, Nova Arrancada, Lisboa, 1998; de António José de Brito, “Sobre o Momento Político Actual”, ed, do Autor, Porto, 1969; e de Eduardo Freitas da Costa “Acuso Marcello Caetano”, Editorial Liber, Lisboa, 1975; - do libelo acusatório de traição aos princípios de Salazar e do Estado Novo confirmando as célebres e premonitórias de Alfredo Pimenta no seu opúsculo "Contra a Democracia”, pp. 6/7, Amigos do Agora!, 1949.:
«... O meu conceito de Democracia e a minha repugnância por este sistema absurdo de orgânica política, obrigam-me, por coerência mental e compreensão histórica, a desejar que o meu País não se deixe seduzir pelas fantasmagorias transparentemente interesseiras dos srs. Jorge Botelho Moniz e Marcelo Caetano, arautos da renovação democrática e da reconciliação na Democracia, e tenha sempre presentes os conceitos fundamentais expostos pelo sr. Presidente do Conselho no seu já famoso discurso de 7 de Janeiro deste ano, no Palácio da Bolsa, no Porto.»
Como Alfredo Pimenta os topava e já em 1949!!!
3 comentários:
Amigo Nonas, não dê dinheiro para esse lixo impresso.
Se não desse não tínhamos direito a este postal formidável!
Excelentes transcrições de importantíssimos documentos, que ficarão registados para sempre como prova factual e fidedigna da maior traição e crime a que Portugal foi sujeito na sua longa e gloriosa História de Honra, Lealdade e Heroísmo.
Pela minha parte agradeço-lhe o tê-los publicado. E que muitos mais venham, tão oportunos quanto estes.
Tenho um comentário escrito há dias - aliás dois, um é sobre ortografia o outro é sobre Salazar e Caetano - a propósito dos posts que aqui deixou. Têm estado suspensos porque estou a tentar encurtá-los um pouco.
Maria
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