18.6.08

Breves notas sobre D. Duarte de Bragança

Para que não haja dúvidas, eis a primeira profissão de fé do sr. Duarte de Bragança na democracia, recém-chegado a Lisboa no dia 26 de Abril de 1974.

«Mensagem do Príncipe da Beira, D. Duarte Pio João de Bragança (1974)

Vivo intensamente este momento de transcendente importância para a Nação Portuguesa e julgo dever comunicar o meu pensamento na hora presente:
1. Dou o meu inteiro apoio ao Movimento das Forças Amadas e à Junta de Salvação Nacional, a minha plena adesão ao seu Programa, especialmente em ordem à instauração de uma verdadeira e consciente Democracia, saneamento da vida pública e solução do problema do Ultramar, no mais estrito respeito pelos inalienáveis direitos da pessoa humana.
2. Peço a todos os Portugueses que ponham todo o seu entusiasmo, energia e inteligência ao serviço da nova sociedade, fundada na liberdade e na participação, para a construção e defesa do bem comum.
3. Reitero o meu propósito de que o nome monárquico não seja utilizado em contradição com os princípios de dignidade da pessoa humana, justiça social, liberdade e pluralismo política, e participação de todos nas decisões, princípios que não podem ser ofendidos sem grave prejuízo para o viver do Povo Português e para o futuro da nossa Pátria comum.

Dom Duarte Pio João»


Mas o sr. Dom Pio continuou ao longo destes anos a porfiar com a sua crença na democracia e deixa-nos estes belíssimos testemunhos recolhidos nas entrevistas de Manuela Gonzaga, editadas em livro, com o título O Passado de Portugal no seu Futuro, 1995:

«Já houve quem dissesse que eu era uma espécie de Torre de Belém com fato e gravata. Pese embora o que haja nisto de irónico ou até anedótico, não há dúvida nenhuma que tem um fundo de verdade. Assim como são importantes para a imagem que temos da nossa Pátria a Torre de Belém, os Jerónimos ou a Batalha, assim o representante dos Reis de Portugal teria uma função análoga mas muito mais importante, global» (pp. 12-13).
«O que eu estou a dizer é que hoje neste final do século XX as monarquias têm de ser absolutamente democráticas» «é claro, pressuposto de tudo isto é a consagração destas ideias e concepções pela vontade popular» (p. 10).
«Durante muitos anos pensei que do movimento monárquico saísse uma redefinição clara da doutrina... Tenho de reconhecer que tal não aconteceu... Teria de ser eu a fazer esse trabalho... Teria de ser eu - (digo-o um pouco melancolicamente)...»; «porque mais ninguém saiu à estacada. Mas também me fui convencendo que fui eu por outra razão. É que havendo uma parte dos monárquicos ainda apegada às teorias autoritárias, outra que caminha para monarquia democrática e ainda muitos outros que vivem numa tremenda confusão ideológica, só eu teria autoridade suficiente para reafirmar uma revisão doutrinária» (p. 45).

Numa entrevista ao programa televisivo “Portugal no Coração” de Tânia Ribas de Oliveira e de João Baião em 11/12/2007, declarou:
«O Presidente da República tem sido um bom exemplo como um chefe de Estado tem de agir como um Rei. Referia-me, no caso concreto, do general Eanes e do dr. Mário Soares, mas sobretudo o general Eanes que definiu o seu mandato desta maneira: “eu tentei agir como um monarca constitucional".»

Foi, também, ao concurso televisivo 1,2,3, com a apresentadora Teresa Guilherme em que mais parecia a
Bota Botilde!
Querem mais?

No seu casamento, celebrado no Museu dos Jerónimos, com uma neta de um dos regicidas, Sr.ª D. Isabel de Herédia, convidou o presidente da república, Mário Soares e o Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano.
Foi, pelo menos, uma vez ao
Palácio Maçónico a convite do então Grão-Mestre da Maçonaria, António Arnaut. Por certo, para fazer as pazes com os regicidas/assassinos do Rei D. Carlos e do Príncipe D. Luís Filipe e até, quem sabe, receber alguma lembrança do seu tetravô, Pedro I, Imperador do Brasil e grão-mestre da maçonaria brasileira.
Patrocionou o vinho kosher da Adega Cooperativa da Covilhã pela Casa Real Portuguesa, se não me engano, Terras de Belmonte.
Para finalizar, o livro biográfico, da autoria de Mendo de Castro Henriques, "Dom Duarte e a Democracia", tem um prefácio de Manuel Alegre e um testemunho de Mário Soares, (re)conhecidos republicanos, socialistas e laicos.


E sobre o Senhor D. Duarte está tudo dito!

Nota:
Não trato o Senhor D. Duarte por Sua Alteza para não ferir as suas susceptibilidades republicano-democráticas.

3 comentários:

VERITATIS disse...

Caro Nonas, a questão que agora se coloca é quem sucederá ao actual interregno?

Um abraço.

nonas disse...

Não sabemos! Como em todos os tempos de crise, como este, o princípio monárquico, o Führerprinzip, há-de reincarnar em alguém que seja o verdadeiro chefe e fiel aos princípios.
Portanto, é coisa que não me preocupa. O Príncipio incarna em quem quer. logo não há que preocupar.

Joaquim M.ª Cymbron disse...

Rei para um povo, sempre aparece, embora por vezes seja difícil, como no presente se vê.

Agora, povo para um rei, isso já é outra música, que até hoje ninguém foi capaz de tocar!