10.1.07

António Sardinha e a democracia

«A democracia é, consequentemente, o regime das lutas internas permanentes, em que os argentários predominam com a corrupção arvorada em arma de triunfo.» (In Durante a Fogueira - Páginas de Guerra, Livraria Universal, Lisboa, 1927, pág. 103.).
«... A democracia é o estado inorgânico duma sociedade primária ou, na hipótese pior, a queda irremediável duma civilização já sem estímulo de vida...»
«... A democracia é uma forma inferior da vida colectiva, só natural nos povos em formação ou nas nacionalidades em decrepitude.» (In Na Feira dos Mitos - Ideias & Factos, 2.ª edição, Edições Gama, Lisboa, 1942, pág. 62.).
«... Quem diz democracia diz individualismo. Quem diz individualismo diz por sua vez burguesia e capitalismo...»
«... Apregoa-se, vai em século e meio, a soberania do povo e só descobrimos, ocupando-lhe o lugar, o capitalismo mais desaforado e mais omnipotente. É o oiro quem manda desbragadamente. Manda a agiotagem, como nunca. Reina a bancocracia...»
«Ora as democracias, desenvolvendo por um lado o arrivismo e por outro o amor do lucro, colocam o Estado ao alcance dos ambiciosos que o souberem conquistar como se liquidam em democracia as convulsões populares...»
«São as democracias impotentes, por pecado original, para solucionar a crise que geraram com o seu advento. O duelo do Trabalho com o Capitalismo testemunha-o claramente. A liberdade política é um embuste com que se desvirtuam e se sofismam as reclamações inalienáveis dos que produzem e nada conseguem. Não é de liberdade política que se trata. Trata-se mas é de liberdade económica. A liberdade económica, pela sua própria índole, é incompatível com os sistemas parlamentares, que importam, como consequência, as oligarquias políticas e financeiras que atiraram a Europa para a guerra e nela a mantém. É imperioso apear o Capital do seu poderio abusivo para o tornar num acessório dos dois factores que naturalmente o antecedem: — A Terra e a Produção. Exterminando a supremacia dos argentários e o cosmopolitismo da Alta Finança, a sociedade retomará, pela emancipação económica, o caminho perdido das antigas liberdades, cujo consistia somente num vigoroso espírito associativo...» (In Durante a Fogueira - Páginas de Guerra, Livraria Universal, Lisboa, 1927, págs. 87 e segts.).
«... Sendo contra os princípios funestos da Revolução Francesa, nós somos necessariamente contra a organização económica da sociedade moderna. O Trabalho e a Propriedade sofreram com a obra da revolução a influência duma nova ordem de coisas, donde deriva imediatamente a crise que a todos nos toca e que escurece o horizonte com tão cerradas interrogações. O proletário, que nós vemos enfeudado ao cortejo dos agitadores políticos, deve à democracia a sua situação miseranda; a desorganização individualista da revolução aboliu os quadros corporativos em que o Trabalho se protegia e defendia dos acasos da concorrência em que o trabalho deixou o produtor entregue ao arbítrio da plutocracia, que é sem dúvida a única e a verdadeira criação do espírito revolucionário. Enganam-se os humildes se nas promessas falaciosas do erro democrático supõem encontrar a realização das suas reivindicações justíssimas! Um século inteiro de experiências dolorosas mostra-nos que nunca a sorte das classes pobres pode ser tratada e minorada pelos governos saídos do voto, que são estruturalmente governos sujeitos, por defeito de origem, à venalidade e à corrupção.
A Propriedade e o Trabalho, constituindo a pedra angular da Família, constituem os alicerces inalienáveis da Nacionalidade. Cosmopolita, mais fácil de se furtar às suas responsabilidades sociais, o Capital precisa de ser restringir aos seus defeitos de relação entre a terra e o homem. Os desaforos do cambismo, envolvendo e universalizando a sociedade por meio da judiaria argentária, empurram-nos fatalmente para a dissolução do conceito supremo da Pátria. Impossibilitam por outro lado o operário de se hierarquizar como uma energia positiva e autónoma.
As democracias resultam daqui, agora e sempre, como as formas de governo mais aptas à supremacia da alta finança. São «Le pays de cocâgne rêvê par des financiers sans scrupules» como Georges Sorel as define. A instabilidade do poder nos governos electivos e a sua conquista pela corrupção eleitoral torna-os por natureza regimes abertos, como nenhuns outros, às imposições do Plutocratismo.» (In Durante a Fogueira - Páginas de Guerra, Livraria Universal, Lisboa, 1927, págs. 11 e segts.).
«... Já sabemos de há muito que a Plutocracia é uma das doenças congénitas dos regimes democráticos...» (In A Prol do Comum - Doutrina & História, Livraria Férin, Lisboa, 1934, pág. 47.).

1 comentário:

Nuno Adão disse...

Amigo nonas, vou tomar a liberdade de um deus, para, de certa forma, aliviar o pensamento de ab (se este me permite).
Existe uma definição para democracia, quase divina, de um autor que não direi o nome, para não dizer que o deus é...estava eu a dizer que essa definição diz o seguinte: "A democracia é o braço político do capitalismo".
Logo, ela só foi reactivada, após a tentativa falhada da Grécia, porque convém ao capital, nada mais...

Cumprimentos