«... De pé, olhos bem abertos, face ao Inimigo, unidos em bloco firme, os dentes cerrados, resistir, combater até à morte, na defesa do Património sagrado que herdamos, para, ao menos, salvarmos a honra do nosso nome. Descer as pontes da fortaleza - jamais!» Alfredo Pimenta, in Em Defesa da Portugalidade, p. 29, 1947.
26.8.07
Leitura semanal
O eclipse total do sol
Manlius:
Carlos Eduardo de Soveral
O nosso muito caro Amândio César
Cereal killers
As novas festas gualterianas
Os bufos
Eu não me carteio com essa gente
Como raio o Rodrigo foi implicado no caso MAN
Nova Frente:
Em nome do Pai, do filho e do Millenium BCP
Subsídios para a história do PNR
Workshops medievais
Doidos à solta
Reverentia:
Os transgénicos ceifeiros
Voz Portalegrense:
Crónica de nenhures
22.8.07
17.8.07
Poema de Rodrigo Emílio: S.O.Hess
Começa a haver nos teus desenhos
de prisão
— como calculas, tenho-os
aqui à mão —
a prece
de quem padece,
cada vez mais em maior grau...;
e uma espécie de S.O.S.
que me não parece
mau
enquanto dure e não cesse
o martírio que conhece
`inda agora Rudolf Hess,
nas masmorras de Spandau.
Rodrigo Emílio
In «Último Reduto», n. 8, Ano VI, Maio de 1988.
Pensamentos de Rudolf Hess
Preocupa-te em dominar a existência com o mesmo impulso férreo que é necessário para dominar a montada por uma pressão de joelhos. É possível que encontres dificuldades nisso e que a existência se encabrite como um cavalo voluntarioso… Mas a tua vontade poderá sempre mais, por pouco que te esforces.
Suportar a dor é difícil, mas viver sem dor significa, por outro lado, a eliminação do estímulo e, por falta da lei dos contrastes, igualmente a falta de alegria quando se alcançam os objectivos propostos.
Não pensar absolutamente nada, deixar-se levar pelos acontecimentos, é coisa que não consigo compreender.
Diante do que faz carreira está aquele que deve tudo ao seu carácter ascendente. Cumpre o seu dever sem parar a pensar no resultado que isso terá na sua carreira. Também pode cultivar a sociedade, se assim o deseja… mas nunca com o pensamento posto na carreira, antes e em primeiro lugar naquilo que serve.
O espírito é a premissa de toda a matéria, sendo o acto criador a origem do ser em qualquer forma.
Fazei sempre o melhor para não terdes que mudar nunca… Pelo menos, no que se refere ao espírito.
O homem tropeça na sua investigação com fronteiras que não são investigáveis, ou melhor dizendo, que escapam a qualquer investigação e que continuarão a escapar, mesmo que se consigam levar as fronteiras mais para lá. E é precisamente aí que começa o choque com o desconhecido — eternamente desconhecido — espírito… Espírito, no sentido de uma força espiritual.
Hess: Em Memória do Herói Silenciado
A prisão, durante quase meio século, de Rudolf Hess, colaborador e, mesmo, delfim do Führer do III Reich alemão, cujo crime foi tentar negociar em Inglaterra uma paz honrosa para a Europa, demonstra bem a ferocidade dos vencedores da II Guerra Mundial.
Voou, sozinho, em plena guerra, para a Grã-Bretanha, onde tinha amigos e era aguardado, com esperança, por algumas grandes figuras locais, para tentar um entendimento europeu. Não estava convencido de que a liquidação, sofismada, do rei Eduardo VIII era — como foi — o indício da completa vitória dos partidários da guerra, simbolizados por Winston Churchill, o qual findo o conflito, perante muitos milhões de mortos, foi capaz de escrever: «We have killed the wrong pig», referindo-se ao Chanceler Adolf Hitler. Recebeu, evidentemente, o prémio Nobel...
A recente morte de Hess, legendário protagonista de um importante acontecimento, apresentada — falsamente — como suicídio, não conseguiu os intentos de diminuir a sua grande figura. Não a poderão apagar da História. E o verdadeiro condicionalismo da sua viagem a Inglaterra, bem como as circunstâncias da sua morte, acabarão por ser conhecidos um dia.
Quisemos trazer, aqui, hoje, algumas poucas palavras de homenagem à memória do Herói, duplamente silenciado — pela prisão e pela morte — personificação de uma heroicidade aparentemente vã.
Mas o heroísmo nunca é vão, e disso também se deve dar testemunho.
In «Último Reduto», n. 8, Ano VI, Maio de 1988.
14.8.07
Carlos Eduardo de Soveral: testemunho de A. J. Brito
As minhas relações com Carlos Eduardo de Soveral datam de umas boas dezenas de anos, quando fui a Lisboa repetir, no Centro Nacional de Cultura, uma conferência que fizera em Coimbra sobre a “Essência da Monarquia”.
O ambiente era tenso. A maior parte dos assistentes, que se diziam “integralistas” (mas não o eram a sério), preparavam-se para me acolher do pior modo, embebidos como estavam dos absurdos preconceitos neo-liberais, personalistas, anti-totalitários, democrafizantes. Quando terminei a minha modesta palestra houve um silêncio. E foi, nessa altura, que Carlos Eduardo de Soveral se ergueu mostrando a sua concordância e aprovação.
Eu já lera trabalhos seus mas nunca travara conhecimento com ele. Só nessa altura é que o vi em carne y hueso como diria Unamuno. Nasceu, então, uma longa e duradoura amizade até ao trágico momento em que a morte o veio chamar (07-08-2007).
Carlos Eduardo de Soveral era dotado de raras qualidades. Poucos possuíam dotes tão intelectuais em tão elevado grau. Em primeiro lugar, dispunha de uma surpreendente eloquência natural e espontânea. Um empregado de restaurante ficava encantado a ouvi-lo (ainda há poucas semanas no Gambamar, no Porto, me perguntavam se ainda vivia aquele senhor com quem às vezes eu almoçava e que falava tão bem) e tanto quanto um aluno na Faculdade ou um escritor ou um colega docente. Um destes, apesar de ideologicamente nos antípodas, não deixava de aludir, várias vezes, ao brilho das suas lições, que escutara enquanto discente.
Depois, Carlos Eduardo de Soveral escrevia num estilo primoroso, de índole erudita e culta. Não há página dele que não ostente um toque de distinção e apuramento.
Neste triste rectângulo, em que é regra redigir mal, a começar pelo celebrado Prémio Nobel, Saramago, ficamos a dever a Soveral lições de bom e escorreito português, em poesia e prosa.
E que dizer do Saber que perpassa pelos seus cerca de trinta volumes? Carlos Eduardo de Soveral conhecia os nossos clássicos e os do país vizinho de modo aprofundado. Leitor em Barcelona, Salamanca e Santiago de Compostela, dominava primorosamente a cultura espanhola contemporânea, deixando-nos o seu testemunho acerca da mesma numa série de saborosíssimas crónicas com o pseudónimo de Jaume Lloset. A Psicologia, a Sociologia, as novas ciências, a História, a Filosofia eram-lhe familiares. Neste derradeiro domínio patenteava uma forte influência do Mestre Ortega y Gasset que tanto estimava, ainda que substituísse o rácio-vitalismo por um espiritualismo vitalista, de coloração católica.
Mas, acima de tudo isto, legou-nos a lição de um indefectível, intransigente patriotismo, pelo qual, hoje em dia, paga o preço costumado – a condenação a ser silenciado e ignorado.
Tendo começado a vida intelectual ao lado de alguns membros da chamada terceira geração do Integralismo (melhor seria dizer do ex-integralismo) Soveral, quando viu que aqueles estavam a alinhar com os que se dedicavam ao desmembramento da Nação, não hesitou em romper com eles. E esteve no 7 de Setembro, em Moçambique, no protesto contra os que queriam entregar essa nossa província ultramarina aos marxistas da Frelimo. Teve, depois do fracasso desse movimento de exilar-se para a África do Sul onde trabalhou manualmente para sustentar-se e aos seus. Quando conseguiu reformar-se – com uma bem modesta pensão – não quis mais viver no rectângulo anárquico a que os vencedores do 25A reduziram o que foi Portugal. E fixou-se, julgou que definitivamente, em Bayona, na Galiza. A desvalorização do escudo obrigou-o, a contagosto e com desgosto, a retornar a este canto da Ibéria, onde viveu uma existência de exilado do interior, tal como eu o sou, também. O que não quer dizer que se remetesse ao silêncio. Ao invés, continuou a repudiar a infâmia e a traição nos livros publicados por uma pequena editora, que resolveu acolhê-lo.
As grandes massas e os novos senhores, que as exploram, impudicamente, desconhecem os seus trabalhos, tão valiosos. Não importa, Soveral optara, firme e intolerantemente, pela fidelidade que era a sua honra. Por isso, o saudamos com o belo grito da Falange Española, que ele tanto admirava e amava: Carlos Eduardo de Soveral – presente!
Carlos Eduardo de Soveral: Missa de 7.º Dia
Carlos Eduardo de Soveral, Presente!
Ouvi falar pela primeira vez no seu nome a Rodrigo Emílio, numa das minhas idas a Parada de Gonta. Rodrigo informava-me que tinha recebido por correio o texto Maastricht – ainda hoje inédito – e perguntou-me se já tinha lido. Disse-lhe que desconhecia quem era Carlos Eduardo de Soveral. Rodrigo tinha ficado estarrecido com a minha resposta e depositou nas minhas mãos Maastricht para o ler sem que antes me desse uma imagem descritiva do saber de Carlos Eduardo de Soveral. Diante do meu ar de maravilhado face ao que ouvia, deu-me os contactos de Soveral e disse-me: «agora, chegou a hora de o conhecer.»
Foi o que fiz. Entrei em contacto com Carlos Eduardo de Soveral dizendo-lhe quem eu era e o que queria. Nada mais do que o texto Maastricht que viria a receber dias depois.
A partir dessa altura, nasceu com Carlos Eduardo de Soveral uma indestrutível Amizade e Camaradagem que se foram fortalecendo ao longo dos anos.
Os meus pedidos de envio de textos inéditos eram constantes. Como um Príncipe, Carlos Eduardo Soveral confiava-mos até que um dia lhe perguntei o que pensava fazer com tanta qualidade e quantidade de escritos. Respondeu-me que não sabia e que provavelmente só seriam editados postumamente se essa fosse a vontade da família. Contra-argumentei que isso era impensável, que os textos não podiam nem deviam ficar à espera da morte do autor cometendo-se assim um atentado contra a Cultura portuguesa e ofereci-me para lhe passar os textos ao computador o que prontamente agradeceu, se bem que dizendo com a sua grande humildade, que não valia a pena nem que tinha leitor que o apreciasse.
Foi assim que a Hugin Editores publicou cinco livros: «De ontem e de hoje» (2000), «Visão Indo-Europeia» (2001), «Dois Excursos Camoneanos» (2002), «Sete Relances para uma Antropologia da Expansão Portuguesa» (2004) e «Cinco Cartas de Espanha» (2005).
Graças, também, ao Mestre Soveral aprendi a escrever. A sua escrita era muito densa, trabalhada, logo de leitura nada fácil mas à qual me fui habituando a ler e a apreciar ao mesmo tempo que passava os textos para o computador.
Entretanto, procurava nos alfarrabistas obras da sua autoria, pedindo-lhe que os autografasse, tendo assim hoje toda a obra de Soveral autografada e dedicada pelo seu próprio punho.
Sempre que podia encontrava-me na sua casa de Cascais, na sua casa de Lisboa no bairro Campo de Ourique ou na casa da sua filha mais velha em Matosinhos – aqui, algumas vezes na companhia do Artur e do António Carlos Rangel. Já sabia ao que ia. Ia levar uma Lição de Cultura sobre os mais variados temas como História, Filosofia, Espiritualidade e Política.
Ouvi-lo era como ouvir a voz de um Deus e nisso, também nisso, o Rodrigo Emílio tinha toda a razão. Sabia de tudo, comentava tudo, rebatia tudo o que era Erro e pegando em livros da sua biblioteca dizia: «Meu filho, está aqui…» Era um portento de Saber e de Sabedoria. Como ele, só conheço outro: António José de Brito.
Tive a sorte de privar com ambos ao mesmo tempo sempre que era convidado – quer por um quer por outro – para os nossos almoços no Gambamar. Pela minha parte, eu nem falava. Só ouvia e comparava o saber destes dois mestres e amigos com quem aprendi muito. Sim, ouvia e aprendia.
Lembro-me, como se fosse hoje, da sua comovida chegada ao Palácio da Independência onde ia participar na homenagem do 50.º aniversário da morte de Alfredo Pimenta organizada pelo Prof. António José de Brito, no dia 29 de Novembro de 2000. Casualmente, eu e o Luís Fernandes estávamos no pátio a conversar e recebemo-lo e abraçando-o ao mesmo tempo dissemos: «bem regressado a esta sua casa! Soveral, muito comovido, agradeceu e respondeu-nos: «Esta também é a vossa casa, graças a Deus». Lembro que Soveral foi o membro n.º 139 da Mocidade Portuguesa e Comandante de Falange bem como que o Palácio dos Almada fora a sede nacional da Mocidade Portuguesa onde na sua qualidade de filiado passara anos da sua vida e que Luís Fernandes, também, fora filiado da Mocidade Portuguesa e Comandante de Bandeira.
Recordo-me bem da perturbação que lhe produziu a morte do Rodrigo Emílio, quem ele considerava um irmão. Não lhe dei a notícia directamente. Pedi à sua Mulher, a Senhora D. Leonor que lha transmitisse pois sabia que o ia abalar.
Dois dias depois, Soveral telefonou-me comovidamente a pedir-me pormenores sobre a morte do Rodrigo e mais tarde enviar-me-ia uma extraordinária carta para o nosso Rodrigo e que foi lida aquando da Sessão de Homenagem a Rodrigo Emílio realizada no Salão Nobre da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, no dia 18 de Fevereiro de 2006, data do 62.º aniversário do nascimento de Rodrigo Emílio.
Entretanto, já Soveral tinha enviado «umas breves palavras», em texto lido por Bruno Oliveira Santos no 2.º jantar de homenagem a Rodrigo Emílio e organizado pelo Bruno.
Deixou três livros inéditos: «À Margem... (Miscelânea de trechos – em sua grande maioria não publicados em livro – de uma quase vida literária. 1952-2002.)» e dois de poesia «Da Solidão e do Silêncio» e «Surto de Amor e Fundas Nostalgias». Espero ansiosamente que a Família dê a autorização para a sua edição, homenageando assim Carlos Eduardo de Soveral e a Cultura Portuguesa.
Carlos Eduardo de Soveral, Presente!
Biografia de Carlos Eduardo de Soveral
Muito intensa e plural actividade gimnodesportiva e paramilitar até depois dos 40 anos, com alguns resultados de primeiro plano. Várias prestações de serviço militar (Lisboa e Torres Novas, Castelo Branco e Elvas), como Oficial Miliciano de Cavalaria. Professor do 4.º Grupo (História, Filosofia e Organização Política) do Quadro Comum dos Liceus do Ultramar (Sá da Bandeira, Angola — onde leccionou Psicopedologia, cadeira por si criada, num Curso de Aperfeiçoamento do professorado primário). Regressado à Europa por graves motivos de saúde, e após algumas missões que lhe foram cometidas pelos Ministérios da Educação e do Ultramar, Leitor de Português, sucessivamente, nas Universidades de Salamanca, Barcelona e Santiago de Compostela, com a direcção, nesta última, do Instituto de Estudos Portugueses. (Em Santiago de Compostela foi, com os Professores Carlos Paris Amador e Carlos Alonso del Real, o organizador de três assaz importantes ciclos de conferências, sobre O pensamento marxista, sobre A Historiologia e sobre Descrença e homem actual.) Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em Florença, para o estudo da historiografia toscana dos séculos XIII e XIV. Subsecretário de Estado da Educação Nacional (Maio 61 a Dezembro 62). Professor-fundador da nova Faculdade de Letras da Universidade do Porto —, sobretudo entregue aos seus cursos originais de Historiologia e História da Cultura Clássica —. Director bancário. Largo exercício de conferencista em muitos pontos do País, especialmente Lisboa e Porto. Professor-fundador e primeiro Director da Faculdade de Letras da Universidade de Lourenço Marques, abrangendo as direcções do Centro de Estudos Sarmento Rodrigues e do Centro de Psicologia, afectos à mesma Faculdade. (Em Lourenço Marques teve sempre e simultaneamente a seu cargo as cadeiras de Sociologia Geral, História Geral da Educação e História da Cultura Clássica.) Um dos Professores convidados pela Real Academia de Jurisprudencia y Legislación para a efectuação do ciclo de conferências Presencia de Juristas Portugueses em Madrid (1971). No exílio em Pretória (África do Sul), após o 25 de Abril, onze anos funcionário dos Correios sul-africanos. Regressado à Península em fins de 85, passou quatro anos na Galiza (Bayona), principalmente absorvido por cuidados científicos (Ciências do Homem), com muito particular aprofundamento dum dos seus amores: as letras espanholas. Voltando a Portugal em Abril de 89, reatou, com muitas e mui rigorosas limitações, a relação com algumas das pessoas, e alguns dos temas e interesses, de que o estadual abandono do Ultramar o afastara, metendo-o num decisivo e perene exílio d`alma.
Nos últimos decénio tem vindo somando Poemas da Solidão e do Silêncio — metade elegia, metade libelo — que, tal como alguns milhares de páginas de epistolografia e notações de Diário, admite recebam publicação póstuma de seus Filhos e Amigos.
Membro-fundador da Secção Portuguesa da Sociedade Guillaume Budé, Membro-fundador da Secção Portuguesa do Comité Internacional para a Defesa da Civilização Cristã (com idas aos Congressos de Lucerna, Viena e Estoril), membro da Academia do Mediterrâneo, Residente de Honra dos Colégios Maiores São Clemente e Generalissimo Franco de Santiago de Compostela, Insígnia de Ouro do Real Aeroclube da mesma cidade, integrou a Comissão Executiva da Causa Monárquica por convite do então Lugar-Tenente do Senhor Dom Duarte de Bragança, Professor Doutor Guilherme Braga da Cruz. Fez parte da Acção Católica (J.U.C.), Conferências de São Vicente de Paula, Congregação de Nossa Senhora e Apostolado da Oração.
Nenhuma condecoração. Nenhuma homenagem. (...)»
Mais um adeus de Couto Viana
MAIS UM ADEUS
À memória de Carlos Eduardo de Soveral
Mais uma cruz no meu caminho.
Agora, a tua Poeta e Pensador.
Partes sozinho,
para o mais Alto e o Maior.
Folheaste, ciente, páginas da Existência
Com estudos profundos,
Onde é semente e flor a Inteligência
Dos cérebros fecundos.
Português,
Como os que o são,
Ouvi-te muita vez
Exaltar-nos a Alma e o Coração.
O Erudito, o Mestre, o Esteta,
Souberam bem gerir o seu talento.
Apenas o Poeta
Se ficou quase oculto, mas atento.
Carlos Eduardo:
Com que saudade aceno a despedida,
Daqui, onde inda sou e ardo
No fogo a esmaecer da vida!
E tardo,
Por não ser como tu,
Tão ágil na subida.
08.08.2007
(Inédito)
António Manuel Couto Viana
Poema de Rodrigo Emílio: soberano Soveral
SOBERANO
SOVERAL
A Portrait of the Artist, quando a bordo de uma das últimas nossas Naus Cat(a)rinetas…
***
«...chaque sentinelle est responsable de tout l`empire»
Antoine de Saint-Éxupéry (in «Terre des Hommes»).
Lembro-me de mim,
quando de Si me lembro,
envoltos no cetim sem fim
desse fim-de-Setembro...!
Galante era a galera,
o galeão
que a monção tinha, então, à nossa espera
(ou talvez não...)
, numa das quinas deste cais todo de pedra
onde, agora por agora, nada medra...,
onde apenas, hoje em dia, a perdição impera:
apenas ela, sim — a perdição...!
Galante era a galera (olá, se era!...),
galante, o mareante, e o galeão
que a viração
do fim-de-tarde madrepérola
desse fim de fim-de-Verão
ali assim pusera e depusera
(ou talvez não...)
à mão-de-semear da nossa mão...
Galante era a galera;
galharda, a guarnição
do galeão,
quando outra era a hora: outra, a era,
e outro, outro era
o capitão.
(Em que ano
e meridiano
isso foi, afinal...?
Qual o sacro oceano
que o viu — e me viu —, marcial
e ufano,
em pleno litoral vitoriano,
sacar do manual ao vendaval
e, face ao visual
semi-serrano
da costa do Natal,
reger concertos de areal
e piano
para monte e vale?!...
Qual deles terá sido, o oceano?
Qual foi, de todos eles? Qual foi ele...?
Qual
o que mais e melhor terá servido de pano
geral de fundo
a esse vago e já vetusto
postal
africano
de tantos de tal...?!
Ao colo
de que solo
tramontano,
ao mando
de que afã
imperial,
teve lugar o ritual
pretoriano
desse nosso mano-a-mano
tropical?...
Qual o marulho, a maré
que singra, ainda agora, à proa e à ré,
em todo o imemorial
meridiano
desse mar meridional...?
Em que ano
e oceano
foi isso tudo real?...
Quando, onde,
onde e quando...,
soberano
Soveral?!...)
Lembro-me de mim,
ao certo,
quando de Si — quando de Si me lembro,
envoltos no toldo de cetim
de certo fim-de-Setembro
reencoberto
— há perto de trinta anos reencoberto:
há mais ou menos cerca de trint`anos,
ou uma coisa assim...
(...Anos de cela penal,
anos de crime e castigo,
anos sobre anos de olvido e coval,
de campa e jazigo...
Anos atrás d`anos
que, a ambos,
nos saíram, por sinal,
todos bissextos...)
E o meu naval
Amigo
a compulsar oceanos,
a capitanear frotas
de textos,
a compilar cadernos de arquétipos,
de arcanos,
a coligir cardumes de náuseas e êxtases
marinhos,
a guarnecer de notas
e apontamentos
o torvelinho
sebástico de rotas
salmodiadas a solo, e a horas mortas,
sob o solfejo saturnal dos ventos...!
A convocar abadas de gaivotas,
magotes de golfinhos,
de gaivotas,
para linhas-de-rumo, as mais remotas,
e toda a apoteose de aposentos...
A desfiar e a desbravar caminhos,
entre abrigos de abismos e abóbadas...
A folhear, em livro, os firmamentos...
(À ogiva da vigia
surgia a cítara de Ovídio;
e, à medida que a ouvia,
ao ouvido,
a travessia
ganhava duplo sentido.
A lira da maresia,
essa, transida, tangia
um alígero resíduo
à nostalgia
de Hesíodo...
O porão
mirava a areia
como Jasão
a Medeia...)
E a viagem soma e segue: à imagem
da corrente,
soma e segue, chega e sobra.
Limo a limo, a aragem sopra,
solta ao vivo
a sua trova e dão semente
ao seu vagido
bicos-d`obra geográfica.
— Já, ao ritmo da Europa,
crava a gente lanças n`África!
Lembro-me de mim,
quando de Si me lembro,
envoltos no toldo de cetim
sem fim
de certo fim-de-Setembro...,
quando o ainda célere selim
de espaço e tempo
deixava correr a fio o seu marfim
(e o marfim, sem fim, do sotavento),
connosco a bordo do motim,
ambos lá dentro,
e Deus (e Odin) ao centro:
bem ao centro!
Onde, a esfera armilar,
o atávico plano,
o doirado armorial?...
Onde, o mar...? O alto-mar?!...
O mar-alto, a todo o pano...,
soberano
Soveral?!...
Onde, a trompa militar?
Onde, a harpa, onde o piano
desse cântico coral?...
Onde, a amurada, o palmar?
O anfiteatro sem par...?
Onde, o sopro lusitano...?
Onde, o Sonho, o sol, o sal?...
Onde, o bosque, o mastro, o hangar?...
Onde, a guerra de arreganho?
Onde, o sabre? Onde, o punhal?...
Onde, o ímpeto solar
do cheka, do veterano...?
Onde, o posto-de-comando?
Onde, a cruzada...? O graal...?
E onde, o mar...? O alto-mar?!...
O mar-alto, a cada canto...,
soberano
Soveral?!...
Aonde, voz que murmure,
diga à memória: «go back!»,
antes de me eu pôr, como outrora,
a fazer o tour
do deck,
até onde
— até lá onde
se entr`esconde
a chaise longue
que lhe ampara busto e torso,
dá, ao tronco, encosto
olímpico,
e faz realçar-lhe o rosto
que contracena, a gosto, com o Índico
e o sol-posto,
ao mesmo tempo que a aragem,
a que reagem
as marés,
toma o convés,
de abordagem,
cinge a si aquela imagem,
e vem prestar vassalagem,
render preito de homenagem
aos pés dos pés
dos seus pés...
É a um grande, grande plano,
quase sobrenatural
e datadinho d`antanho
— que me eu atenho,
como ao trecho de um mural,
toda a vez que o acompanho
ou lhe desenho,
a cada ponto cardial,
o seu oval
d`espartano,
soberano
Soveral!
Onde, a terra, a torre, o altar-
-mor das águas, com seu manto
de âmbar, nácar e cristal?...
Onde, os céus do Malabar,
o capim moçambicano...?
Onde, os morros do Transval?!...
Onde, o aro do olhar
à carta de marear...,
o alferes miliciano
tatuando o matagal?...
Onde, o cano a crepitar?
Onde, a cubata tribal?...
Onde, o epos secular,
catedral do ideal...!?
Onde, o arauto ariano
desse aroma arqui-naval...?!
E onde, o mar...? O alto-mar?!...
O mar-alto que eu reclamo...,
soberano
Soveral?!...
Rodrigo Emílio.
(Em Lisboa, aos 4 de Novembro de 1999, pelo aniversário natalício do dedicando, e no Porto, em dia de Ano-Novo, Novo Século e Novo Milénio. 1.º de Janeiro de 2001.).
Batalha de Aljubarrota
A crise de pensamento e de consciência que na passagem da primeira para a segunda dinastia atormentou os portugueses, os perigos que afrontaram, as fomes e pestes que sofreram, as lutas em que se empenharam só para manter o direito de não serem governados por outros e vincar a aspiração de continuar o seu rumo histórico sem sujeição a rei estrangeiro, gravaram para sempre Aljubarrota no espírito da Nação e fizeram desta data a verdadeira festa da independência.
Passaram sobre o acontecimento alguns séculos que não foram sempre de paz e concórdia na península.
Novas dificuldades de sucessão no trono português trouxeram o domínio dos Filipes e contra ele as longas guerras da restauração. Sobre estas mesmas também já passaram séculos. Era ridículo ter alimentado nos corações os rancores nascidos nas batalhas: por isso Aljubarrota, Atoleiros, Valverde, com três séculos mais tarde Montijo, Ameixial, as linhas de Elvas, Montes Claros são vitórias mas não já gritos de ódio, não são hoje contra ninguém, são para nós mesmos.
E parece que assim mesmo deveria ser.
Podemos orgulhar-nos de sermos na Europa o único país cujas fronteiras se podem dizer imutáveis desde há séculos; é, de facto curioso! Uma vez talhada pelos primeiros reis na faixa atlântica, nem mesmo se notou nunca a preocupação de alargar na península as fronteiras da Pátria. Ia noutra direcção a força expansiva da raça, o seu génio descobridor e de colonização: pelo Atlântico, pelo Índico se expandiu o povo português, descobriu as terras e os mares, abriu aos outros povos novos mundos, levando e deixando por toda a parte o traço característico da sua dominação — o humanitarismo da sua alma latina, o apostolado da sua civilização cristã.
Por outro lado, a Espanha seguiu também o seu curso, ora paralelo ora concorrente, ergueu a sua história no nível dos grandes heroísmos e façanhas, fez na América Central e do Sul, afora o Brasil, poderosas nações, filhas do seu sangue e do seu catolicismo. Não precisara de nós e só contra nós não pudera nunca ter razão.
Estamos em face de um imperativo histórico, contra o qual têm lutado debalde os derrotistas, os acomodatícios, os filósofos d`aquém e d`além fronteiras. Estes têm o direito de, raciocinando sobre abstracções, classificar de erro o que os séculos impuseram e a nossa vontade inabalável se sente obrigada a manter.
Como sempre esta vontade não é nem tem de ser a de todos ou cada um dos portugueses, mas a que se desentranha da massa da Nação. Antes e depois de Aljubarrota havia portugueses partidários do rei de Castela, e o próprio D. Nuno Álvares Pereira sentiria alanceado o coração de saber irmãos seus lutando pelo rei estrangeiro.
Em 1580, em 1640 também nos dividimos: membros do clero e da nobreza foram vítimas da dificuldade de ver claro em certos transes históricos, sobretudo se interesses elevados de qualquer ordem começam pesando na balança dos juízos, e a empecer as deliberações a que trazem em seu seio riscos da vida e da fortuna.
Mas os que, tendo à frente Álvaro Pais, quiseram que D. João, Mestre de Aviz, fosse proclamado «regedor e defensor do reino»; os que seguiram D. António, Prior do Crato; os que apoiaram e fizeram valer o grito dos fidalgos conspiradores da independência, em 1640, tiraram do seu mesmo desinteresse aquela clara visão do imperativo nacional que irresistivelmente os levou a esquecer a desproporção das forças e dos meios, os perigos da aventura e os benefícios que puderam usufruir de outras soluções.
Não há dúvida de que, homens de escol nas letras, na política, nas armas o guiaram para as resoluções e vitórias definitivas, mas é preciso crer, em face de tais exemplos, que o povo é pela simplicidade da sua alma e espontaneidade dos seus sentimentos, a fonte sempre viva do nosso nacionalismo.
Que importa que no presente momento histórico não seja igualmente vista por muitos a necessidade e grandeza da obra nacionalizadora em marcha, se o povo tem a intuição duma época decisiva da nossa vida e de que por este caminho se retoma o velho rumo da história pátria!?
Festa popular e festa de mocidade. Nuno Álvares tinha vinte e três anos quando da revolução em Lisboa, e 25 em Aljubarrota; D. João I, 25 ao ser proclamado defensor do reino e 27 na segunda daquelas datas. O estado maior do Condestável eram rapazes de pouca idade, com o espírito aventuroso e irrequieto dos jovens, insofridos nas pelejas, mas obedecendo cegamente ao chefe. Com estes se fez a campanha e se assegurou a independência de Portugal.
Hoje como então se exige espírito novo para fazer a revolução nacional o espírito novo é mais fácil encontrá-lo em novos que em velhos, ainda que haja velhos com mocidade de espírito e moços gastos por interesses e preocupações que não costumam ser da sua idade. É, porém, essencial que o espírito da mocidade seja por nós formado no sentido da vocação histórica de Portugal com os exemplos de que é fecunda a História, exemplos de sacrifício, patriotismo, desinteresse, abnegação, valentia, sentimento da dignidade própria, respeito absoluto pela alheia.
Facto cheio de ensinamentos é o comemorado hoje: homens que sirvam de exemplo para a nossa formação esses que, à volta de D. João I e do Condestável, maravilha não lhes tocaram nem os puderam diminuir. Sobretudo esse Condestável D. Nuno, depois Frei Nuno de Santa Maria, guerreiro e monge, chefe em maus anos seus bens pelos mesmos que derrotara em batalhas para que não mandassem na sua terra, erguido sua valentia no altar de Pátria como a Igreja o havia de erguer pelas suas virtudes nos altares da fé, cheio de honras e riquezas e enterrado em vida no Convento do Carmo, na dura estamenha de frade, quando depois de Ceuta lhe pareceu já não ser necessária a espada para defesa da Pátria, mas disposto de novo a vestir as armas se el-Rei de Castela a alguma vez tentasse invadir Portugal.
Por estes motivos os sítios de Aljubarrota e a Batalha devem ser os lugares de entre os eleitos para as grandes peregrinações patrióticas, e eu quisera que no próximo ano ali acorressem de todos os cantos de Portugal, milhares, centos de milhares de portugueses de hoje, sobretudo a juventude, para vivificar e robustecer ao calor dum passado heróico a sua devoção patriótica. E, visitados os campos da luta, entrariam, devotadamente na igreja do Convento da Batalha que, ao contrário da do Escurial de Filipe II, lúgubre e apropriada para as exéquias dum grande rei, é clara e triunfal, como se não fosse feita para a oração de todos os dias mas apenas para o solene Te Deum das grandes e magníficas vitórias.
Nunca passo ali, mesmo apertado pela estreiteza do tempo, que não me sinta obrigado a parar, a entrar e pisando a campa rasa do Rei de boa memória e parece ainda guardá-lo na morte, penetrar comovido na capela do Fundador. Aí se encontram os restos mortais de D. João I e da rainha D. Filipa de Lencastre, e à roda a «ínclita geração de altos infantes»; ali repousam os que consolidaram a independência de Portugal, se assentaram as bases da sua grandeza futura.
14 VIII 1935.
In A Voz, n.º 3048, págs. 1/8, 15.08.1935.
12.8.07
Miguel Torga visto por Rodrigo Emílio
Estava escrito que o nome de Miguel Torga sairia coberto de glória da duodécima Bienal Internacional da Poesia, com a conquista do Grande Prémio respectivo. A suprema distinção — que já em edições anteriores coroara o labor criador de poetas de primeiríssima grandeza, como Ungaretti, Saint-John Perse e Octavio Paz — foi agora outorgada a Miguel Torga (e a muito justo título, diga-se já), em Knokke-Heist, na Bélgica, por um júri composto de sumidades literárias, oriundas das mais diversas latitudes geográficas e das mais desencontradas procedências estéticas, e representando, ao todo, catorze nações. Portugal (digamos...) também esteve lá caído, com uma delegação chefiada por David Mourão-Ferreira, a quem assiste, de momento, a duvidosa honra de ser Secretário de Estado da Cultura deste dilacerado país, que é, hoje por hoje, o nosso.
Analista cultural dos mais categorizados que já produziu esta terra; espírito provido e apetrechado de recursos de erudição, e de cirurgia crítica, de insuplantável gabarito; e, também ele, poeta de vulto — em boa hora Mourão-Ferreira propôs a destino e defendeu (de resto, diga-se: nem sempre nos termos mais prestigiantes para Torga, e até mesmo para si próprio) a candidatura do homem de São Martinho de Anta a prémio de tamanha projecção. Quer-nos, de facto, parecer que muito mais valorosamente David Mourão-Ferreira teria advogado a causa do seu (e nosso) constituinte, se, no panegírico que dele traçou perante aquela assembleia de poetas de todo o mundo, o mesmo David se tivesse deixado de demagógicas alusões ao cativeiro que a pessoa e a obra do universal transmontano (afinal de contas, quase não) conheceram «sob o regime de Salazar», e tão-somente se limitasse a advertir a atenção dos presentes para um dos mais altos cumes de sempre da Poesia Portuguesa, que era de inteira justiça consagrar a nível mundial. Conjecturando. Há que admitir, no entanto, que alguma poderosa e ponderosa razão terá levado o Secretário de Estado da Cultura a cantar o batido e estafado «fado do grande e horrível crime», ante aquele auditório todo. Só se foi (a hipótese é muito de aventar) «para estrangeiro ouvir» e se condoer «do pobre poeta, coitado», e tomar tudo isso em linha de conta... Mas, se assim foi, bateu o proponente de Torga a porta errada, pois lindamente se sabe que o grande poeta — estruturalmente insubornável como é — rejeita argumentos desse género a seu favor. E depois, convenhamos que falar do Estado Novo como «de um sombrio período da (nossa) história contemporânea» — tal e qual o fez David Mourão, em Knokke-Heist — resulta tanto mais desavisado, quanto é certo que nunca a Pátria Portuguesa passou por dias de tão denso negrume histórico, e de tamanha cerração política, como actualmente!... E Torga sabe-o bem, e di-lo aí afoitamente, para quem queira ouvir.
Assim, não data propriamente do tempo da ditadura — e é sim, de Novembro do ano passado — o mais cruciante Lamento em verso que Torga já escreveu em dias da sua vida:
«Pátria sem rumo, minha voz parada / Diante do futuro! / Em que rosa-dos-ventos há um caminho / Português? / Um brumoso caminho / De inédita aventura, / Que o poeta, adivinho, / Veja com nitidez / Da gávea da loucura? Ah, Camões, que não sou afortunado! / Também desiludido / Mas ainda lembrado da epopeia / Mas ainda lembrado da epopeia! Ah meu povo traído, / Mansa colmeia / A que ninguém colhe o mel! / Ah, meu pobre corcel / Impaciente / Alado / E condenado / A choutar nesta praia do Ocidente!»
Por outro lado, também está longe de ser do tempo do fascismo — salvo erro, é só de sábado passado — o mais severo comentário em prosa que do seu punho saiu alguma vez sobre a realidade portuguesa de algum dia. Reportando-se, em termos tão implacáveis como lapidares, às empolgantes conquistas da revolução, dela nos dá Miguel Torga este aporrinhado panorama:
«(...) entre outras misérias, chegámos à da própria negação nacional. Por uma razão ou por outra, perdemos o ideal da Pátria, e todo os que sabemos ler nos envergonhamos intimamente de ser portugueses. Aberta ou encobertamente, todos sentimos desonra nos nossos feitos, nos nossos heróis, nas nossas tradições, nos nossos santos e nos nossos poetas. Nas nossas virtudes, e naqueles que as souberam encarnar assinaladamente. A Língua é um farrapo de interjeições e de verbos errados, que mais ninguém cultiva; a História, um acervo de ignomínias, que tentamos esquecer; os usos e costumes velharias que nem o sótão da lembrança merecem; nenhum valor especificadamente nosso nos parece digno de ser amado, e muito menos proclamado.
Ora, uma pátria é um território balizado por essas marcas étnicas, éticas, históricas, idiomáticas e sentimentais. É o espaço telúrico e moral, cultural e afectivo, onde cada natural se cumpre, humana e civicamente. Só nele a sua respiração é plena, o seu instinto sossega, a sua inteligência fulgura, o seu passado tem sentido e o seu presente tem futuro. Mais: apagada essa chama sagrada, apaga-se também em cada um de nós a vocação comunitária. Cada vizinho, de familiar passa a estranho, e de estranho a indesejável. É, porque ela se apagou, é ver como os elos que nos uniam se partiram, e nos encontramos divididos, activa e passivamente, inimigos dos amigos de ontem, e até de nós próprios».
«(...) desiludido / Mas ainda lembrado da epopeia» toda do seu Povo — «Povo traído» e, doravante, «condenado / A choutar nesta praia do Ocidente»: assim se exprime Miguel Torga nos gloriosos dias de vilipêndio que vão correndo!...
Paradoxalmente, datam do tempo da ditadura os livros de mais chamejante patriotismo, e de mais acendrada vibração lusíada, que Torga até hoje publicou — como seja, por exemplo, o caso desses adustos Poemas Ibéricos, em que assinaladamente se canta e evocadoramente se celebra, com inteira percepção heráldica e quinto-imperial, a nossa História Trágico-Telúrica, a nossa História Trágico-Marítima, e quantos Santos, Sábios, Soldados e Poetas nesta Península floresceram!...
«Orfeu rebelde»: hoje como ontem, e como sempre, «rebelde e desterrado» (e, contudo, ciente de que «No deserto do tempo atraiçoado, / Basta uma afirmação» como a sua), continua Torga a não ser o tartufo que muitos queriam que ele fosse, na mira de se apoderarem dele. Viril e arisco, recusa «apoderados». Não os tem. Nunca os teve. Não era agora que ia passar a tolerá-los!... Sobra-lhe em génio o que lhe falece em oportunismo. O que é raro — mais: o que é único! — na nossa esquerda intelectual...
E daí que Torga possa (e deva) passar por ser «o habitante da margem esquerda do rio das ideias» menos gratuito que temos por cá. Ainda mesmo quando se destempera e disparata — e disparata o seu bom pedaço, manda a verdade que se note —, é arrepanhado e derrancado de autenticidade que Torga se nos apresenta e endereça sempre. Assiste-lhe a violenta autenticidade de todo o ser marcadamente instintivo. É com o instinto — transmitido a uma prosa e a uma poesia de elevada temperatura temperamental — que nós sobretudo nos defrontamos, quando se trata de ler uma página de Torga. Mas o «instinto, fiel ao chouto da terra». Não outro.
«Meu canto, bafo da terra»... Bafo da terra, o seu canto percute, por sistema — como de resto, muito trecho em prosa —, «A lição virginal / Do natural, / Que é sempre o mesmo e sempre variado». Ou seja: a sempre reveladora lição, ministrada e prodigalizada nas aulas da natureza. «Li centenas de livros, e continuo a ler» — proclama ele. — «Mas é na cartilha da natureza que aprendo o que à minha inquietação mais importa».
Da natureza incessantemente aprendida e, mais do que aprendida, apreendida; da natureza, enquanto moldura cósmica onde sem fim contracenam «as mondas da morte e as replantações da vida»; da natureza, como tal, interiormente comungada «nos transes da sua perpétua agonia, morte e ressurreição»; da natureza grudada, em suma, à essência do verbo, nos fala Miguel Torga: «Falo da natureza, / E nas minhas palavras vou sentindo / A dureza das pedras, / O perfume das flores. / Digo, e tenho na voz / O mistério das coisas nomeadas, / Nem preciso de as ver. / Tanto as olhei, / Interroguei, / Analisei / E referi, outrora, / Que nos próprios sinais com que as marquei, / As reconheço, agora». Para ele, a própria conduta criadora do poeta deverá pautar-se em conformidade com o comportamento criador da natureza, e à sua imagem e semelhança: «Um poema, poeta! É o que a vida te pede. / (...) Junta à fecundidade / Da natureza / Os frutos da beleza / Versos grados e doces / Na festa do pomar. / Versos, como se fosses / Mais um ramo, a vergar».
Tema entre todos dilecto, assim se manifesta, em Torga, a natureza: com reiterada insistência a convoca a pleito, e sobre ela reflecte inesgotavelmente, com divagadora acuidade. Em dado livro, escreve: «Reajo, como posso, contra uma pedagogia que se esquece de acrescentar, às lições de quantas ciências ensina, que as aves cantam, que as águas sussurram, que só há um acto que o homem pode repetir eternamente com originalidade: olhar a natureza». É, aliás, nesta mesma ordem de ideias, que o poeta sustenta que «em Portugal» — e é de Portugal que sempre fala — «só há uma lide que não falha nunca: a que travam os olhos com a natureza do cimo de qualquer outeiro».
Impenitente andarilho e transeunte infatigável da terra portuguesa, constantemente o poeta nos leva «a transitar de paisagens», impregnando-nos do sortilégio perscrutado em cada uma. E, o que perante nós esplenderosamente avulta, é, afinal, toda uma surpreendente teoria de «pasmos panorâmicos», todo um supremo «rol de deslumbramentos», de demiurgicamente transposto da grafia telúrica para a do papel. Esta entrega apaixonada do poeta, este seu abandono absorvente ao conhecimento, fixação e explicação da natureza, obedecem, entretanto, a requintes de hierarquização, extremamente saborosos e perfeitamente definidos: «A minha aprendizagem da realidade pátria» — confia-nos Torga — «é lenta e descendente: comecei pelos monumentos, passei pelos habitantes, e agora vou na vegetação. Fica-me depois só a faltar o solo, que espero conhecer a fundo quando for enterrado nele...» Esta mesmíssima imagem, do mergulho do homem bem a prumo na intimidade do húmus; esta flageladora demanda do ventre e entranhas da terra-mãe, vem a ter, aliás, a sua glosa em verso corrido, quando o poeta, pateticamente, exclama: «Encho os olhos de terra. / No Alentejo há muita, e é de graça. / Dou-lhes esta fartura, / Antes que um só torrão, na sepultura, Os cegue e satisfaça».
A quem frequente Torga com assiduidade — e, mormente, a fieira de tomos do seu incomparável Diário —, já há-de ser familiar esta presença obsidiante da terra-chã como motivo de escavação constante. É que, na obra inteirinha deste orfeu rebelde, «A gente sobe a um monte, e, em vez de se aproximar do céu, chega-se mais à terra. Os êxtases, aqui, são de cima para baixo»: «(...) dessa altura / Que a alma atinge ao rés da sepultura». «Os meus arrebatamentos» confessa-nos o poeta — «processam-se ao nível do chão». De olhos no chão, é que ele, as mais das vezes, ensaia a descida às profundezas tenebrosas do subsolo anímico, a «Remover toda a sombra de que é feito», e de lá arranca «chispas de revelação»: «Desaterro a negrura. / E, quanto mais fundura, / Mais luz reluz no aço do enxadão!»
A atestar, ainda, o elevado grau de autenticidade que a este canto preside, cabe notar, por fim, que é logo à partida para cada poema, no próprio verso inicial da composição, que a voz de Torga desde logo patenteia «A força que faz dela um desafio»: «A fonte brota, e tem logo ao nascer / O ímpeto de um rio». Se liberta em prosa, tem essa mesma voz o condão de insinuar-se não menos poderosamente, na enxuta plenitude «da frase aparada até ao sabugo e ao mesmo tempo túmida de sentido».
Saudemos Torga, pois! Saudemo-lo daqui, nesta hora alta do seu destino pessoal, nesta hora amarga do nosso destino colectivo!...
In A Rua, n.º 24, pág. 21, 16.09.1976.
Miguel Torga, Manuel Maria Múrias e Rodrigo Emílio
Um rendez-vous anedótico mas verídico, saboroso como tudo e duplamente revelador, relatado por Rodrigo Emílio.
Está a fazer vint`anos que «o único jornal da Direita que não era — ou talvez fosse... — do Centro», saiu da massa dos impossíveis para o meio da rua.
Seu nome? «A Rua», precisamente.
O país tiritava, então, valentemente, de norte a sul, ainda mal-recomposto, mal-refeito do vivo pandemónio em que andara entre 74 e finais de 75.
Sob a égide empolgante do Manuel Maria Múrias — que transpusera, pouco antes, o «polígono» penitenciário de Caxias, de volta a casa, e ao ar livre, depois de quinze longos meses de ar condicionado e de discricionária e arbitrária reclusão —, o jornal depressa ganhou rosto, corpo, alma, volume e espaço próprios, e mais depressa ainda conquistou os elevados níveis e índices de audiência que se sabe.
Ao terceiro mês de existência, dá-se o advento de Torga no olho d`«A Rua», por iniciativa privada de mon stylo.
A direita cultural, intelectual e literária independente, a que me orgulho de pertencer, sempre teve um «fraquinho» declarado por dois grandes escritores indígenas que era suposto serem de esquerda ou a que ela se julgariam (erradamente) vinculados: Vergílio Ferreira, um deles; o outro, Torga.
O primeiro — há que frisá-lo — ficou a dever aos bancos e carteiras provinciais, e providenciais, do Seminário, que o respaldaram de ciência e sapiência desde menino e moço, aquela sublime aptidão linguística que está na base de toda a pura e inebriante música pensante em que plasmou o seu discurso criador, rubricando com ele uma escrita perfeitamente miraculosa, com a qual aprontará sucessiva obras-primas.
A «Manhã Submersa» não lhe terá sido, finalmente, tão submersa como isso, e antes «le matin profond» que o iniciou — que o internou a fundo, digo, no mágico e Sagrado Bosque das Letras, onde, ao depois, ensaiou o recitante Voos sobre voos de alto rasgo. E ele sabia-o — e não ia fora disso, toda a vez que lhe fazia alguém notar o avultado montante a que ascendia a dívida literária que contraíra ele com o Seminário, e que só o manto de beleza extasiante, que paramenta os seus «récits», e a milionária riqueza problemática — de teor estético ou de cariz metafísico — que os povoa, incorporada e questionada pelo autor em livros de suma densidade poética, e de asa musical transfiguradora, como o «Cântico Final» e outros — terão logrado saldar por inteiro.
Torga, esse, projectava-se à luz de uma outra galáxia, muito menos volátil e muito mais transitável, mas igualmente predestinada a sagrá-lo de grandeza — aos olhos da direita, e tudo...!
— Mas por que carga d`água é que a direita gosta tanto de mim? — perguntava, volta e meia, altamente intrigado, o poderoso poeta e «diarista».
A direita — e eu por mim falo: por mim e por ela — prezava, em Torga, antes, depois e acima de tudo, a sua visceral autenticidade de rapsodo de raça, e da Raça, e de aedo lusíada — que o era até à quinta casa...! —, e a qualidade e temperatura temperamental do seu protesto.
Por isso o gabei eu, de alto abaixo, nesses acetinados idos de Setembro de 76, nas colunas d`«A Rua», compondo, na circunstância, uma peça ensaística, de «tónus» polémico, que era um perfeito e acabado hino à mais corajosa, frontal e desassombrada fracção da sua obra.
(O texto, segundo julgo saber, colheu desde logo — e para sempre — o seu favor).
Ora, segue-se — e era aqui, e aqui mesmo, que eu, finalmente, queria chegar — que já depois de ter eu enaltecido o incomparável e adusto estilista de Trás-os-Montes (que não de Trás-os-Vales...), a bordo d`«A Rua», o director desta — ele, também, e também ele, figura emblemática, e exemplo galvanizador de tenacidade e de talento — adregou tirar uns curtos e merecidos diazinhos de férias, e calhou de ir gozá-los para o Vale do Mondego. (A família da senhora sua mulher, e minha senhora, é natural dali, me parece.).
Compadre Múrias pegou — e, agarrando a ocasião pela raiz dos cabelos, não resistiu à tentação de dar então uma saltada ao coração de Coimbra, e vá de apresentar-se no consultório de Torga, na qualidade (na «falta de qualidade» digo) de paciente, que andasse à cata de cura e remédio para males de ouvidos, nariz e garganta.
O otorrinolaringologista observou as «ventas» do polemista, e aviou-lhe a receita.
Manuel Maria Múrias deitou uma olhadela transversal à prescrição médica, e comentou:
— Terapêutica tradicional!
A conversa derivou, de caminho, para a porca de política.
Às tantas, exclama o Torga: — «Vocês, lá n`«A Rua», são brutos com`às casas! Aquilo é que tem sido malhar no gentio.»
— «Terapêutica tradicional!» — atalhou, de pronto, o Manuel Múrias.
E riram, em uníssono, os dois, a bom rir. Que não era o caso para menos, convenhamos.
Prouvera que o leitor destas laudas fizesse agora outro tanto... Já eu daria por cumprida, e bem cumprida, a função profiláctica das mesmas.
(Casa de São José, em Parada de Gonta,
na noite de 12 para 13 de Maio de 1996).
In Diário do Minho, 22.05.1996.
Pensamentos de Miguel Torga
na altura da representação de "Mar",
no Teatro D. Pedro V levada a efeito no dia 11.06.1987
Celebra-se hoje o centenário do nascimento do poeta Miguel Torga. Aqui vos deixo estes curtos pensamentos que fazem parte do seu Diário.
A política é para eles (os políticos) uma promoção e, para mim, uma aflição.
PORTUGAL NA CEE
... é o repúdio de um poeta português pela irresponsabilidade com que meia dúzia de contabilistas lhe alienaram a soberania (...) e Maastricht há-de ser uma nódoa indelével na memória da Europa.
REGIONALIZAÇÃO
o mundo a braços com o drama das diversidades e nós, que há oitocentos anos temos a unidade nacional no território, na língua, nos costumes e na religião, vamos desmioladamente destruí-la?
POEMA PÁTRIA – 1993
(...) Hoje
sei apenas gostar
duma nesga de terra
debruada de mar.
Miguel Torga
Leitura semanal
Velhas anedotas socialistas
Piadas inomináveis
Fascismo em Rede:
Amândio César
Novopress:
Entrevista da Legião Vertical
Manlius:
Receberam que se fartaram...
Pequena sonata para piano e pescoço
Nova Frente:
10.8.07
Amândio César e Tomaz de Figueiredo
Os interessados devem pedi-los para: casadasartes@cm-arcos-valdevez.pt
Está de parabéns a Câmara Municipal dos Arcos de Valdevez pelo seu extraordinário e difícil labor cultural em prol da Cultura portuguesa.
Amândio César: Poesia
À memória do Príncipe Junio Valerio Borghese
Eram centenas de braços
erguidos ao erguer da Hóstia.
Eram centenas de peitos
Sentindo a comunhão do Trigo.
Eram centenas de ouvidos
escutando uma homilia.
Eram joelhos em terra
enquanto o cálice se erguia.
Eram centenas de sedes
na comunhão das espécies
que o Capelão consagrava.
Presenças eram centenas
que ali estavam por vontade
de mostrar que o estar ali
era vontade jurada.
Pois ali se memorava
um Príncipe que estava ausente
porque o Santíssimo o chamara
prá direita de Deus Padre.
Era uma noite outonal,
no céu brilhavam estrelas.
Era uma noite outonal
que se abria nas janelas
com lumes que bruxuleavam
e simulavam estrelas.
Era uma noite outonal
escura como a noite escura
para que as estrelas brilhassem
enquanto os anjos brincavam
saltando nas pontas elas.
Era uma noite outonal
com gente que vigiava
a cor escura do céu,
mais o brilhar das estrelas,
mais as luzes que passavam
pelos brilhos das janelas...
No pórtico que se seguia
à entrada de pedras velhas;
nas escadas que ficavam
entre as naves e a rua
- uma Voz se fez ouvir,
uma Voz apregoou
a ausência sempre presente
d`Aquele a quem Deus chamou.
Eram novos, eram velhos,
eram mulheres, eram órfãos,
eram pobres, mutilados
que vinham de combater
combate que não cessou.
Todos ouviram a Voz
que na noite se alevantou;
todos sentiram no peito
o bater de um coração
que de tristeza sangrava;
uma prece ou um soluço
ante a ausência invocada
d`Aquele que não mais voltaria.
A vida triunfou da morte
e um canto alegre, vibrante,
que saiu das gargantas secas
quase enforcadas de angústia.
Cantava-se a Juventude,
saudava-se a Juventude,
beleza da Primavera,
naquela noite de Outono,
com estrelas que vigiavam
lá penduradas no alto...
de um Sete-Estrelo de sonho...
Ergueram-se braços ao céu
enquanto o canto subia
direitinho às nuvens;
ergueram-se olhos ao céu
enquanto as vozes sonoras
acordavam quem passava.
E as estrelas brilharam mais,
e mais janelas se abriram,
foram mais luzes brilhando
naquelas noite de Outono
que Primavera parecia.
Cara ao sol, então ali,
reais, com camisa nova
corpos e almas vibraram.
Cara ao sol peitos sentiram
que o cântico daquela hora
era uma prece profunda,
funda como um juramento.
Cara ao sol e coração
bem alto ao céus erguidos
estavam ali nessa hora
em que a Primavera volvia,
que era uma noite de Outono
com luzeiros e com estrelas.
E quando as vozes cessaram
e os braços que não estavam mais
erguidos para as estrelas,
TODOS se olharam bem,
frente a frente como irmãos.
E sentiram que o Ausente
que ali todos ajuntara
estava mais vivo que antes,
que antes de ter partido
prá mão direita de Deus.
Pois agora é que, despido,
de corpo que o fizera humano
é que se obrara o prodígio
de um milhar de homens diversos,
falando línguas diferentes,
terem estado nessa noite,
numa Igreja, àquela hora,
saudando todos aqueles
que antes tinham partido
na certeza de que a luta
só se vence se é merecida,
na angústia e no sacrifício
em que a Vida nada é.
Um a um foram-se ao Mundo,
centenas dali partiram:
e cada um foi contar
na terra da sua língua
o milagre daquela noite,
daquela noite sem par.
Era uma noite de Outono,
com estrelas e luzeiros,
tão bela e misteriosa
que parecia a Primavera
que acabava de chegar!
Madrid, 29.10.1974,
Depois da Missa por alma d`Ele.
Amândio César
In «País em Fuga», Edições A Rua, 1977, págs. 65/70.
Amândio César: 20 anos de saudade
Nasceu nos Arcos de Valdevez em 12 de Julho de 1921. Foi um dos mais lúcidos intelectuais da sua geração, como Poeta, Escritor e Jornalista, para além de Professor de carreira brilhante, após formatura em Ciências Histórico/Filosóficas na Universidade de Coimbra.Foi redactor do Diário Ilustrado, comentador da Televisão, crítico literário. Esteve ligado ao Diário Popular, ao Debate, à Rua, à Tribuna, à Emissora Nacional, à revista Resistência, ao Mundo, etc.
Escreveu dezenas de volumes, em prosa e verso, destacando-se “Parágrafos de Literatura Ultramarina” e “Novos Parágrafos de Literatura Ultramarina”, onde compendiou dezenas de autores que ainda hoje pontificam entre os melhores da cultura portuguesa.
Em 1975, em pleno Verão quente, teve de exilar-se em Vigo, Madrid e, mais tarde, no Brasil, onde viveu dificuldades financeiras e a ausência da Família e dos Amigos. No regresso publicou “País em Fuga – Poemas de um tempo que foi”, onde reflecte essa angústia e ingratidão nacional. Gastou a vida a cantar Portugal e os Portugueses que tão desprezivelmente o trataram.
Faleceu em Lisboa, em 10 de Agosto de 1987, com 67 anos de vida.
José Moreira, um dos seus maiores Amigos e confidentes, que em Braga dirigia a Pax e que sempre soube respeitar os valores que definem a natureza humana, assim como Couto Viana e os próprios filhos, com a colaboração, com a colaboração da Câmara Municipal dos Arcos de Valdevez, elaboraram um álbum biográfico, onde se reúnem elementos que transmitem às futuras gerações o que foi este Homem que hoje invocamos, a propósito dos 20 anos da sua morte. À sua beira, muitos dos heróis da modernidade que diariamente nos fazem rir de vergonha, não valem um chavo. Os media silenciaram, despoticamente, uma das vozes mais lúcidas da segunda metade do século XX.
O director de Poetas&Trovadores, que com ele tanto aprendeu ao longo de cerca de trinta anos de convivência literária (possuindo dele boa meia centena de cartas inéditas), expressa-lhe, aqui e agora, esta justa homenagem.
In jornal Poetas&Trovadores, n.º 41, Abril/Junho de 2007, pág. 3.
20 anos depois: Amândio César, Presente!
Conheci as suas vida e obras por mão própria - a poesia (Batuque de Guerra, Não posso dizer adeus às armas e País em fuga - Poemas de um tempo que foi, entre outras), a novela, o ensaio e não esquecendo a magnífica tradução da obra de Curzio Malaparte, Kaputt - e pela voz dos seus amigos de António José de Brito, de Rodrigo Emílio, Carlos Eduardo Soveral, António Manuel Couto Viana, Goulart Nogueira e Caetano de Mello Beirão.
Amândio César, Presente!
7.8.07
A colecção de discos de Hitler
Hitler já não é anti-semita?
Decidam-se de uma vez por todas!
Já desconfiava que Hitler ouvia discos com músicos judeus à sucapa no bunker e quase de certeza para que as SS e a Gestapo não ouvissem...
No Manlius: a história do M.P.P.
A minha passagem pelo MPP - 1
A minha passagem pelo MPP - 2
Para acabar com a história do MPP
Depois das histórias sobre Karl Wissemann e sobre o MPP que mais histórias tem o Manlius para contar? Não contando com as já prometidas histórias sobre o Amândio César...
6.8.07
O Diário de Hiroshima
"Este livro que gela e aterroriza..." - Associated Press.
"Este livro faz-vos descer num inferno dantesco. Descreve-nos cenas que, em horror, ultrapassam o que se tem visto sobre a Terra, no decurso da História!" - New York Mirror.
"O Diário de Hiroshima é um livro formidadável. É provavelmente a única testemunha ocular do bombardeamento de Hiroshima e das destruições que causou." - Joseph C. Crew (antigo embaixador dos Estado Unidos em Tóquio).
Pela minha parte, foi dos poucos livros que não acabei de ler dado o seu horror! É uma raridade bibliográfica.
Crime contra humanidade
Estava consumado mais um crime ritual. Um crime de guerra. Um verdadeiro crime contra a humanidade! Tudo em nome da liberdade, da democracia, da igualdade, da tolerância e dos direitos humanos!
Uma vez mais, a "superioridade moral da democracia" em acção!