As minhas relações com Carlos Eduardo de Soveral datam de umas boas dezenas de anos, quando fui a Lisboa repetir, no Centro Nacional de Cultura, uma conferência que fizera em Coimbra sobre a “Essência da Monarquia”.
O ambiente era tenso. A maior parte dos assistentes, que se diziam “integralistas” (mas não o eram a sério), preparavam-se para me acolher do pior modo, embebidos como estavam dos absurdos preconceitos neo-liberais, personalistas, anti-totalitários, democrafizantes. Quando terminei a minha modesta palestra houve um silêncio. E foi, nessa altura, que Carlos Eduardo de Soveral se ergueu mostrando a sua concordância e aprovação.
Eu já lera trabalhos seus mas nunca travara conhecimento com ele. Só nessa altura é que o vi em carne y hueso como diria Unamuno. Nasceu, então, uma longa e duradoura amizade até ao trágico momento em que a morte o veio chamar (07-08-2007).

Depois, Carlos Eduardo de Soveral escrevia num estilo primoroso, de índole erudita e culta. Não há página dele que não ostente um toque de distinção e apuramento.
Neste triste rectângulo, em que é regra redigir mal, a começar pelo celebrado Prémio Nobel, Saramago, ficamos a dever a Soveral lições de bom e escorreito português, em poesia e prosa.

E que dizer do Saber que perpassa pelos seus cerca de trinta volumes? Carlos Eduardo de Soveral conhecia os nossos clássicos e os do país vizinho de modo aprofundado. Leitor em Barcelona, Salamanca e Santiago de Compostela, dominava primorosamente a cultura espanhola contemporânea, deixando-nos o seu testemunho acerca da mesma numa série de saborosíssimas crónicas com o pseudónimo de Jaume Lloset. A Psicologia, a Sociologia, as novas ciências, a História, a Filosofia eram-lhe familiares. Neste derradeiro domínio patenteava uma forte influência do Mestre Ortega y Gasset que tanto estimava, ainda que substituísse o rácio-vitalismo por um espiritualismo vitalista, de coloração católica.
Mas, acima de tudo isto, legou-nos a lição de um indefectível, intransigente patriotismo, pelo qual, hoje em dia, paga o preço costumado – a condenação a ser silenciado e ignorado.

Tendo começado a vida intelectual ao lado de alguns membros da chamada terceira geração do Integralismo (melhor seria dizer do ex-integralismo) Soveral, quando viu que aqueles estavam a alinhar com os que se dedicavam ao desmembramento da Nação, não hesitou em romper com eles. E esteve no 7 de Setembro, em Moçambique, no protesto contra os que queriam entregar essa nossa província ultramarina aos marxistas da Frelimo. Teve, depois do fracasso desse movimento de exilar-se para a África do Sul onde trabalhou manualmente para sustentar-se e aos seus. Quando conseguiu reformar-se – com uma bem modesta pensão – não quis mais viver no rectângulo anárquico a que os vencedores do 25A reduziram o que foi Portugal. E fixou-se, julgou que definitivamente, em Bayona, na Galiza. A desvalorização do escudo obrigou-o, a contagosto e com desgosto, a retornar a este canto da Ibéria, onde viveu uma existência de exilado do interior, tal como eu o sou, também. O que não quer dizer que se remetesse ao silêncio. Ao invés, continuou a repudiar a infâmia e a traição nos livros publicados por uma pequena editora, que resolveu acolhê-lo.
As grandes massas e os novos senhores, que as exploram, impudicamente, desconhecem os seus trabalhos, tão valiosos. Não importa, Soveral optara, firme e intolerantemente, pela fidelidade que era a sua honra. Por isso, o saudamos com o belo grito da Falange Española, que ele tanto admirava e amava: Carlos Eduardo de Soveral – presente!
António José de Brito
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