
Ouvi falar pela primeira vez no seu nome a Rodrigo Emílio, numa das minhas idas a Parada de Gonta. Rodrigo informava-me que tinha recebido por correio o texto Maastricht – ainda hoje inédito – e perguntou-me se já tinha lido. Disse-lhe que desconhecia quem era Carlos Eduardo de Soveral. Rodrigo tinha ficado estarrecido com a minha resposta e depositou nas minhas mãos Maastricht para o ler sem que antes me desse uma imagem descritiva do saber de Carlos Eduardo de Soveral. Diante do meu ar de maravilhado face ao que ouvia, deu-me os contactos de Soveral e disse-me: «agora, chegou a hora de o conhecer.»

A partir dessa altura, nasceu com Carlos Eduardo de Soveral uma indestrutível Amizade e Camaradagem que se foram fortalecendo ao longo dos anos.
Os meus pedidos de envio de textos inéditos eram constantes. Como um Príncipe, Carlos Eduardo Soveral confiava-mos até que um dia lhe perguntei o que pensava fazer com tanta qualidade e quantidade de escritos. Respondeu-me que não sabia e que provavelmente só seriam editados postumamente se essa fosse a vontade da família. Contra-argumentei que isso era impensável, que os textos não podiam nem deviam ficar à espera da morte do autor cometendo-se assim um atentado contra a Cultura portuguesa e ofereci-me para lhe passar os textos ao computador o que prontamente agradeceu, se bem que dizendo com a sua grande humildade, que não valia a pena nem que tinha leitor que o apreciasse.
Foi assim que a Hugin Editores publicou cinco livros: «De ontem e de hoje» (2000), «Visão Indo-Europeia» (2001), «Dois Excursos Camoneanos» (2002), «Sete Relances para uma Antropologia da Expansão Portuguesa» (2004) e «Cinco Cartas de Espanha» (2005).
Graças, também, ao Mestre Soveral aprendi a escrever. A sua escrita era muito densa, trabalhada, logo de leitura nada fácil mas à qual me fui habituando a ler e a apreciar ao mesmo tempo que passava os textos para o computador.

Sempre que podia encontrava-me na sua casa de Cascais, na sua casa de Lisboa no bairro Campo de Ourique ou na casa da sua filha mais velha em Matosinhos – aqui, algumas vezes na companhia do Artur e do António Carlos Rangel. Já sabia ao que ia. Ia levar uma Lição de Cultura sobre os mais variados temas como História, Filosofia, Espiritualidade e Política.
Ouvi-lo era como ouvir a voz de um Deus e nisso, também nisso, o Rodrigo Emílio tinha toda a razão. Sabia de tudo, comentava tudo, rebatia tudo o que era Erro e pegando em livros da sua biblioteca dizia: «Meu filho, está aqui…» Era um portento de Saber e de Sabedoria. Como ele, só conheço outro: António José de Brito.
Tive a sorte de privar com ambos ao mesmo tempo sempre que era convidado – quer por um quer por outro – para os nossos almoços no Gambamar. Pela minha parte, eu nem falava. Só ouvia e comparava o saber destes dois mestres e amigos com quem aprendi muito. Sim, ouvia e aprendia.

Recordo-me bem da perturbação que lhe produziu a morte do Rodrigo Emílio, quem ele considerava um irmão. Não lhe dei a notícia directamente. Pedi à sua Mulher, a Senhora D. Leonor que lha transmitisse pois sabia que o ia abalar.
Dois dias depois, Soveral telefonou-me comovidamente a pedir-me pormenores sobre a morte do Rodrigo e mais tarde enviar-me-ia uma extraordinária carta para o nosso Rodrigo e que foi lida aquando da Sessão de Homenagem a Rodrigo Emílio realizada no Salão Nobre da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, no dia 18 de Fevereiro de 2006, data do 62.º aniversário do nascimento de Rodrigo Emílio.

Deixou três livros inéditos: «À Margem... (Miscelânea de trechos – em sua grande maioria não publicados em livro – de uma quase vida literária. 1952-2002.)» e dois de poesia «Da Solidão e do Silêncio» e «Surto de Amor e Fundas Nostalgias». Espero ansiosamente que a Família dê a autorização para a sua edição, homenageando assim Carlos Eduardo de Soveral e a Cultura Portuguesa.
Carlos Eduardo de Soveral, Presente!
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