26.10.10

Pensamentos de Alfredo Pimenta - XXIII

«Mussolini é (...) o homem poderoso que ergueu a Itália da Desonra e da Humilhação, e fez dela pedra forte e temida no xadrez do Mundo.
Ai, se a Espanha tem cumprido o seu dever de lealdade para com aquelas duas nações que superiormente a ajudaram na sua luta contra o Comunismo, e a guerra de 1939 a 1945 tem tomado o rumo que todos os críticos militares e comentadores políticos asseguram teria sido, nesse caso, o seu — a Itália seria, agora, o segundo Império da Europa, e não se contariam as estátuas erguidas ao Duce em todas as cidades italianas, e é possível que em todas as igrejas e catedrais da Península, nas orações em honra do Rei, figurasse também o nome do Duce...
Mas foi vencido e martirizado, vilipendiado e caluniado de tal maneira que se diria não se poder ultrapassar o horror do massacre e do vilipêndio, da injúria e da calúnia. Mas ultrapassamo-lo, quando o condenamos à expiação mais degradante — a do silêncio, que quase significa a sua não existência.
A obra de Mussolini em todos os domínios da vida colectiva italiana é vastíssima e profunda.
Dir-se-ia que Mussolini, empunhando arado gigantesco, lavrara de lés a lés a Campina romana, abrindo sulcos fundos como abismos, e largos como oceanos.
«(...) Mas penso (...) que maior do que tudo isso é a resolução da Questão Romana, espinho cravado no coração da Igreja e no coração da Itália.
Qualquer que seja a opinião que se tenha sobre a forma dessa resolução, ninguém pode negar que foi uma resolução que veio ao encontro de todo o mundo católico.
Os Acordos de Latrão são a pedra mais fulgida de toda a sua obra de Duce da Itália.
Ainda que não tivesse feito mais nada, nos vinte e um anos da sua vida política, os Acordos de Latrão seriam motivo bastante para que o seu nome ficasse para sempre esculpido na história da Igreja e da Itália.
«(...) Quem ouve os homens de hoje, os que sobreviveram à derrota da Europa e à vitória das Democracias; quem, amanhã, daqui a anos ou a séculos, ler os homens de hoje, terá que ou formar juízos candentes como brasas, ou concluir esta coisa estupenda: Mussolini nunca existiu!» (...) Mussolini (...) não deixa rasto, não se menciona, e enterra-se a mil braças de profundidade, e some-se sob Himalaias de silêncio.
Desgraçadamente não exagero. Os factos são os factos, e contra eles não há considerações que valham.
(...) Em 21 de Junho de 1921, em Montecitorio, uma voz, a do deputado nacionalista Rocco, diz que não lhe parece impossível um acordo entre a Itália e o Vaticano.
Mas era necessário que «a nação italiana se pusesse de pé, e fossem dispersos os resíduos demo-maçónicos, que a Maçonaria fosse quebrada, e as forças católicas restauradas», para que o acordo encontrasse o seu momento próprio. Era indispensável ainda mais alguma coisa. Era indispensável, para me servir da expressão eloquente do Pontífice Pio XI, que existisse «um homem como aquele que a Providência» pôs diante de si, «um homem sem as preocupações da escola liberal», para ele Pontífice poder «restituir Deus à Itália, e a Itália a Deus».
«(...) Mussolini preparara o ambiente: cedera a biblioteca do Palácio Chigi à Biblioteca Vaticana; restituíra o convento de Assis, restaurara o culto de dezenas de igrejas; fizera voltar muitos conventos ao poder das ordens religiosas; reconhecera títulos pontifícios; restabelecera o ensino católico nas escolas primárias; reimplantara o crucifixo nas escolas, nas repartições públicas e no Parlamento; instituíra capelães militares, e a assistência católica na Juventude e na Mocidade... Et j`en passe... E finalmente, promovera a reforma da legislação eclesiástica vigente, com a colaboração de três prelados romanos.»
«(...) Em 11 de Fevereiro de 1929, entre as onze da manhã e o meio-dia, no Palácio de Latrão, o Cardeal Gasparri e Mussolini assinavam três convenções que punham termo à Questão Romana.
Como é possível tentar-se arrancar isto da História? Como é possível pretender-se apagar isto da História? Como é possível defraudar-se a Verdade?
Dez anos depois, foi a guerra que as Democracias provocaram, procurando cercar, para as abafar, a Alemanha hitleriana e a Itália mussolínica.
Ao fim de cinco anos de luta, em que nem a Alemanha nem a Itália deram tudo quanto podiam dar, porque cedo começaram a sofrer as consequências da traição dos generais, na Alemanha, e da traição da Corte, na Itália, ao fim de cinco anos de luta, as Democracias venceram, morrendo Hitler sob os escombros da Chancelaria do Reich, morrendo Mussolini às mãos de agentes das Democracias.
Quatro anos depois, celebra-se em Roma, e no Vaticano, o vigésimo aniversário dos Acordos de Latrão.
Na manhã de 11 de Fevereiro de 1949, é recebido, no Vaticano, pelo Sumo Pontífice Pio XII, em audiência, «in Udienza solenne», o sr. De Gasperi, Presidente do Conselho da República italiana — liberal, democrática, maçónica e comunizante, que inscreveu na sua Constituição, por benevolência requintada dos comunistas, os Acordos de Latrão que tinham posto termo ao dissídio católico-italiano.
«(...) Na (...) Alocução de 13 de Fevereiro de 1929, o Papa Pio XI (...) que devia dizer que «fora nobremente secundado também pela outra parte». Esta outra parte que colaborara nobremente na resolução do dissídio era precisamente aquele homem despido dos preconceitos da escola liberal que o ajudara a restituir Deus à Itália e a Itália a Deus, e se chamou, em vida, e se chamará na eternidade da História, Benito Mussolini.
Como é que o Papa Pio XII celebra, e com toda a justiça, o nome de um dos autores dos Pactos de Latrão, e não tem sombra de palavra piedosa, humana e caritativa, para o outro, o que foi ignobilmente massacrado em Dongo por aqueles que levaram ao Poder Sua Excelência De Gasperi, Chefe do Governo italiano, que Sua Santidade recebeu em audiência solene?
Sempre quis acreditar que o Papa, mesmo em matéria política, saberia manter-se superior a paixões mesquinhas, a injustiças arrepiantes, a tentações que degradam. Temeu, porventura, Sua Santidade, ofender os ouvidos castamente democráticos do sr. De Gasperi, e do seu aliado o camarada Togliati, e do seu cúmplice o conde Sforza, pronunciando o nome do mártir do Dongo, que a Providência enviara a Pio XI, para que Deus voltasse à Itália, e a Itália voltasse a Deus? Receou, acaso, o Augusto Pontífice, irritar o herói democrático que caçou Mussolini e o executou cobardemente, miseravelmente?
Nem uma palavra, nem um pensamento! Nada. Mussolini nunca existiu! Os Acordos de Latrão foram única e exclusivamente obra de Pio XI. Ele os concebeu, ele os redigiu, ele os emendou, ele os promulgou, ele os impôs à Itália e à Catolicidade. Ele é o Pontífice de largas vistas e de coração magnânimo. Mussolini? Nunca existiu!
Nesse mesmo dia, em Roma, «nella chiesa di S. Ivo ala Sapienza», houve Missa Solene celebrada por Sua Eminência o Cardeal Pizzardo, para festejar o vigésimo aniversário da Conciliação.
Ao Evangelho, Sua Eminência falou aos assistentes, para lhes dizer que a Conciliação «é um dos maiores actos do grande Pontífice Pio XI que quis dar á sua queridíssima Pátria italiana a Paz de Cristo no Reino de Cristo». Para a alcançar, era necessária grande clareza de vistas e uma força de vontade verdadeiramente extraordinária. Ele conduziria «pessoalmente» as negociações, assumindo-lhes todas as responsabilidades. Não há nos Acordos de Latrão «uma linha, uma expressão, que não tenham sido objecto do seu estudo pessoal, da sua meditação, e principalmente das suas orações». Por fim, pediu aos presentes uma «oração pelo grande Pontífice, pelo Cardeal Gasparri, pelo advogado Pacelli, seus fiéis colaboradores».
Mussolini? Nunca existiu! E por isso nem um Padre Nosso e uma Avé-Maria pelo descanso da sua alma! Mas quando Roosevelt, maçon, filho da heresia luterana, cheio de preconceitos da escola liberal, morreu de morte natural, a Igreja deu-lhe as honras de exéquias solenes na Notre-Dame de Paris — contra as prescrições formais do Código Canónico! Para o pobre Mussolini, nem um Padre Nosso, Avé-Maria! É que sua Eminência o Cardeal Pizzardo nunca deu por ele, ao estudar a Conciliação!
No próprio dia 11 desse Fevereiro, o Osservatore Romano publicava extenso artigo sobre o acontecimento. Exposição histórica, na sua quase totalidade. Mas ao aproximar-se do fim, fala nos Acordos. Lembra o Pontífice Pio XI e... Francesco Pacelli.
Mussolini? Nunca existiu!
(...) Em 15 de Março de 1929, o Sacro Colégio, indo felicitar o Santo Padre pela assinatura dos Acordos de Latrão, louvando as suas disposições tão generosas e tão santas, enaltecera também as «disposições da Providência que servindo-se da alta sabedoria do eminente Chefe do Governo italiano e das nobres intenções do Augusto Soberano da Itália», permitiram esses Acordos.
E o Santo Padre, em resposta, confessava que as suas disposições tinham sido bem escolhidas «pelo Augusto Soberano da Itália e pelo seu Primeiro Ministro».
Então, Mussolini existia; Mussolini era gabado; Mussolini era lisonjeado. Então, Mussolini existia!
No primeiro telegrama expedido do Vaticano, depois de instituído o novo Estado, em 7 de Junho de 1929, dirigido a Victor Manuel, Pio XI não se esquecera de dizer que na benção que lhe enviava, e à Rainha, à Família Real, à Itália e ao Mundo, envolvia o seu «Real Plenipotenziario».
Então, Mussolini existia...
Agora...
Dir-se-ia que se adoptou como mot d`ordre sagrado, aquilo de Togliati, ao aprovar que se inserissem na Constituição da Itália os Acordos de Latrão, quando preconizava a substituição da «assinatura infamante do Fascismo que está no final daqueles Acordos, pela assinatura da República italiana».
Dir-se-ia que se pretende obedecer a esse mot d`ordre sinistro, — talvez por valer mais Togliati vivo, com os seus energúmenos, demagogos e bandidos, do que Mussolini morto, com a sua grandeza, o seu génio e a sua obra!
Não repugnou ao Osservatore Romano que se pudesse seguir a directriz de Togliati — e por isso escreveu que a Conciliação de 1929 não fora «obra de um regime político, mas de um governo italiano — reconhecido como os que o precederam».
Os governos que o precederam? Eram, na opinião de Pio XI, «os governos sectários ou submetidos ou enfeudados aos inimigos da Igreja, mesmo quando pessoalmente não eram talvez seus inimigos».
Dar-se-à o caso de que a ingratidão dos Papas seja maior do que a ingratidão dos Reis?
Pensava e dizia Crispi que «o maior homem de Estado da Itália seria aquele que resolvesse a Questão Romana».
Mussolini resolveu-a. E resolveu-a tão bem, que ninguém teve a coragem de tocar na sua solução; antes a enxertaram na Constituição da República.
Mas Togliati propõe que se apague do instrumento diplomático em que essa solução está exarada, a «assinatura infamante» de Mussolini. E no Vaticano, faz-se-lhe a vontade; e, ao solenizar-se o vigésimo aniversário da resolução do grande dissídio, fala-se em toda a gente, mas condena-se ao mais profundo silêncio o nome de Mussolini.
É sacrilégio.
Estas minhas palavras, sendo de respeitoso protesto contra este silêncio, e de indignada revolta contra a injustiça e a falta de caridade, são também de enternecida homenagem ao grande e esclarecido espírito que, durante vinte anos, governou a Itália — «domando a anarquia; restabelecendo a ordem; fazendo respeitar a Monarquia; fazendo respeitar a Monarquia; restaurando a Religião; desenvolvendo o poder militar, naval e aéreo; estimulando e amplificando a colonização; fomentando todas as actividades do país; transformando pântanos em cidades; descobrindo minas; indo ao encontro de todas as acções pessoais, de todas as obras intelectuais, morais, educativas; cuidando da Juventude»...(1)


Nota:

(1) - Do prefácio ao Testamento Político de Mussolini, pp. IX,XXIII, Edições Ressurgimento, Lisboa, 1949.

2 comentários:

Anónimo disse...

Lêem-se estas palavras sofridas e sentidas de A.P. e não podemos deixar de nos emocionar e simultâneamente deslumbrar pelo brilhantismo do seu pensamento, qualquer que seja a nossa orientação política.

O que nos faz sermos ainda maiores admiradores de tão ilustre intelectual, é o facto espantoso (ou talvez não) de que tudo o que ele presenciou, viveu e criticou com tanta aspereza e não menor acutilância, relativamente às democracias e às seitas que estão por detrás delas e que ele tão bem caracteriza, veio (e continua) a realizar-se, ponto por ponto, inexoràvelmente.

Concordo que o mundo democrático está cheio de políticos vigaristas, imprestáveis, mentirosos, criminosos e vendidos. Concordo ainda e acredito que tudo o que A.P. presenciou e descreveu, sem exagerar uma vírgula, é a pura verdade . Quanto às democracias do nosso tempo - cujos maiores defeitos A.P. apontou inteligentemente, um a um - basta observá-las, bem como a qualidade dos políticos que as dirigem e qualquer dúvida que ainda pudesse subsistir desvanecer-se-ia num segundo.

Figuras da dimensão intelectual e humana de A.P., hoje não haverá muitas e com o seu fervor patriótico, ainda menos (embora, verdade seja dita, as poucas que há valem o seu peso em ouro). E Portugal necessita delas urgentemente. As democracias já demonstraram o que valem e por tempo demasiado, isto é, nada. Salvo para os que dela se apropriaram e à sua custa e da exploração do povo se tornaram obscenamente podres de ricos.

Quanto ao "povo soberano", em nome do qual os grandes democratas se reclamam intrépidos defensores e representantes máximos, esse é sistemàticamente enganado e explorado até ao tutano, sem que se revolte. Porquê? Porque está a ser permanentemente anestesiado por políticos diabólicos que se fazem passar por anjos imaculados, sem que ele, povo, se aperceba por um instante sequer que está a ser lenta, subreptícia e implacàvelmente encaminhado para a escravidão total.

Parabéns por estas extraordinárias transcrições - sem esquecer todas as anteriores - que considero no mínimo históricas. E como tal hão-de ficar para a posteridade.
Maria

Anónimo disse...

Acabei de enviar um comentário sobre este histórico e simultâneamente pungente depoimento de A.P. - sem esquecer nenhum dos anteriores - e que, pelo valor intelectual e humano do seu autor e porque tudo o que escreveu é a mais pura das verdades, há-de ficar para a posteridade.

Parece que o comentário não chegou aí. Talvez o servidor ainda o envie...
Maria