25.4.07

Salazar: um poema de Alberto de Oliveira


SALAZAR


I

Tinhas de ser qual és, calado e triste,
Misterioso, ascético, tenaz,
Para reger um povo que da Paz
Há que tempos nem sabe se ela existe...

Já, com verbo fecundo e lança em riste,
Outros tentaram a missão falaz:
Mas, com promessas boas e obras más,
Maior caos nos fizeram, como viste.

Tu então, ao dilúvio das palavras
Opões barreira sólida, e entretanto
A gleba acordas, e em silêncio a lavras...

E eis logo o prado em flor, o oiro das messes!
Quem és tu, Salazar, ou mago ou santo,
Que assim nos ressuscitas e engrandeces?...

II

Na solitária cela, quantas vezes,
Em horas de incerteza natural,
A ti próprio dirás: Mas, afinal,
Que esperavam de mim os Portugueses?

Eram mudos e moles como reses
Passivos para o bem e para o mal,
Sem vontade, nem fé, nem ideal,
Sempre a temer desgraças e reveses...

Mas, de repente, alto clamor se eleva
No estagnado silêncio. É claridade,
Qual de Aleluia sucedendo à Treva.

São, renascentes da ancestral raiz,
Hostes da Legião, da Mocidade,
Novos cruzados com a cruz de Aviz!


III


Agora já se pode, já se deve,
Acreditar de novo em Portugal.
Deu-se o prodígio sobrenatural:
Outro sol derreteu a antiga neve!


É Deus que para nós direito escreve
Por árduas linhas, e que um Parsifal,
Puro, intangível, portador do Graal,
Manda a salvar-nos em futuro breve.

De tronco Salazar brotam milhares
De ignotos mas fecundos Salazares,
Cresce e floresce a Pátria ainda uma vez.

E, enjeitando as escuras profecias,
Digamos todos — como em longes dias —:
Que honra e glória nascer-se Português!


Alberto Oliveira
In «Poemas de Itália e outros poemas», págs.39/40/41, Empresa Nacional de Publicidade, 1939.

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