SALAZAR ENTREVISTO DO PAÍS DA INÉPCIA
Se no giro anual do tempo que passa há datas que ficam e que perduram — o 15 (e não o 11, nem tão-pouco o 16) de Março, o 27 e o 28 (e nunca por nunca o 25) de Abril são três dessas datas. O que significa que estão elas inscritas, de pedra e cal, e gravadas a caracteres inolvidáveis, no calendário de honra da nossa História. Pertencem, pois, e de pleno direito, ao número, extremamente dígito, dos dias permanecentes, e das efemérides nunca efémeras e sempre a assinalar, no eldorado temporal da Nação Portuguesa — do ponto em que fixam: uma delas, o aniversário da brutal eclosão do terrorismo armado antiportuguês, logo rechaçado «rapidamente e em força», a partir de Angola; e as outras, o nascimento humano de Salazar e o seu providencial nascimento político, respectivamente.
Já assim se compreende porque razão não pode a gente, em boa consciência transitar em claro ou deixar em branco essa tripla — e duradoura, e memorável — conjunção de marcos memoriais, nem tão-pouco passar por ela como gato por brasas, e muito menos como cão por vinha vindimada...
Quer-me entretanto parecer que a melhor maneira, que eu tenho, de consagratória e votivamente começar por manifestar-me, a respeito de Salazar, consiste em dar a conhecer o que sobre o mesmo Salazar se me ofereceu dizer, um anos depois da sua morte.
Em 1971, já eu, de facto, me não continha, que não fixasse, com tintas assaz carregadas e a traços bastantes sombrios — e, como pode ver-se, bastante proféticos — todo um avisado e preventivo perfil do grande estadista.
«Salazar — escrevia eu, por então que não devemos chorar, a menos que nos revelemos, algum dia, indignos dele. A indignidade consistiria em deixarmos que tivessem ido a enterrar com ele os pensamentos, palavras e obras de mais de oito lustros de mestrado esclarecido e empreendedor. Então, teríamos de chorá-lo, sim, e bem amargamente, ao vermos que se dissipara toda a acção desenvolvida por ele em 42 anos de cuidados, durante os quais tratou de nos pôr «diante de coisas tão sérias como sermos ou não sermos, cumprirmos ou não cumprirmos a nossa missão no Mundo».
A Nação foi o ponto de referência cardial de todos os seus actos e, como tal, o ponto de reencontro de Portugal com as mais lídimas directrizes do seu destino.
Sob a égide de Salazar foi que nós nos soerguemos do letargo histórico em que jazíamos prostrados desde o liberalismo, e foi que de novo nos fundámos como Nação e nos erigimos como Povo às culminâncias do que nos está cometido. Estátua a toda a estatura, Salazar foi o que se impunha que fosse: um homem à medida da Nação, e à altura das circunstâncias, ainda mesmo das mais melindrosas (ou sobretudo dessas); um estadista de génio que, por largo tempo ainda, nos resgatará de todos os governantes abaixo do comum que por aí surgiram...
Ao longo de quatro décadas e tal de chefia, todas as ocasiões lhe pareceram poucas para advertir contra «tempos em que a grande divisão, o inultrapassável abismo há-de ser entre os que servem a Pátria e os que a negam. Dir-se-ia que alguns países» — observava ele, de caminho «estão fatigados da sua existência como nações independentes». Ora, não nos incluamos nós nesse número, não nos penitenciemos nunca da nossa grandeza (além-mar projectada), e já não haverá motivo de maior para chorarmos Salazar, porque é sinal seguro de que o merecemos, e de que merecemos ter sido tudo aquilo que fomos enquanto ele foi, «uma grande e próspera Nação».
Hoje por hoje, estou realmente em crer que jamais a causa de um Povo, neste mundo de Cristo, terá sido advogada com tamanha lucidez e tamanha tenacidade, com tanta pertinência e tanta pertinácia, como a nossa o foi por Salazar. Cada vez mais disso me convenço. E, já agora, talvez convenha recordar, aos que andam mais esqueciditos, que foi com Salazar à frente que nós, portugueses, «subimos esforçadamente a encosta duma nova restauração», para, do alto dela, afinal, nos despenharmos, de novo — e de vez... Já assim se percebe de onde lhe vinha o medo, quando o glorioso Presidente outrora exprimia o seu «grande medo aos ideólogos que, afeitos às abstracções e concepções geométrica, pretendem refazer séculos de História nas suas mesas de trabalho».
Pretendem refazer século de História, e, as mais das vezes, acabam por desfazer séculos de História! Como se viu por cá...
Pela parte de leão que nesse calvário coube a Portugal, outros entretanto terão que responder — e nunca Salazar! Outros — que não ele... — faltaram à palavra dada aos mil juramentos feitos. Outros — que não ele... — foram vistos e achados nesta desalmada obra-prima de pulhíticos!...
Concretamente, e em última análise: é à negligência de algumas centenas de acéfalos e perjuros que há que assacar responsabilidades de primeiríssimo grau.
A exemplo de Salazar, é certo, também eu, pessoalmente, «creio (...) que a não integração efectiva da ideia imperial no conceito corrente da Nação Portuguesa encurtou a este País os horizontes a que deverá habituar-se e em que» devia «aspirar a viver». Pena foi, realmente, que cedo demais se tivesse banido, da nossa doutrinação de Defesa, a sempre exaltante defesa de Império: aquela mesma ideia de Império que, a seu tempo, «trouxe aos espíritos» — que como Salazar chegou de resto, a reconhecer — «uma noção de unidade e um sentimento optimista de grandeza, indispensáveis para estimular energias e arredar-nos da mornidão e tacanhez que», em seu mesmo entender, «ameaçavam continuar a estiolar» (e de facto, estiolaram mesmo...) «pensamento, planos e esforços».
Em todo o caso, e tal como alguém já um dia escreveu, uma coisa é certa e sabida: «Se, em 1961, o doutor Salazar se tivesse orientado no sentido do abandono do Ultramar, a oposição de então, hoje no Poder, e dita democrática, teria assumido, com galhardia, a defesa das ideias históricas da República, reclamando-se da sucessão do pensamento ultramarino de Afonso Costa e do general Norton de Matos. A decisão do doutor Salazar, «para Angola, rapidamente e em força», deu lugar a duas ordens de consequências: manteve as fronteiras portuguesas tradicionais e empurrou a oposição para uma situação antinacional, que para todo o sempre a há-de desautorizar, por mais instaladinha no Poder que possa estar...»
E daqui não há que sair — de quarenta em quarenta anos que seja!
Já assim se compreende porque razão não pode a gente, em boa consciência transitar em claro ou deixar em branco essa tripla — e duradoura, e memorável — conjunção de marcos memoriais, nem tão-pouco passar por ela como gato por brasas, e muito menos como cão por vinha vindimada...
Quer-me entretanto parecer que a melhor maneira, que eu tenho, de consagratória e votivamente começar por manifestar-me, a respeito de Salazar, consiste em dar a conhecer o que sobre o mesmo Salazar se me ofereceu dizer, um anos depois da sua morte.
Em 1971, já eu, de facto, me não continha, que não fixasse, com tintas assaz carregadas e a traços bastantes sombrios — e, como pode ver-se, bastante proféticos — todo um avisado e preventivo perfil do grande estadista.
«Salazar — escrevia eu, por então que não devemos chorar, a menos que nos revelemos, algum dia, indignos dele. A indignidade consistiria em deixarmos que tivessem ido a enterrar com ele os pensamentos, palavras e obras de mais de oito lustros de mestrado esclarecido e empreendedor. Então, teríamos de chorá-lo, sim, e bem amargamente, ao vermos que se dissipara toda a acção desenvolvida por ele em 42 anos de cuidados, durante os quais tratou de nos pôr «diante de coisas tão sérias como sermos ou não sermos, cumprirmos ou não cumprirmos a nossa missão no Mundo».
A Nação foi o ponto de referência cardial de todos os seus actos e, como tal, o ponto de reencontro de Portugal com as mais lídimas directrizes do seu destino.
Sob a égide de Salazar foi que nós nos soerguemos do letargo histórico em que jazíamos prostrados desde o liberalismo, e foi que de novo nos fundámos como Nação e nos erigimos como Povo às culminâncias do que nos está cometido. Estátua a toda a estatura, Salazar foi o que se impunha que fosse: um homem à medida da Nação, e à altura das circunstâncias, ainda mesmo das mais melindrosas (ou sobretudo dessas); um estadista de génio que, por largo tempo ainda, nos resgatará de todos os governantes abaixo do comum que por aí surgiram...
Ao longo de quatro décadas e tal de chefia, todas as ocasiões lhe pareceram poucas para advertir contra «tempos em que a grande divisão, o inultrapassável abismo há-de ser entre os que servem a Pátria e os que a negam. Dir-se-ia que alguns países» — observava ele, de caminho «estão fatigados da sua existência como nações independentes». Ora, não nos incluamos nós nesse número, não nos penitenciemos nunca da nossa grandeza (além-mar projectada), e já não haverá motivo de maior para chorarmos Salazar, porque é sinal seguro de que o merecemos, e de que merecemos ter sido tudo aquilo que fomos enquanto ele foi, «uma grande e próspera Nação».
Hoje por hoje, estou realmente em crer que jamais a causa de um Povo, neste mundo de Cristo, terá sido advogada com tamanha lucidez e tamanha tenacidade, com tanta pertinência e tanta pertinácia, como a nossa o foi por Salazar. Cada vez mais disso me convenço. E, já agora, talvez convenha recordar, aos que andam mais esqueciditos, que foi com Salazar à frente que nós, portugueses, «subimos esforçadamente a encosta duma nova restauração», para, do alto dela, afinal, nos despenharmos, de novo — e de vez... Já assim se percebe de onde lhe vinha o medo, quando o glorioso Presidente outrora exprimia o seu «grande medo aos ideólogos que, afeitos às abstracções e concepções geométrica, pretendem refazer séculos de História nas suas mesas de trabalho».
Pretendem refazer século de História, e, as mais das vezes, acabam por desfazer séculos de História! Como se viu por cá...
Pela parte de leão que nesse calvário coube a Portugal, outros entretanto terão que responder — e nunca Salazar! Outros — que não ele... — faltaram à palavra dada aos mil juramentos feitos. Outros — que não ele... — foram vistos e achados nesta desalmada obra-prima de pulhíticos!...
Concretamente, e em última análise: é à negligência de algumas centenas de acéfalos e perjuros que há que assacar responsabilidades de primeiríssimo grau.
A exemplo de Salazar, é certo, também eu, pessoalmente, «creio (...) que a não integração efectiva da ideia imperial no conceito corrente da Nação Portuguesa encurtou a este País os horizontes a que deverá habituar-se e em que» devia «aspirar a viver». Pena foi, realmente, que cedo demais se tivesse banido, da nossa doutrinação de Defesa, a sempre exaltante defesa de Império: aquela mesma ideia de Império que, a seu tempo, «trouxe aos espíritos» — que como Salazar chegou de resto, a reconhecer — «uma noção de unidade e um sentimento optimista de grandeza, indispensáveis para estimular energias e arredar-nos da mornidão e tacanhez que», em seu mesmo entender, «ameaçavam continuar a estiolar» (e de facto, estiolaram mesmo...) «pensamento, planos e esforços».
Em todo o caso, e tal como alguém já um dia escreveu, uma coisa é certa e sabida: «Se, em 1961, o doutor Salazar se tivesse orientado no sentido do abandono do Ultramar, a oposição de então, hoje no Poder, e dita democrática, teria assumido, com galhardia, a defesa das ideias históricas da República, reclamando-se da sucessão do pensamento ultramarino de Afonso Costa e do general Norton de Matos. A decisão do doutor Salazar, «para Angola, rapidamente e em força», deu lugar a duas ordens de consequências: manteve as fronteiras portuguesas tradicionais e empurrou a oposição para uma situação antinacional, que para todo o sempre a há-de desautorizar, por mais instaladinha no Poder que possa estar...»
E daqui não há que sair — de quarenta em quarenta anos que seja!
Rodrigo Emílio
In A Rua, n.º 57, pág. 10, 05~.05.1977.
In A Rua, n.º 57, pág. 10, 05~.05.1977.
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