«...Em relação à crise de Democracia, o sr. Cambó começa por dizer que o regime parlamentar não é no fundo mais do que uma modalidade, um sistema para que o governo do povo pelo povo seja uma realidade. O sr. Cambó ainda vai aqui. Mas eu perdoo-lhe o abuso, pelo que afirma a seguir: que na maior parte dos países que o tinham instaurado, só funcionava, não funcionando, isto é, falseando todo o processo, desde as eleições até o exercício das funções fiscalizadoras e legislativas do Parlamento. Tenho ensinado sempre que o Parlamento é tanto melhor, tanto mais aceitável, quanto mais falsear a sua doutrina.
Eu não aludo à crise do Parlamentarismo, quero significar a sua impotência para servir a Nação; não quero, com as minhas palavras, dizer que ele estava sendo adulterado. Antes pelo contrário. O Parlamentarismo puro, livre de qualquer mancha de falsificação, é o regime do «ninguém se entende». Esse governo do povo pelo povo, enquanto é mentira ainda passa; mas se querem dar foros de verdade a essa inépcia, é o caos!»(1)
«... Esperar que uma multidão já de si inferior e mais inferiorizada ainda pela sugestão de meneurs sem ciência e consciência, fazendo do surencherismo processo sistemático de propaganda, esperar que essa multidão pervertida e desorientada possa escolher figuras superiores para a alta e grave função de legislar que requer não só um positivo conhecimento da Ciência Social, mas também uma ponderação, uma reflexão, um critério que só em raras criaturas se encontra, é uma ilusão tolerável aqui há um século, absolutamente démodée nos tempos de hoje. Não são os incompetentes quem está apto a escolher os competentes. Isso é a subversão da ordem, nos seus mais fundamentais elementos. E essa situação ilógica, só a instituição parlamentar podia consagrá-la. Não são aqueles que precisam de quem os dirija que estão em condições de escolher quem melhor possa executar essas funções dirigentes. Isto é óbvio. A interferência dos cidadãos na vida pública do seu país deve, pois, efectuar-se no exercício da vida municipal, deixando as superiores funções de direcção central e geral a uma restrita e fechada categoria de cidadãos, isto é aos elementos representativos das corporações espirituais, morais e activas. Tudo quanto seja contribuir para uma mais perfeita hierarquização - é contribuir para o progresso social, para o progresso da civilização. Nivelar, confundir, é estagnar. E se há prova concludente das consequências nefastas da pantanização (deixem passar o tempo!) do meio social - é a instituição parlamentar.
A corrupção dos costumes políticos deve-se principalmente, às exigências das necessidades eleitorais.
Só é forte um governo que não precise de andar a transigir com as flutuações da opinião, isto é um governo que em vez de governado, tenha por missão governar, isto é canalizar, aproveitar, dominar. A opinião é instável. Governos instáveis são governos estéreis. A opinião parlamentar, quando não é uma mentirosa aparência, é a imagem da opinião das ruas. Instável, estéril, anárquica como ela.»(2)
Eu não aludo à crise do Parlamentarismo, quero significar a sua impotência para servir a Nação; não quero, com as minhas palavras, dizer que ele estava sendo adulterado. Antes pelo contrário. O Parlamentarismo puro, livre de qualquer mancha de falsificação, é o regime do «ninguém se entende». Esse governo do povo pelo povo, enquanto é mentira ainda passa; mas se querem dar foros de verdade a essa inépcia, é o caos!»(1)
«... Esperar que uma multidão já de si inferior e mais inferiorizada ainda pela sugestão de meneurs sem ciência e consciência, fazendo do surencherismo processo sistemático de propaganda, esperar que essa multidão pervertida e desorientada possa escolher figuras superiores para a alta e grave função de legislar que requer não só um positivo conhecimento da Ciência Social, mas também uma ponderação, uma reflexão, um critério que só em raras criaturas se encontra, é uma ilusão tolerável aqui há um século, absolutamente démodée nos tempos de hoje. Não são os incompetentes quem está apto a escolher os competentes. Isso é a subversão da ordem, nos seus mais fundamentais elementos. E essa situação ilógica, só a instituição parlamentar podia consagrá-la. Não são aqueles que precisam de quem os dirija que estão em condições de escolher quem melhor possa executar essas funções dirigentes. Isto é óbvio. A interferência dos cidadãos na vida pública do seu país deve, pois, efectuar-se no exercício da vida municipal, deixando as superiores funções de direcção central e geral a uma restrita e fechada categoria de cidadãos, isto é aos elementos representativos das corporações espirituais, morais e activas. Tudo quanto seja contribuir para uma mais perfeita hierarquização - é contribuir para o progresso social, para o progresso da civilização. Nivelar, confundir, é estagnar. E se há prova concludente das consequências nefastas da pantanização (deixem passar o tempo!) do meio social - é a instituição parlamentar.
A corrupção dos costumes políticos deve-se principalmente, às exigências das necessidades eleitorais.
Só é forte um governo que não precise de andar a transigir com as flutuações da opinião, isto é um governo que em vez de governado, tenha por missão governar, isto é canalizar, aproveitar, dominar. A opinião é instável. Governos instáveis são governos estéreis. A opinião parlamentar, quando não é uma mentirosa aparência, é a imagem da opinião das ruas. Instável, estéril, anárquica como ela.»(2)
Notas:
(1) - In O Livro do Sr. Cambó, in «A Voz», n.º 1004, p. 3, 23.11.1929.
(2) - In Parlamentarismo, in «Nação Portuguesa», n.º 3, p. 71, 1914.
(2) - In Parlamentarismo, in «Nação Portuguesa», n.º 3, p. 71, 1914.
1 comentário:
"A corrupção dos costumes políticos deve-se principalmente às exigências das necessidades eleitorais" A.P.
...
"Governos instáveis são governos estéreis. A opinião parlamentar, quando não é uma mentirosa aparência, é a imagem da opinião das ruas. Instável, estéril, anárquica como ela". A.P.
Estas palavras de A.P. são tão verdadeiras e tão actuais e não obstante foram passadas ao papel há tantas décadas e relativas a outros tempos e outras políticas. Porém retratam à perfeição a deplorável democracia que somos obrigados a suportar há quase quatro décadas. Elas são a imagem fiel dos políticos existentes desde Abril de 74: corruptos e mentirosos; e da política por eles praticada desde então: instável, estéril e anárquica.
Alfredo Pimenta descreveu preto no branco a génese de todas as democracias - de todos os tempos - na sua verdadeira dimensão.
Maria
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