No fim de semana passado li uma interessante entrevista-promoção a Rui Araújo, o autor de O Diário Secreto que Salazar não leu, publicada pela Notícias Sábado (pp. 22/26, 27.09.2008) sobre os agentes secretos portugueses ao serviço dos serviços secretos alemães na Segunda Guerra Mundial. O livro é baseado nos 12 volumes diários secretos do director da contraespionagem inglesa, Guy Lidell do MI5 bem como nos arquivos da CIA, da PVDE, Arquivos da Marinha e militares.
Da referida entrevista destaco as seguintes passagens:
“- Teve 40 anos de espionagem… É desmiolado imaginar hoje que haja em Lisboa (e arredores) pontos de encontro de alta espionagem, secretas e organizações mafiosas ou terroristas?
Acontece aqui como noutros países. Hoje, no plano exclusivo dos serviços portugueses, parece-me um panorama preocupante. Terrorismo? Desde o terrorismo à portuguesa, assaz peculiar, não houve senão um ou dois casos, incluindo o do palestiniano Issam Sartawi, dirigente da OLP que foi assassinado no Algarve, em que houve de facto uma acção. A violência dá jeito a muita gente neste momento. O mensageiro não me parece ser o mais preocupante. É importante saber quem beneficia desta violência. E o porquê.
- Nunca teve vontade de ser espião, alistar-se nas secretas?
Fui convidado para trabalhar num serviço de informações e recusei. Se me convidaram sabendo quem eu sou cometeram o primeiro erro amador. Já deviam saber que eu recusaria. Ao contrário de algumas jornalistas famosas e no activo que têm um pé nas secretas. Disse jornalistas.
- Quem?
Prefiro não dizer.
- Como encara o panorama da imprensa portuguesa actual?
O panorama é preocupante, mas num país onde nenhuma instituição funciona, não há razão para a imprensa ser a excepção. A informação é, hoje, uma mercadoria como as outras, promovida como tal. É lamentável. A demissão e a resignação dos jornalistas acabarão, inevitavelmente, por destruir a frágil relação de confiança com o público. A credibilidade passa pelo profissionalismo e a promoção de uma cultura de cidadania. Creio que a nossa primeira obrigação devia ser a procura da verdade, reportando-a com factos, rigor, contexto e um tratamento equilibrado. Isso não sucede muitas vezes. E a culpa não é só dos patrões dos grandes grupos…
- Revê-se na expressão do seu amigo Miguel Sousa Tavares de que atravessamos «um cataclismo de consequências imprevisíveis»?
Sim, independentemente de ser amigo do Miguel. E de não ser fatalista. Aquilo que está em causa é a própria democracia. Em Portugal, como em muitos outros países ocidentais, os objectivos financeiros dos grupos de imprensa sobrepõem-se frequentemente ao interesse público…"
Nota: o sr. Rui Araújo não refere as FP/25 de Abril no terrorismo à portuguesa que foi crime de sangue.
Estranha-se o silêncio do Sindicato dos Jornalistas face a estas gravosas declarações.
Da referida entrevista destaco as seguintes passagens:
“- Teve 40 anos de espionagem… É desmiolado imaginar hoje que haja em Lisboa (e arredores) pontos de encontro de alta espionagem, secretas e organizações mafiosas ou terroristas?
Acontece aqui como noutros países. Hoje, no plano exclusivo dos serviços portugueses, parece-me um panorama preocupante. Terrorismo? Desde o terrorismo à portuguesa, assaz peculiar, não houve senão um ou dois casos, incluindo o do palestiniano Issam Sartawi, dirigente da OLP que foi assassinado no Algarve, em que houve de facto uma acção. A violência dá jeito a muita gente neste momento. O mensageiro não me parece ser o mais preocupante. É importante saber quem beneficia desta violência. E o porquê.
- Nunca teve vontade de ser espião, alistar-se nas secretas?
Fui convidado para trabalhar num serviço de informações e recusei. Se me convidaram sabendo quem eu sou cometeram o primeiro erro amador. Já deviam saber que eu recusaria. Ao contrário de algumas jornalistas famosas e no activo que têm um pé nas secretas. Disse jornalistas.
- Quem?
Prefiro não dizer.
- Como encara o panorama da imprensa portuguesa actual?
O panorama é preocupante, mas num país onde nenhuma instituição funciona, não há razão para a imprensa ser a excepção. A informação é, hoje, uma mercadoria como as outras, promovida como tal. É lamentável. A demissão e a resignação dos jornalistas acabarão, inevitavelmente, por destruir a frágil relação de confiança com o público. A credibilidade passa pelo profissionalismo e a promoção de uma cultura de cidadania. Creio que a nossa primeira obrigação devia ser a procura da verdade, reportando-a com factos, rigor, contexto e um tratamento equilibrado. Isso não sucede muitas vezes. E a culpa não é só dos patrões dos grandes grupos…
- Revê-se na expressão do seu amigo Miguel Sousa Tavares de que atravessamos «um cataclismo de consequências imprevisíveis»?
Sim, independentemente de ser amigo do Miguel. E de não ser fatalista. Aquilo que está em causa é a própria democracia. Em Portugal, como em muitos outros países ocidentais, os objectivos financeiros dos grupos de imprensa sobrepõem-se frequentemente ao interesse público…"
Nota: o sr. Rui Araújo não refere as FP/25 de Abril no terrorismo à portuguesa que foi crime de sangue.
Estranha-se o silêncio do Sindicato dos Jornalistas face a estas gravosas declarações.
3 comentários:
O que é hoje um jornalista? Um indivíduo que escreve, fala ou dá a cara num meio mediático que lhe paga para debitar determinadas opiniões. Um jornalista, hoje, é apenas um funcionário. Qualquer um que lhe exija verdade, isenção e equidade, não tem noção nenhuma do que são os mass media.
Não sei em Portugal e nos demais países europeus, mas a formação universitária de um jornalista cá no Brasil é sofrível. Não há qualquer compromisso com o conhecimento, o que torna o profissional recém formado em um emissor contumaz de senso comum.
Há aqueles jornalistas que, com o passar do tempo, vão se aprofundando em determinadas áreas do conhecimento - economia, política, cultura, trabalho... - mas esta não é a regra geral, senão eventos pontuais que se destacam entremeio a falta de capacitação.
Quando li a postagem do Diogo, pensei estar lendo um texto escrito sobre os profissionais brasileiros, que nada sabem e sobre tudo opinam.
Agradeço a referência que faz à entrevista que facultei ao DN.
Permita-me sublinhar (no seguimento do seu comentário) que considero ter mencionado implicitamente as FP-25. Eis as referidas declarações "Desde o terrorismo à portuguesa, assaz peculiar...".
Considero que as FP eram compostas por amadores irresponsáveis. Partindo do seu princípio, também teria de mencionar a LUAR e a ARA.
Quanto às suas pertinentes interrogações sobre o silêncio do Sindicato de Jornalistas, posso dizer-lhe que não fui inquirido ou processado por ninguém. É público e notório que sempre houve e continua a haver jornalistas a "colaborar" com serviços de informações, empresas de comunicação, gabinetes de imprensa, etc. - profissões incompatíveis com o exercício do jornalismo. Portugal não é excepção, nesta como em muitas outras áreas. Lamento que assim seja, mas é o país e os jornalistas que temos.
O SIS e a DIMIL (e alguns serviços de informações estrangeiros) poderão facultar respostas mais concretas sobre a colaboração de jornalistas portugueses.
Limitei-me a escrever um livro sobre os portugueses que trabalharam para o serviços secretos do Eixo durante a Segunda Guerra. Pediram-me uma entrevista a pretexto da publicação da obra. O jornalista formulou perguntas sobre várias questões alheias ao livro "O Diário Secreto que Salazar não leu" (incluindo sobre o caso Casa Pia e o nome de código Catherine Deneuve). Não sou responsável pela condução da entrevista, obviamente. Mas assumo o que disse.
Espero não o ter maçado excessivamente.
Pode inserir se pretender este comentário no seu blogue.
Os melhores cumprimentos,
Rui Araújo
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