8.10.08

Livro: Até na prisão fui roubado! de Artur Agostinho

Um livro de memórias das prisões da liberdade abrilinas, este “Até na prisão fui roubado!” onde Artur Agostinho nos relata a sua experiência nas masmorras da Penitenciária de Lisboa e de Caxias em nome da liberdade às mãos da tropa fandanga do COPCON.
Artur Agostinho foi vítima da farsa do filme cómico em que muitos outros foram intérpretes involuntários na mesma acusação, tipo chapa 4, a da hilariante e anedótica acusação de andarem de carro funerário a transportar armas “fascistas” para o golpe spinolento de 28 de Setembro de 1974.


“Alguém me havia encarregado de fazer um transporte de armas que, pelo seu volume, teria de ser rodado de extremos cuidados. Foi, por isso, que imaginei – dizia-se – a macabra encenação de fazer esse transporte num carro funerário. No caixão, em vez de um defunto, seguiam espingardas, metralhadoras e algumas granadas de mão. Dentro do carro (sentado junto do caixão) ia eu, vestido de padre, não para a cerimónia da encomendação da alma do inexistente defunto mas para vigiar a preciosa carga e a fazer a sua entrega aos revolucionários a que se destinava.
Apesar de impecavelmente disfarçado e das barbas postiças que tivera o cuidado de colocar, fui descoberto, numa «barreira», à entrada da ponte sobre o Tejo. Foi, então, que os diligentes «vigilantes» chamaram o COPCON que me transportou a Caxias.
Esta a «maravilhosa» versão posta a circular, no dia seguinte à minha prisão.
(…) Outras versões mais ou menos fantásticas seriam posteriormente postas a circular.
Uma delas, era apenas «variante» da primeira, pois limitava-se a uma mudança de guarda-roupa: em vez de padre eu era… uma freira! A história caiu pela base porque se esqueceram que eu usava bigode e francamente, uma religiosa com aquele «ornamento» seria pouco… convincente.
Também se disse que eu tinha, lá para as bandas de Colares, um verdadeiro arsenal de armas e munições, além de uma emissora clandestina.
Finalmente, chegou-me aos ouvidos uma outra história segundo a qual fora detido nos estúdios da Radiotelevisão, quando me preparava para ler uma proclamação ao País, anunciando o êxito do já citado «golpe» de 28 de Setembro. Mas também à volta desta havia algumas variantes: enquanto, para uns eu estava na RTP, para outros encontrava-me na Emissora Nacional. Para outros ainda, a minha prisão tivera lugar à entrada do Rádio Clube Português onde pelos vistos, também me dispunha a… «proclamar»!
Concluindo: fui preso numa quantidade de lugares, ao mesmo tempo, graças a um dom de ubiquidade que não sabia possuir.
Afinal, a minha prisão fora simplesmente efectuada quando estava a dormir tranquilamente na minha casa, «disfarçado» com um pijama de riscas azuis que não é sequer, dos que mais gosto de usar…”

Artur Agostinho, “Até na prisão fui roubado!”, pp. 61/62/63, 1976.

1 comentário:

António disse...

NONAS,
COM A VERDADE ME ENGANAS!
EU NUNCA PORIA AS MÃOS NO FOGO PELO ARTUR AGOSTINHO.