Celebra-se hoje o 1.º aniversário da morte física de um grande Senhor da Cultura Portuguesa. Aqui fica um testemunho da sua belíssima poesia.
A minha terceira grande guerra
Menino, ouvi que a pátria da minha Mãe, a Espanha,
Fuzilava, vermelha, na fronteira
Que o rio Minho banha,
O fidalgo, o burguês, o padre, a freira.
Logo a minha cidade
Se encheu de fugas precipitadas,
E havia mais convívio e liberdade
No cinema, nos jardins, nas esplanadas.
Falava-se galego em toda a parte,
E eu via, com alegre sobressalto,
Um comboio de víveres que parte;
Um jovem que se alista, braço ao alto.
Morrera minha Avó ao cercarem Oviedo.
González Peña, seu sobrinho,
Combatia em Madrid. Mas isto era um segredo
Que feria a família como a espada do espinho.
O hino Cara al Sol, com a letra tão bela,
Cantava-o minha Mãe. Clarim nos meus ouvidos!
E, enquanto eu me sonhava de guarda a cada estrela,
Sem distinção de credos, era Ela
Que me punha a rezar por todos os
caídos!
Fuzilava, vermelha, na fronteira
Que o rio Minho banha,
O fidalgo, o burguês, o padre, a freira.
Logo a minha cidade
Se encheu de fugas precipitadas,
E havia mais convívio e liberdade
No cinema, nos jardins, nas esplanadas.
Falava-se galego em toda a parte,
E eu via, com alegre sobressalto,
Um comboio de víveres que parte;
Um jovem que se alista, braço ao alto.
Morrera minha Avó ao cercarem Oviedo.
González Peña, seu sobrinho,
Combatia em Madrid. Mas isto era um segredo
Que feria a família como a espada do espinho.
O hino Cara al Sol, com a letra tão bela,
Cantava-o minha Mãe. Clarim nos meus ouvidos!
E, enquanto eu me sonhava de guarda a cada estrela,
Sem distinção de credos, era Ela
Que me punha a rezar por todos os
In O Senhor de Si, pág. 18, 1991.
In António Manuel Couto Viana - 60 anos de Poesia, vol. II, INCM, págs. 143/144, 2004.
1 comentário:
Poema lindo. Não só pela beleza poética que cada estrofe encerra, como pela sensibilidade comovente que perpassa em cada palavra.
Mas outra coisa não seria de esperar do grande Poeta e Senhor que foi e continuará a ser A.M.C.V.
Os grandes poetas nunca morrem.
Maria
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