8.6.11

A minha terceira grande guerra. Poema de António Manuel Couto Viana

Celebra-se hoje o 1.º aniversário da morte física de um grande Senhor da Cultura Portuguesa. Aqui fica um testemunho da sua belíssima poesia.


A minha terceira grande guerra



Menino, ouvi que a pátria da minha Mãe, a Espanha,
Fuzilava, vermelha, na fronteira
Que o rio Minho banha,
O fidalgo, o burguês, o padre, a freira.

Logo a minha cidade
Se encheu de fugas precipitadas,
E havia mais convívio e liberdade
No cinema, nos jardins, nas esplanadas.

Falava-se galego em toda a parte,
E eu via, com alegre sobressalto,
Um comboio de víveres que parte;
Um jovem que se alista, braço ao alto.

Morrera minha Avó ao cercarem Oviedo.
González Peña, seu sobrinho,
Combatia em Madrid. Mas isto era um segredo
Que feria a família como a espada do espinho.

O hino Cara al Sol, com a letra tão bela,
Cantava-o minha Mãe. Clarim nos meus ouvidos!
E, enquanto eu me sonhava de guarda a cada estrela,
Sem distinção de credos, era Ela
Que me punha a rezar por todos os
caídos!
In O Senhor de Si, pág. 18, 1991.
In António Manuel Couto Viana - 60 anos de Poesia, vol. II, INCM, págs. 143/144, 2004.

1 comentário:

Anónimo disse...

Poema lindo. Não só pela beleza poética que cada estrofe encerra, como pela sensibilidade comovente que perpassa em cada palavra.
Mas outra coisa não seria de esperar do grande Poeta e Senhor que foi e continuará a ser A.M.C.V.
Os grandes poetas nunca morrem.
Maria