A melhor forma de recordar Rodrigo Emílio é ler, meditar e cantar a sua solar, vibrante, encantatória e musical poesia da qual deixo alguns exemplos nesta simples e curtíssima selecção que acaba por ser um renovado de manifesto de fidelidade.
«PREFA(S)CIO» — II
De entre todos os motivos
porque sulco os loucos trilhos
de extermínio
em que me abismo,
sobressaem, sempre vivos:
os meus livros,
os meus filhos
e o fascínio
do fascismo.
porque sulco os loucos trilhos
de extermínio
em que me abismo,
sobressaem, sempre vivos:
os meus livros,
os meus filhos
e o fascínio
do fascismo.
In Poemas de Braço ao Alto, 1982, p. 20.
«EDITAL DO POETA ÀS PORTAS DA MORTE
(PARA AFIXAR EM VOZ ALTA)»
(PARA AFIXAR EM VOZ ALTA)»
Ao Walter Ventura — que é, a vários títulos,
o meu (w)alter-ego —. Com afectuosa cumplicidade.
o meu (w)alter-ego —. Com afectuosa cumplicidade.
É preciso que se saiba por que morro
É preciso que se saiba quem me mata
É preciso que se saiba que, no forro
Desta angústia, é da Pátria tão-somente que se trata.
Se se trata de pedir-Lhe algum socorro,
O Seu socorro vem — a estalos de chibata...
E não ata nem desata o nó-cego deste fogo,
Que tão à queima-roupa me arrebata,
A não ser com a forca a que recorro
— E que é barata...
(É preciso que se saiba por que morro,
Enforcado no nó d’uma gravata!)
Jazigo, deserto, morro,
Baldio ou bairro-da-lata:
Não importa, já, ao certo, saber onde...
Andar à cata de data...
— É preciso que se saiba por que morro,
No meio deste monte de sucata!...
É preciso que se saiba por que morro
— E que és Tu, Pátria ingrata, quem me mata!
É preciso que se saiba quem me mata
É preciso que se saiba que, no forro
Desta angústia, é da Pátria tão-somente que se trata.
Se se trata de pedir-Lhe algum socorro,
O Seu socorro vem — a estalos de chibata...
E não ata nem desata o nó-cego deste fogo,
Que tão à queima-roupa me arrebata,
A não ser com a forca a que recorro
— E que é barata...
(É preciso que se saiba por que morro,
Enforcado no nó d’uma gravata!)
Jazigo, deserto, morro,
Baldio ou bairro-da-lata:
Não importa, já, ao certo, saber onde...
Andar à cata de data...
— É preciso que se saiba por que morro,
No meio deste monte de sucata!...
É preciso que se saiba por que morro
— E que és Tu, Pátria ingrata, quem me mata!
In Poemas de Braço ao Alto, 1982, p. 253.
POEMA ANTI-YANKEE
À Bolsa de Nova Iorque,
without love.
without love.
Ó idólatras
dos dólares,
energúmenos
dos números:
— Guardai as vossas
esmolas,
para a Europa
dos chulos...
... E ficai-vos com
os trocos;
ou cambiai-os
em rublos!...
dos dólares,
energúmenos
dos números:
— Guardai as vossas
esmolas,
para a Europa
dos chulos...
... E ficai-vos com
os trocos;
ou cambiai-os
em rublos!...
In Poemas de Braço ao Alto, 1982, p. 264.
INDÍCIO (DE OURO...)
Não me digam que não ouvem,
Na pulsação da manhã,
Sinfonias de Beethoven
e Prelúdios de Chopin!?...
Não me digam que persiste,
Convosco, a música triste,
O aroma de pesar,
D’alguma ária de Liszt,
D’algum requiem de Mozart?!...
— Necessário é coroar,
só d’élans,
o coração,
E erguer, a prumo, no ar,
Manhãs
de Restauração!
In Poemas de Braço ao Alto, 1982, p.331.
1 comentário:
Graças a minha amiga Raquel Guedes, do grupo Bandeira Branca e da Causa Tradicionalista, descubro hoje este insigne poeta e estes belíssimos versos. Generosidade de Deus me conceder tamanha emoção estética.
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