
Desta magnífica obra da literatura portuguesa saliento estes diálogos que se fossem escritos nos dias de hoje condenariam Gil Vicente por incitação ao ódio racial, anti-semitismo, crime contra a humanidade e sei lá que mais...
Veio um Judeu, com um bode às costas, e, chegando ao batel dos danados, diz:
Que vai cá? Hou marinheiro!
Diabo: Oh! Que má-hora vieste!
Judeu: Cuja é esta barca que preste?
Diabo: Esta barca é do barqueiro.
Judeu: Passai-ma por meu dinheiro.
Diabo: E esse bode há cá de vir?
Judeu: Pois também o bode há-de ir.
Diabo: Que escusado passageiro!
Judeu: Sem bode, como irei lá?(1)
Diabo: Nem eu passo cabrões.
Judeu: Eis aqui quatro testões,
e mais se vos pagará.(2)
Por vida de Sema Fará,
que ma passais o cabrão!
Diabo: Nenhum bode há-de vir cá.
(...)
Joa: Furtaste a chiba, cabrão?
Parecês-me vós a mim
gafanhoto de Almeirim
chacinado em um seirão(3)
Diabo:Judeu, lá te passarão
porque vão mais despejados.
Joane: E ele mijou nos finados
na ergueja de São Gião!(4)
E comia carne da panela
no dia de Nosso Senhor!(5)
E aperta o salvanor,
e mija na caravela!
Diabo: Sus, sus! Demos à vela!
Vós, Judeu, irês à toa,
que sois mui ruim pessoa.
Levai o cabrão na trela!
Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno, cena VIII.
Comentários elucidativos da temática do Auto:
1) - Trata-se do bode expiatório sobre o qual o Judeu pretendia fazer recair todos os seus pecados, um dos dois bodes que entram no ritual da Festa de Expiação dos Judeus (Levítico, cap. 16). Será preciso recordar que o bode faz parte dos sacrifícios rituais do judaísmo?
2) - No seu clássico espírito vigarista, o Judeu tenta subornar o Diabo, sem se ter apercebido de quem era o barqueiro...
3) - Os insultos são dirigidos por Joane ao Judeu.
4) - Nessa época, os defuntos eram enterrados no chão das igrejas. As leis de saúde só datam de 1846.
5) - O judeu comia deliberadamente carne em dia-santo para demonstrar toda a sua falta de respeito pela religião católica e todo o seu ódio pelos que não perfilham do judaísmo (e que eles intitulam de goim).
Que vai cá? Hou marinheiro!
Diabo: Oh! Que má-hora vieste!
Judeu: Cuja é esta barca que preste?
Diabo: Esta barca é do barqueiro.
Judeu: Passai-ma por meu dinheiro.
Diabo: E esse bode há cá de vir?
Judeu: Pois também o bode há-de ir.
Diabo: Que escusado passageiro!
Judeu: Sem bode, como irei lá?(1)
Diabo: Nem eu passo cabrões.
Judeu: Eis aqui quatro testões,
e mais se vos pagará.(2)
Por vida de Sema Fará,
que ma passais o cabrão!
Diabo: Nenhum bode há-de vir cá.
(...)
Joa: Furtaste a chiba, cabrão?
Parecês-me vós a mim
gafanhoto de Almeirim
chacinado em um seirão(3)
Diabo:Judeu, lá te passarão
porque vão mais despejados.
Joane: E ele mijou nos finados
na ergueja de São Gião!(4)
E comia carne da panela
no dia de Nosso Senhor!(5)
E aperta o salvanor,
e mija na caravela!
Diabo: Sus, sus! Demos à vela!
Vós, Judeu, irês à toa,
que sois mui ruim pessoa.
Levai o cabrão na trela!
Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno, cena VIII.
Comentários elucidativos da temática do Auto:
1) - Trata-se do bode expiatório sobre o qual o Judeu pretendia fazer recair todos os seus pecados, um dos dois bodes que entram no ritual da Festa de Expiação dos Judeus (Levítico, cap. 16). Será preciso recordar que o bode faz parte dos sacrifícios rituais do judaísmo?
2) - No seu clássico espírito vigarista, o Judeu tenta subornar o Diabo, sem se ter apercebido de quem era o barqueiro...
3) - Os insultos são dirigidos por Joane ao Judeu.
4) - Nessa época, os defuntos eram enterrados no chão das igrejas. As leis de saúde só datam de 1846.
5) - O judeu comia deliberadamente carne em dia-santo para demonstrar toda a sua falta de respeito pela religião católica e todo o seu ódio pelos que não perfilham do judaísmo (e que eles intitulam de goim).
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