10.11.10

Pensamentos de Alfredo Pimenta - XXVIII

« Debatem-se, dentro de mim, os sentimentos mais diversos: a indignação, a cólera, a revolta, o desespero, o nojo, a piedade, o assombro, a ternura, a admiração, o ódio! Relâmpagos de ódio cruzam o céu da minha consciência onde nunca, em seis décadas de existência, o Ódio ousara pôr pé... Só um sentimento, graças a Deus, se não manifesta, nem no meu espírito, nem no meu coração, nem nos meus nervos: o medo!
Voltou-se a página mais negra de quantas existem na História do mundo. Até ao último instante esperei que um rebate de consciência florisse no deserto empedernido que é a alma dos algozes. Até ao último instante esperei que a voz augusta do único Poder espiritual do mundo se erguesse, na majestade magnífica da sua natureza transcendente e dissesse a palavra justa, lógica e necessária.
Nada! Os algozes arregaçaram as mangas das suas vestes, esticaram os seus músculos, experimentaram a fidelidade diabólica das cordas das forcas, e as dez vítimas subiram os degraus destas e foram imoladas ao rancor impiedoso da vitória das Democracias.
E no mundo inteiro — calaram-se os que deviam falar, fizeram-se cúmplices os que deviam arredar de si toda a suspeita de cumplicidade, conformaram-se todos os que, por dever moral, deviam protestar. No mundo inteiro, só se ouviu o correr das cordas das forcas nos seus nós e a agonia rápida dos mártires...
«Providência, onde estás»?...
E voltou-se a página mais negra de quantas se escreveram na História...
Todos os autores ou ajudantes dos feitos tenebrosos que vêm dos circos romanos às liquidações purgativas da França e da Itália nos anos terríveis de 1945 a 1946 são anjos de diafaneidade celestial, postos em confronto com o horror de Nuremberga.
Todos esses, os organizadores dos suplícios romanos, as plebes amotinadas e fanáticas, os tribunais terroristas, os perseguidores e caçadores de homens, na França e Itália, os nossos Buiças, Costas e Dentes de Ouro, todos esses que firmaram na História, um nome ou um lugar e donde, eternamente, como das mãos de Macbeth, escorrerá sangue, todos esses agiram sob a paixão encolerizada, empolgados pela fascinação que cega, e, muitos deles, arriscando a própria vida.
Mas os famosos juizes de Nuremberga, implacavelmente frios, não têm a mesma ligeira sombra de desculpa. Foram, durante meses e meses, sempre os mesmos. Durante horas, em cada dia, tiveram na sua presença, inermes, abandonados, vencidos, vinte homens que mal podiam falar, porque lhes tapavam a boca, que mal se podiam defender porque lhes coartavam a defesa, e que se sentiam de minuto a minuto, ameaçados de sucumbir diante das calúnias e das infâmias com que os vencedores os atacavam.
E estes juizes de Nuremberga que antes de julgar já chamavam «criminosos» a esses desgraçados; estes juízes de Nuremberga que falaram em nome dum Direito que eles próprios formularam; estes juízes de Nuremberga, assombro do mundo, da História, da Moral, da fé cristã, da Honra e da piedade das feras, mandaram, um dia, pendurar nas cordas das forcas dez dos vinte e um homens que escolheram a dedo, à sombra de um Direito que não existia, à sombra de fundamentos que toda a gente desconhece e que foram aqueles, só porque apeteceu ao vencedor que eles fossem...
Alguns haviam de ser; calhou que fossem aqueles...
A morte é a morte; mas há várias maneiras de morte. Segundo o convencionalismo humano, há a morte infamante e que degrada, e a morte que, apesar de tudo, enobrece. E assim se tem por morte infamante, a morte na forca, e por morte que não envilece, principalmente para quem vestiu uma farda, a morte por fuzilamento. Os juizes de Nuremberga escolheram a morte infamante... Cuidam eles que, por não se ter vertido sangue, as onze mortes que são a sua obra serão mudas e estéreis.
Pobres criaturas tão mesquinhas de espírito, como áridas de sentimento! Incapazes de compreender que, para além do rancor que anima as seitas de que foram instrumentos passivos, mas responsáveis, há um Juízo que o transcende, em projecção e natureza, os juizes de Nuremberga não perceberam que o martírio que aplicaram às suas vítimas, as purificou de todo o pecado, as inocentou de toda a culpa, e as santificou perante a consciência humana, que não se regula pelos ditames do vencedor, só porque o é, portanto pelos caprichos da Democracia a que eles, juizes de Nuremberga, obedeceram!
Os enforcados de Nuremberga, já ultrapassaram, a esta hora, os pareceres da propaganda mefítica que os fariseus estão a desencadear e continuarão a desencadear, e entraram no culto fervoroso e desinteressado de todas as almas que um catolicismo falso, de fachada, e utilitário, não perverteu nem corrompeu.
Entraram na imortalidade sagrada que abre as portas do Martirológio de todas as pátrias e, neste caso, do Martirológio universal. Foram vítimas do seu amor profundo à sua terra natal, da sua dedicação levada ao último extremo pela glória da sua terra, pela grandeza da sua civilização, pela perenidade dos princípios em que todos nós comungamos — todos nós os que repelimos, com altivez e decisão, a invasão hebraica e a invasão bolchevista.
Subiram os degraus da forca, algemados, porque os seus algozes, até nesse momento supremo, temeram o desvairo heróico das pobres vítimas.
Mas as algemas que lhes prendiam os pulsos débeis são, a esta hora, as cadeias de bronze inquebráveis que soldam os nomes dos juizes de Nuremberga ao ergástulo eterno que é o destino fatal dos que ofendem o Direito e a Justiça, a Piedade e a Honra.
Deixem passar as horas, deixem rolar o mundo...
(...) Aqueles que a «justiça» democrática de Nuremberga fulminou «foram queimados, e as suas cinzas lançadas ao vento, secretamente».
Secretamente?...
Não foram centenas, foram milhões de homens que, na Alemanha e fora dela, viram, sem a mais leve sombra de dúvida, subir no espaço milhares de estrelas de luminosidade penetrante, à hora em que as cinzas dos mártires de Nuremberga eram secretamente lançadas ao vento. Levou-as o vento, mais generoso e piedoso do que os carrascos, para longe da terra, colocando-as mais alto do que a terra, superiores à terra, porque esta se mostrou indigna de as receber no seu seio. Levou-as o vento no seu beijo puro, para o Céu, para junto dos astros e dos anjos, para o coração infinitamente misericordioso de Deus. E cada partícula dessas cinzas é uma estrela na eternidade...
Tanto quanto é lícito dar crédito às agências a soldo das Democracias vencedoras, os enforcados de Nuremberga morreram como homens, como soldados e como alemães. As suas últimas palavras foram um adeus confiante à sua Pátria. Nesse adeus, está implícita uma ordem: resistir à tirania do invasor e ocupante; lutar pela independência, pela liberdade e pela grandeza da terra dos antepassados. Há muitas formas de resistir; há muitas formas de lutar — desde a resistência e luta violentas, até à resistência e luta camufladas. Todas são legítimas!
Tudo em Nuremberga foi hediondo, fora do âmbito estreito dos mártires. Hediondo o tribunal e o direito que se evocou; hediondo o julgamento e o processo que se adoptou; hediondo o noticiário e hedionda a doutrina dos pseudo-juizes. E como se isto não chegasse, houve a incineração e a dispersão das cinzas...
E os católicos do mundo inteiro, com as suas autoridades eclesiásticas à frente, desde o chefe supremo da Igreja até às hierarquias de cada país, assistem, silenciosos e quedos, à violação formal e solene do cânone 1203 do Código do Direito Canónico!
(...) Lêem por outra cartilha os chamados juizes de Nuremberga e, não dão sepultura aos cadáveres que as suas mãos fizeram, mas nem sequer recolheram as cinzas dos cadáveres que as suas mãos queimaram! Dispersaram-nas ao vento, e em segredo! E os católicos do mundo inteiro tomam conhecimento disto... e fazem-se cúmplices disto!
Entre os variados sentimentos em que me debato ao contemplar esta página horrorosa que acaba de escrever-se em Nuremberga — que não tem similar na História de todos os tempos e é a mais fulminante negação do espírito cristão — há um que domina todos os outros: o nojo que sinto pelo meu tempo, que é, simultaneamente, a vergonha inapagável de ser deste tempo!
Este tempo em que ainda vivo é o tempo dos monstros mascarados de santos.
Não sou monstro, não contemporizo com monstros, não me solidarizo com monstros, nem me calo diante de monstros!...»(1)
«... Não sou nacional-socialista, quase só porque não sou alemão; mas sou, anti-comunista, porque sou católico, português e monárquico.»(2)
Notas:
(1) - In Na Hora da Tragédia, in «A Nação», n.o 36, 26.10.1946.
(2) - In Contra o Comunismo, p. 50, ed. Autor, 1944.

2 comentários:

Réquila disse...

Novidade das Edições Réquila: "Por uma Direita Moderna..." de Rodrigo Emílio.

edicoesrequila.blogspot.com

Anónimo disse...

Goste-se ou não e diga-se o que disser de A.P., duas qualidades não se lhe podem negar sob pena de tratar-se de uma enorme hipocrisia e de um incomensurável cinismo: a sua sinceridade e a sua coragem fruto do seu destemor, da sua integridade e do seu imenso patriotismo, cuja prova está patente nos seus Pensamentos e noutros brilhantes escritos que em boa hora legou aos portugueses - os de hoje e os vindouros - e que, os que o são de corpo e alma, lhe estarão para sempre agradecidos.

E quem é suficientemente sincero, honesto e corajoso para, contra tudo e contra todos, expôr clara e publicamente o que lhe vai no mais íntimo do seu ser, é alguém que é um exemplo de nobreza, verticalidade, valentia, amor incondicional à Pátria e preito à verdade. Valores cada vez mais esquecidos e que, hoje mais do que nunca, não só merecem ser louvados como necessitam imperiosamente de ser realçados e relembrados.

Hoje e através de documentos como estes que A.P. nos deixou mas também graças à Internet, vamos tendo um conhecimento mais minucioso do que efectivamente se passou na Europa de então. A violência aterradora gratuita sobre povos inocentes, os pactos entre Estados e as subsequentes traições entre governantes desses mesmos Estados, os muitos milhares de crimes bárbaros ordenados, consentidos e perpetrados e um sem número de horrores que só o verdadeiro Mal é capaz de conceber e executar. Mal que afinal não ficou por ali, mas antes se tem desenvolvido desenfreadamente e cada vez com mais sofisticação e violência até aos dias de hoje - e tudo a mando dos 'Masters of the Universe' (como tão bem os classificou Charlie Sheen e Dean Stockwel num excelente documentário sobre os mundialistas). Donos do mundo a quem já na sua época A.P. acusava abertamente e com verdade - o que se veio a verificar tal e qual ele predisse - como sendo os destruidores da independência das Nações. E mais tarde do Mundo.

A maldade e a crueldade chegaram a um tal ponto de sofisticação e execução que não será exagero pensar-se estar metade da Humanidade condenada a desaparecer daqui a não muito tempo através dos mais horrendos e dolorosos métodos, que não só através de guerras gizadas em gabinetes secretos. É que o Mal tem muito mais poder do que aquele que lhe é atribuído e não descansará até atingir esse objectivo diabólico. Aquele justamente pretendido.
A menos que...
Maria