10.9.10

Pensamentos de Alfredo Pimenta - III

«... Democracia cristã; Democracia orgânica; Democracia positiva; Democracia social; Democracia temperada; Democracia liberal; Democracia isto; Democracia aquilo, Democracia aqueloutro, são máscaras do mesmo erro, pseudónimos do mesmo mal, disfarces do mesmo cancro: a Democracia.(1)
«... Mas o governo de todos é um mito, porque é o Absurdo. A sociedade é uma realidade; o governo é outra. Não há sociedade sem governo - proclamou-o Augusto Comte. Pode governar um; podem governar alguns; não podem governar todos. A Democracia que é o governo de todos, é conceito essencialmente metafísico, abstracção pura.
A Democracia nunca se realizou. Sociedade que tentasse realizá-la suicidar-se-ia. Sociedade a governar-se a si própria nunca existiu, porque a mesma noção de sociedade implica organização e hierarquia, e portanto governantes que mandam, governados que obedecem. A Democracia é a negação da organização e da hierarquia: todos mandam, todos governam, todos são soberanos. Nunca se viu; nunca se viu; nunca se poderá ver. O mal da Democracia está, antes de mais nada, no mito que a constitui, na mentira que representa, na mistificação idiota que personifica.
As massas que são crédulas, ingénuas ou estúpidas. Os seus exploradores, os que vivem, enriquecem, engordam, trepam e se fazem à custa são os profiteurs da Democracia, tão repelentes e tão sujos, como aqueles cadastrados que vivem à custa das desgraçadas que pertencem a quem as compra.»(2)
«... Se a Democracia, sociedade em que todos governam, não existe, que é existe com o nome de Democracia? Existe a sociedade em que alguns se governam - mentindo, iludindo, sofismando, arrastando o Povo atrás da sua mentira, levando-o, cego e surdo, atrás de uma ilusão!
As massas não raciocinam: crêem. E quanto mais compactas e mais numerosas são, mais obtusa e irreflectida e infantil é a sua crença.
Não há almas colectivas, não há razões colectivas, não há inteligências colectivas. As massas têm instintos, não têm Razão; têm reflexos, não têm discernimento. Porque as seduz à Democracia? Porque as encanta o Comunismo? Precisamente, porque são bárbaros e absurdos.
Mas essas Democracias que por aí passeiam a sua vida, que são afinal? São burlas escandalosas e é a sua qualidade de burlas que devem o poder viver.
São sociedades de negócios, materialistas, e jogadoras da vermelhinha - em que, repito, alguns se governam... São aristocracias de videirinhos. Eles sabem, como todos nós sabemos, que a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade são entre os homens, mistificações, nuns, superstições, noutros. E gritam, e trombeteiam às massas, nos comícios e nos Parlamentos, nas campanhas eleitorais e nas alfurjas, nas gazetas e nos conclaves internacionais: Liberdade! Igualdade! Fraternidade!(3)


Notas:
(1) - In Contra a Democracia, p. 17, ed. Amigos do Agora!, 1949.
(2) - In Contra a Democracia, pp. 17/18, Amigos do Agora!, 1949.
(3) - In Contra a Democracia, pp. 18/19, Amigos do Agora!, 1949.

3 comentários:

VERITATIS disse...

Excelente trabalho este, Nonas. Venham mais pensamentos de Alfredo Pimenta, venham mais!

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Que prazer ler tão sábias quanto oportunas palavras, no momento - que já se vem estendendo por anos escandalosamente demasiados - em que nos encontramos.
Parabéns por esta transcrição e por outras igualmente preciosas que aqui tem deixado do mesmo autor e não só deste. Palavras corajosas e certeiras saídas da pena desse grande patriota e nobre português que foi Alfredo Pimenta.
Maria

nonas disse...

Mais hão-de surgir!