«... Para a Democracia, a Soberania está na massa popular, e não em toda, mas na maioria numérica. (...) A Democracia é a força do Número, o culto da Quantidade, o predomínio do Anónimo. Abre-se uma urna; entram nela mil vontades pessoais. Operou-se uma transformação monstruosa, e surge o poder de n+1 opiniões irresponsáveis, individualizáveis ou impersonalizáveis. Está feita a Democracia. O eleitor tem o seu nome inscrito no caderno eleitoral: deixa o seu voto, e, perde automaticamente o nome: o voto deixa de ser de quem é. O Povo passa a ser o n+1 dos votos; a quantidade bruta e anónima; a força irresponsável e cega. É nesse n+1 anónimo e irresponsável, que reside a Soberania nacional; é desse n+1 irresponsável e anónimo, que emana o Direito; é esse n+1 anónimo e irresponsável, o instrumento legal da Vontade nacional!
Esse n+1, às vezes, não é simples; formam-no fracções de que ele é a soma. Então é a Democracia elevada às suas consequências extremas: é o Capharnaum.»(1)
«...Averiguado que os inferiores são em maior número, as decisões das massas eleitorais são obra dos inferiores. Daqui, não há que sair. Dêem as voltas que quiserem, cozinhem o caldo como quiserem, chamem-lhes os nomes que quiserem — que a conclusão são os regimes das inferioridade, governos electivos são os governos dos inferiores.
Só por acaso, por uma aberração escandalosa, esses regimes e esses governos conseguem libertar-se da manobra da sua origem. Que representam os resultados das eleições francesas? Representam tanto como o facto de uma bola de roleta sair no preto em vez de sair no branco. Um estado de opinião? Uma tendência de vontade nacional? Uma aspiração doutrinária? Uma oposição a qualquer política anterior? Não digamos dislates. Deixemo-los aos ocos e aos palavrosos. As eleições não significam nada. Deram a vitória às esquerdas, como podiam ter dado às direitas. Porque a confusão no campo católico foi enorme. E votaram desconhecidos. Lá como cá, cá como lá, a burla, sempre a burla. E sem os votos dos mortos, e dos ausentes e dos ignorados, a burla não era menor, porque digam-me, senhores, que sabem as massas eleitorais dos problemas políticos da Nação? Que sabem os exércitos, dos problemas complicados do Estado Maior, senhores? É o generalíssimo eleito pelos soldados? É o Estado Maior eleito soldados? É o sábio eleito pelos aprendizes? É o professor eleito pelos assistentes?
Para que persistimos, para que teimamos na obediência à mais perigosa e escandalosa mistificação da vida política dos povos? Para que atribuímos virtude ao que é incompatível com a virtude, para que damos valor ao que com o valor é incompatível?
O meu voto representa a minha opinião? Quantos nomes vão na lista que eu voto, que eu conheço, em que confio, que efectivamente pensam como eu penso? Ah! Senhores! Digam-me, com a mão na consciência, até onde tem chegado a consciência do seu voto?
Votem de chapa! — dizem os partidos. Votar de chapa quer dizer de olhos fechados, quer dizer votar às cegas, quer dizer votar sem discutir, quer dizer votar sem opinião e sem consciência! Votam sistematicamente de chapa os pobres de espírito, os fracos de espírito, os fracos de espírito, os homens sem critério. Tenho votado, algumas vezes, na minha vida. Nunca votei de chapa!
Não há, não pode haver eleições honestas, em parte alguma do mundo. Pode haver e há leis eleitorais mais sérias ou menos sérias. Mas a eleição é sempre uma burla. Porque repoisa na mentira: o poder omnisciente do Número. O Número não é omnisciente: é omni-ignorante. Se a mentalidade duma assembleia de homens de génio é inferior à mentalidade de cada um desses homens, — o que não será a mentalidade duma assembleia de homens de inteligência variadas, mas em que predominam, como é natural, as inteligências medíocres, e abaixo disso!
Por isso, tendo seguido com curiosidade os preparativos eleitorais, desinteressei-me por completo do resultado das eleições.
Porque perante os programas eleitorais, a França inteira só tinha uma lista conveniente, bem francesa, bem nacional: a da Action Française — em Paris e um ou outro ponto. Todas as outras representam abdicações perante a Desordem, perante a Irreligião, perante o Inimigo. Mas as massas eleitorais percebem tanto disso como eu de lagares de azeite. E votaram nos que mais habilmente as ludibriaram.
Cá no nosso Portugal, o preconceito eleitoral está muito entranhado nos políticos. Há político que morre se lhe tiram a eleiçãozinha. É nas eleições que ele se revela, e é pelas habilidades eleitorais que se valoriza. Pode ser que ele e os meus congéneres estejam na verdade. O seu espírito está cada vez mais afastado dessa verdade triste.»(2)
Esse n+1, às vezes, não é simples; formam-no fracções de que ele é a soma. Então é a Democracia elevada às suas consequências extremas: é o Capharnaum.»(1)
«...Averiguado que os inferiores são em maior número, as decisões das massas eleitorais são obra dos inferiores. Daqui, não há que sair. Dêem as voltas que quiserem, cozinhem o caldo como quiserem, chamem-lhes os nomes que quiserem — que a conclusão são os regimes das inferioridade, governos electivos são os governos dos inferiores.
Só por acaso, por uma aberração escandalosa, esses regimes e esses governos conseguem libertar-se da manobra da sua origem. Que representam os resultados das eleições francesas? Representam tanto como o facto de uma bola de roleta sair no preto em vez de sair no branco. Um estado de opinião? Uma tendência de vontade nacional? Uma aspiração doutrinária? Uma oposição a qualquer política anterior? Não digamos dislates. Deixemo-los aos ocos e aos palavrosos. As eleições não significam nada. Deram a vitória às esquerdas, como podiam ter dado às direitas. Porque a confusão no campo católico foi enorme. E votaram desconhecidos. Lá como cá, cá como lá, a burla, sempre a burla. E sem os votos dos mortos, e dos ausentes e dos ignorados, a burla não era menor, porque digam-me, senhores, que sabem as massas eleitorais dos problemas políticos da Nação? Que sabem os exércitos, dos problemas complicados do Estado Maior, senhores? É o generalíssimo eleito pelos soldados? É o Estado Maior eleito soldados? É o sábio eleito pelos aprendizes? É o professor eleito pelos assistentes?
Para que persistimos, para que teimamos na obediência à mais perigosa e escandalosa mistificação da vida política dos povos? Para que atribuímos virtude ao que é incompatível com a virtude, para que damos valor ao que com o valor é incompatível?
O meu voto representa a minha opinião? Quantos nomes vão na lista que eu voto, que eu conheço, em que confio, que efectivamente pensam como eu penso? Ah! Senhores! Digam-me, com a mão na consciência, até onde tem chegado a consciência do seu voto?
Votem de chapa! — dizem os partidos. Votar de chapa quer dizer de olhos fechados, quer dizer votar às cegas, quer dizer votar sem discutir, quer dizer votar sem opinião e sem consciência! Votam sistematicamente de chapa os pobres de espírito, os fracos de espírito, os fracos de espírito, os homens sem critério. Tenho votado, algumas vezes, na minha vida. Nunca votei de chapa!
Não há, não pode haver eleições honestas, em parte alguma do mundo. Pode haver e há leis eleitorais mais sérias ou menos sérias. Mas a eleição é sempre uma burla. Porque repoisa na mentira: o poder omnisciente do Número. O Número não é omnisciente: é omni-ignorante. Se a mentalidade duma assembleia de homens de génio é inferior à mentalidade de cada um desses homens, — o que não será a mentalidade duma assembleia de homens de inteligência variadas, mas em que predominam, como é natural, as inteligências medíocres, e abaixo disso!
Por isso, tendo seguido com curiosidade os preparativos eleitorais, desinteressei-me por completo do resultado das eleições.
Porque perante os programas eleitorais, a França inteira só tinha uma lista conveniente, bem francesa, bem nacional: a da Action Française — em Paris e um ou outro ponto. Todas as outras representam abdicações perante a Desordem, perante a Irreligião, perante o Inimigo. Mas as massas eleitorais percebem tanto disso como eu de lagares de azeite. E votaram nos que mais habilmente as ludibriaram.
Cá no nosso Portugal, o preconceito eleitoral está muito entranhado nos políticos. Há político que morre se lhe tiram a eleiçãozinha. É nas eleições que ele se revela, e é pelas habilidades eleitorais que se valoriza. Pode ser que ele e os meus congéneres estejam na verdade. O seu espírito está cada vez mais afastado dessa verdade triste.»(2)
Notas:
(1) - In Três Verdades Vencidas: Deus - Pátria - Rei», p. 28, Org. Bloco, Lda., 1949.
(2) - In À Margem das Eleições Francesas, in «A Época», n.º 1735, p. 1, 18.05.1924.
1 comentário:
Cada frase, cada expressão, cada palavra de Alfredo Pimenta neste pedaço de texto, traduz a verdade nua e crua do que é de facto a democracia do número; traduz ainda e na perfeição o que significam realmente as eleições, uma após outra e todas sem excepção: a mais gigantesca e escandalosa fraude de que há memória, perpetrada contra as Nações e contra os Povos.
"... desinteressei-me por completo do resultado das eleições".
Estas palavras profundamente sentidas de Alfredo Pimenta, exemplificam à maravilha aquilo que vai no espírito dos eleitores na sua enormíssima maioria. Eleições cujo número de votantes é cada vez menor, no nosso país e em todos aqueles onde imperam as democracias, para vergonha máxima de políticos corruptos e mentirosos, que as falseiam e manipulam em seu proveito, com todo o à-vontade e descaramento do mundo.
Com efeito, corroborando o pensamento de A.P., para quê perder tempo a votar se o resultado de todas e cada uma das eleições está decidido à partida?
Maria
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