10.12.07

Olha quem fala!

“Quando a Directora da Menina e Moça me pediu algumas palavras para este número comemorativo do XX aniversário, senti que não podia deixar de responder a esse convite. Não que essa resposta me fosse ditada por uma mera cortesia para com as responsáveis da M. P. F., que respeito e admiro. Não que a ela me movesse o gosto, sempre renovado, de ver as próprias ideias ou sentimentos reduzidos à forma objectiva de caracteres tipográficos. Um único motivo me torna presente nas colunas desta revista. Esse motivo é a gratidão muito viva por tudo o que através da M. P. F., eu pude aprender, consciencializar e tornar bem concreto na vida quotidiana.
A Menina e Moça foi para mim, durante o tempo decisivo da minha adolescência, o complemento do clima de entusiasmo e de generosidade, de gosto pelos grandes ideais e de pronto espírito de serviço que as aulas de formação, as colónias de férias e, acima de tudo, o curso de graduadas da M. P. F. (que frequentei entre o 4.º e 5.º anos do liceu) me habituaram a desejar e a querer viver. Mais tarde, durante a experiência, extremamente rica, de alguns anos em que pude colaborar nas aulas de formação moral e nacionalista, o mesmo espírito me foi trazido pela Menina e Moça, onde sempre gostei de reencontrar o ideal, sem mistura, da mocidade, e a disponibilidade, sem reserva, da época da vida em que o coração todo inteiro se dá.
Sobretudo, veio-nos através da M. P. F. (eu não sei mais distinguir entre o que me veio através da Menina e Moça e o que veio através das outras actividades da Organização) a repulsa pela mediocridade consentida e o gosto das coisas duras, que me têm tornado a vida uma difícil mas apaixonante aventura. E, como pano de fundo de toda a formação que na M. P. F. recebi, veio-me a certeza, ao mesmo tempo empírica e mal documentada, da existência de uma vocação própria da Mulher no mundo, base natural em que mais tarde havia de assentar a minha vocação ao serviço da Igreja Universal.
É por isso que eu gostaria de dizer a todas as meninas e moças da geração de hoje que não fechem os ouvidos ao apelo de altura e de sonho que a M. P. F. nelas quer despertar. Que não encolham os ombros, numa pretensão de experiência céptica das pessoas e das coisas, quando a M. P. F. as convida à generosidade e a ocuparem o seu lugar no mundo. Que não se alheiem com desprezo daquelas que procuram ajudá-las a viver a etapa maravilhosa da adolescência. Que não tenham medo de ser diferentes no meio da massa indiferenciada que a civilização do nosso tempo tem produzido.”

In “Mocidade Portuguesa Feminina”, Irene Flunser Pimentel,
Esfera dos Livros, 2007, pág. 204.

6 comentários:

Vítor Ramalho disse...

Apenas mais uma que virou a casaca.

Anónimo disse...

Belo exemplo de democrata abrilino. Era bom que muitos dos que por aí saltitam e se dizem lutadores anti-fascistas,fossem desmascarados. Mas quem pode aparentemente não quer. Porque será?

Vítor Ramalho disse...

Porque os arquivos estão muito bem guardados, para poderem fazer chantagem.
Ou não se lembra para onde foram os arquivos da PIDE?

Anónimo disse...

Lembro-me nos anos após o 25 do 4 se referir muito a mudança de casaca dessa gaja insuportável.

Anónimo disse...

Inacreditável o artigo. O irmão, pessoa digníssima segundo li, morreu de desgosto ao ver a cambalhota politica da irmã, ele que a julgava tão religiosa e conservadora quanto ele, segundo a educação por ambos recebida. Terá inclusivé deixado de falar à irmã, nunca lhe perdoando a mudança política drástica. Isto vinha (por outras palavras) escrito num jornal diário, algum tempo depois da cambalhota.

Maria

Anónimo disse...

Não me referia aos arquivos que foram entregues ao KGB. Mas tenho a certeza que existem espalhados por bibliotecas e arquivos, docomentos onde os actuais "democratas" pontuam como apoiantes do Estado Novo. Aqui fica um desafio: quem tiver dessas "joias" publique-as.