12.5.07

O fascista desiludido com a extrema-direita: Prof. António José de Brito


Saiu hoje no suplemento DN/Gente do Diário de Notícias um trabalho sobre o Prof. António José de Brito com o título "O fascista desiludido com a extrema-direita".
O texto é da autoria de Francisco Mangas tendo a conversa durado cerca de 2 horas, com momentos caricatos como a sessão fotográfica - cerca de 30 fotografias, calcula o Prof. Brito - com e sem chapéu dentro de casa, com diversos livros nas mão como me informou o Prof. Brito. Resumindo e concluindo da tal "conversa" resta isto!
O sr. Francisco Mangas manga connosco! O sr. Mangas teve uma oportunidade única de entrevistar um dos vultos do pensamento Político, da Filosofia, da Cultura em Portugal mas preferiu uma conversazinha só porque Salazar, o PNR e a extrema-direita estão na moda jornalística e com intuitos negativos de lançar a confusão e mal-estar na "extrema-direita".
O produto final do seu trabalho é isto!

«Ressurgimento da figura de Salazar é "pura nostalgia"

Para afastar dúvidas, logo no início da conversa, na sua casa apinhada de livros, no Porto, António José de Brito esclarece: "Estou mais à direita de Salazar, porque eu sou fascista totalitário." Apressa-se a sacudir o rótulo de "racista biológico", e assim separa as águas em relação a grupos como o Partido Nacional Renovador (PNR). Este antigo professor de Filosofia na Faculdade de Letras do Porto, reprova a via "folclórica" que a "residual " extrema-direita portuguesa está a seguir.
António José de Brito, pensador de extrema-direita, licenciou-se em Direito e Ciências Jurídicas, em Coimbra, e doutorou-se no ano de 1979, em França, com a tese O Ponto de Partida da Filosofia. O autor de Destino do Nacionalismo Português (1962) não conheceu Salazar pessoalmente, e o único cargo que teve no Estado Novo foi o de secretário da Universidade Porto. Demitiu-se em 1975, "fui embora antes que me pusessem fora". Considerado um dos consolidados neo-hegelianos portugueses, só começou a dar aulas nos anos 80.
As suas obras mais polémicas são políticas: Sobre o Momento Político Actual (1969), uma crítica feroz a Marcelo Caetano, Diálogos de Doutrina Anti-democrática (1975), ou os estudos sobre Alfredo Pimenta, António Sardinha, Charles Maurras e Salazar reunidos na obra Pensamento Contra-Revolucionário (1996). Acusado de colaborar com a polícia política da ditadura, o seu caso acabou por ser arquivado: "Infelizmente não tive a honra de ser preso!"
António José de Brito tem o seu trabalho filosófico - quatro livros - publicado na Imprensa Nacional. Os ensaios políticos - como Pensamento Contra-Revolucionário ou Compreender o Fascismo - aparecem dispersos por pequenas editoras. O último texto doutrinário de sua autoria é A Actualidade do Fascismo, que serviu de posfácio ao livro Discursos da Revolução, de Benito Mussolini, editado pela Réquila. Recentemente voltou à polémica. Joshua Ruah falou pela comunidade judaica, declarando a sua indignação por um negacionista estar a ser editado na editora do estado.
Poderia parecer que as polémicas com a extrema-direita e o PNR agradariam a este professor. Mas António José de Brito está desencantado com a actividade política do PNR. "Eles fazem uma agitaçãozinha... umas coisas, uns cartazes, uma marcha - folclore apenas, faltam ideólogos de extrema-direita." Por exemplo: num congresso nacionalista, realizado há três anos, "elementos do PNR diziam que o Brasil era uma vergonha, porque havia lá muitos pretos, e não os ouvi claramente tomarem uma posição doutrinária: era um coisa de pele, racista". O fascista puro e duro assume uma posição sensivelmente diferente - e até prefere "alguns pretos" a certos brancos.
Em pleno Verão Quente, em 1975, num livro que publicou, lembra, ele próprio mostrava-se próximo de certos negros, dos que se bateram com a bandeira portuguesa. "Prefiro esses aos brancos do 25 de Abril, o Otelo, o Costa Gomes ou o Spínola, o traidor traído: a questão de pele para mim não é fundamental".
O católico e contra-revolucionário Salazar, ditador do "viver habitualmente", não era o "chefe" que desejou para guiar o País. Mas votou nele no concurso da RTP Os Grandes Portugueses. "Para mim, a figura mais importante da nossa História é o D. João II, mas como Salazar irritava muita gente, telefonei uma vez - votei no último dia".
O ressurgimento da figura de Salazar, que, pouco dias depois de ser o grande português, teve cerca 300 manifestantes em Santa Comba Dão a exigir a abertura de um museu, não entusiasma o velho fascista. "É um gesto de nostalgia, puramente sentimental." Em Portugal a extrema-direita é escassa: "a anti-imigrante e a outra, que talvez ainda seja mais residual". "Estritamente fascistas como eu há meia dúzia". E os salazaristas, para onde foram os seguidores do fundador do Estado Novo?
Os salazaristas votam no Cavaco, no PSD e no CDS." E não só, afirma o antigo professor de Filosofia , que bem conhece muito dessa gente. "Alguns, muito pensantes, os maquiavéis, ainda vão votar nos socialistas. Dizem que é uma táctica de infiltração."
Durante o Estado Novo, António José de Brito e Goulart Nogueira fundaram a revista Tempo Presente, de "coloração fascista", apoiada pelo regime: comprava um certo número de exemplares. Mas a irreverência, o "viver perigosamente" dos fascistas, depressa feriu a sensibilidade do ditador - que mandou cortar o apoio.
Nas relações da extrema-direita com Salazar, enfim, havia por vezes crispações.
António José de Brito é fascista monárquico. Duarte Nuno de Bragança, no entanto, não lhe "merece respeito nenhum" devido ao "desvio" que o pretendente fez aos princípios monárquicos. "Este é um rei que diz que é democrata. É mesma coisa que um papa dissesse que era muçulmano ou ateu." Aderiu ao 25 de Abril e, às vezes, "até se arma em António Sardinha!"
A prosa do nobel português não convence o velho fascista. "Parece que arranha o papel e a paciência." Leu quatro livros de José Saramago e ficou "francamente horrorizado". Afirma: "Disseram-me que no romance o Ano da Morte de Ricardo Reis pintava muito bem Lisboa. Pintava uma Lisboa só com chuva... se calhar estava a confundir com a cidade do Porto."
Conheci muitos Pinto Coelho, aquilo é uma longa dinastia. O líder do PNR não conheço", diz António José de Brito. "Eu não sou anti-imigrante, o José Pinto Coelho é. Mas não vou discutir com o PNR, não vale a pena, não vejo aí uma doutrina clara, vejo atitudes: ser contra os imigrantes é uma atitude." No seio do partido "alguns são antidemocratas, aí temos um ponto em comum".
Os governantes da nossa democracia, fácil de ver, não despertam qualquer simpatia a António José de Brito. O primeiro-ministro José Sócrates é "um entre muitos". Nunca vi os bancos serem tributados e têm lucros fabulosos." Mas isso é o que defende o PCP e o BE! "E não rem mal nenhum: se eles disserem que está sol, e estiver sol, eu também digo que está sol!»

1 comentário:

Anónimo disse...

Boas,

Espero não ofender os habituais deste blog ao escrever aqui algumas linhas. Permitam-me que de antemão revele o porquês: ideológicamente encontro-me bem à esquerda, genéricamente na linha do PCP, marxista-leninista portanto.

Eslcarecido este ponto - que curiosamente também será visto como "pecado original" por muitos dos habituais - concordo que se perdeu uma oportunidade importante ao reduzir-se o resultado da entrevista a isto. António José de Brito será dos maiores teóricos de direita e os seus trabalhos sobre o Fascismo são, independentemente da opinião pessoal, obras interessantíssimas do ponto de vista de doutrina. Permitem um contraponto sólido para as obras de pensadores de esquerda sobre o assunto - desde já Trotsky com a sua explicação sobre as raízes do Fascismo e a sua sedução para a pequena burguesia e "lumpenproletariat" - e são por isso importantes por quem se interesse por tentar perceber as coisas para além dos rótulos e ódios habituais. É fácil para nós (falo de mim e de quem está do meu lado da "barricada") colocar o Fascismo na categoria de movimento reaccionário apenas composto por massas enganadas e embrutecidas, sem substracto sério do ponto de vista de pensamento. As obras do Prof. António José de Brito são portanto para muitos uma "chapada" ao exporem um pensamento contra-revolucionário coerente e com bases teórico-filosóficas que naõ são de desprezar, e, pior ainda, que de certa form se entroncam por vezes numa corrente neo-hegeliana onde o marxismo também foi beber. Talvez por defeito defeito ideológico nunca posso deixar de sentir uma certa admiração por quem mantém a sua coerência incómoda perante os "ventos da História". Aconselho pois a leitura dos livros referidos a todos. De certa forma a sua análise sobre o Fascismo é mais sedutora do que os textos de Mussolini, que por vezes se revelam na minha opinião demasiado repentistas e justificativas de uma situação "de facto" já existente.

Cumprimentos.