Poderá Portugal sobreviver, como os pacientes da lobotomia, sem cérebro? Mais valerá morrer. Esta vida vegetativa – só pança, só dinheiro, só grossas materialidades, bruta e sem nexo, provoca a náusea. Como os homens são feios!
Penso que D. Sebastião escolheu desaparecer, porque algum profeta lhe anunciou o que seria o Portugal do século XX.
Mas não será essa a lição dos tempos: precisamente que nada há a esperar do que é estritamente, baixamente humano? E então Portugal é o lugar privilegiado: a cloaca, o ânus do Ocidente, morte afinal muito próxima do lugar da ressurreição. Ser português é estar exilado no próprio país, é pois conhecer o estranhamento de tudo, o alheamento último de todos os sonâmbulos que me rodeiam e saber que na extremidade da degradação, de degrau, poderá estar a primeira vértebra da subida.»
Post-Scriptum: Trecho do Diário de Lima de Freitas que a Ésquilo projecta publicar no âmbito da edição completa das obras de Lima de Freitas. Esperamos e desejamos que essa vontade editorial se cumpra em prol da Cultura portuguesa.
A imagem superior intitulada Estudo para D. Sebastião é um acrílico sobre madeira, realizado em 1987 e pertença do Museu Grão Vasco, Viseu.
A imagem inferior representa D. Sebastão: o Encoberto é um azulejo da Estação dos Caminhos de Ferro do Rossio, Lisboa, 1996.
2 comentários:
Excelente texto, amigo Nonas.
Cumprimentos
Pertinente... Pertinente...
Merece reflexão !
A. Lugano
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