«Dei um salto ao Porto para conhecer e conversar com um fascista de verdade. Digo "de verdade" pois o vocábulo, esvaziado do seu conteúdo original e habilmente manipulado, foi transformado no pior insulto, usado pela metade da humanidade para desqualificar e condenar - definitivamente e sem perdão - tudo e todos de que/quem não gosta - isto é, a outra metade da mesma humanidade. Sim, este real McCoy, este autêntico nacional-revolucionário, este genuíno totalitário neo-fascista é o Professor António José de Brito. Do encontro com este monstro sagrado do pensamento anti-democrático português dos últimos cinquenta anos, cumpre registar neste curto espaço os aspectos que mais me impressionaram. Não vou referir a inteligência superior, a lógica implacável, a monumentalidade do saber, a trajectória "politicamente incorrecta" e rectilínea ao longo de toda uma vida - tal seria, na expressão de Nelson Rodrigues, o óbvio ululante. Chamo a atenção para a simplicidade e a simpatia, dois rasgos que dificilmente são associados à imagem do catedrático de nomeada. E para a espantosa memória e agilidade de raciocínio de alguém que, aos oitenta e três anos, é capaz de reduzir a pó de pedra interlocutores com um terço da sua idade. Se é certo que há momentos na vida que deixam uma marca indelével, este foi, com toda certeza, um deles.»
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