28.2.08

Mircea Eliade: Diário Português


Lisboa, 27 Fev (Lusa) - O "Diário Português" de Mircea Eliade, um dos maiores investigadores da história e filosofia das religiões, saiu em Portugal esta semana, mais de sessenta anos depois daquele escritor romeno ter vivido em Lisboa.
Era o único diário de Eliade que, por vontade do autor, só podia ser publicado depois da sua morte e "o único manuscrito", o que criou "dificuldades de transcrição e algumas incorrecções", disse à agência Lusa o tradutor, o jornalista romeno Corneliu Popa.
Trata-se de uma obra de cerca de 300 páginas, publicada pelo editora Guerra & Paz, e inclui um estudo de um sobrinho de Eliade, o crítico literário Sorin Alexandrescu, que virá a Portugal em Abril para apresentar o livro.
Mircea Eliade (1907-1986), autor de "O Mito do Eterno Retorno", "Tratado da História das Religiões" e "O Sagrado e o Profano", foi adido de imprensa e adido cultural da embaixada da Roménia em Lisboa entre 1941 e 1945.
O autor estava em Portugal quando terminou a II guerra mundial: "Salazar, que tinha cometido a 'gaffe' de ordenar luto pela morte de Hitler e tinha sido injuriado na imprensa anglo-americana, corrigiu o erro rompendo as relações com a Alemanha, fechando a Legação e congelando os fundos alemães", anotou Eliade no seu diário, no dia 10 de Maio de 1945.
O escritor romeno conheceu pessoalmente Salazar, que retrata com simpatia ("É menos rígido visto de perto"), mas segundo Corneliu Popa, "não era propriamente fascista".
"É inegável que Eliade tinha simpatias de direita, mas não era um militante surdo e cego. Ele defendia um Estado autoritário, mas não totalitário", disse.
O "Diário Português" de Mircea Eliade foi publicado pela primeira vez em 2001, por uma editora de Barcelona, e cinco anos depois saiu também na Roménia.
"A edição portuguesa é a mais correcta. Mesmo a romena tinha vários erros, nomeadamente quanto aos nomes das localidades", garante Corneliu Popa.
Eliade ficou "fascinado" com a poesia de Camões e "o charme indiscritível" de Sintra e apreciava "Os Maias", de Eça de Queiroz, realça também o tradutor. Contudo - acrescenta - "o Portugal que ele descreve é um país bastante atrazado, muito rural e até triste".
"Não sei porquê, Portugal parece-me cada vez mais triste. Prestes a morrer. É um passdo sem glória", escreveu Eliade no dia 3 de Outubro de 1943.
A passagem do autor por Portugal ficou também marcada pela morte da sua mulher, em 1944.
Corneliu Popa, 36 anos, jornalista freelancer, radicado há uma década em Portugal, já traduziu para romeno Pedro Tamen, Egipto Gonçalves e outros poetas portugueses, mas depois deste "Diário Português" gostaria de continuar a traduzir Mircea Eliade.
"Os seus livros de ficção, que são pouco conhecidos, merecem ser traduzidos. Durante o regime comunista na Roménia (derrubado em 1990), nem sequer se podia falar de Mircea Eliade, mas hoje ele é considerado um dos grandes vultos da cultura romena", diz Corneliu Popa.

AC.
Lusa/Fim

5 comentários:

Anónimo disse...

António Louçã

AHAHAHAHAH!

Vítor Ramalho disse...

Um abraço. Ainda bem que voltas-te

Anónimo disse...

Ando para ler esse livro, mas já ouvi dizer que Mircea, mostrava algum desprezo por Portugal, é mesmo verdade?

nonas disse...

Não há qualquer referência escrita em que Eliade mostre o seu desprezo por Portugal.

Anónimo disse...

Obrigado, falei nesse assunto, derivado ao que li aqui:

http://daliteratura.blogspot.pt/2008/03/mircea-eliade.html

Em que o autor do espaço dizia o seguinte:

«Estar em Portugal — quando há Paris! [...] Em Paris, aprendi uma coisa decisiva: que não se pode dar frutos no plano universal das ciências actuando no quadro limitado de uma cultura menor.»

As minhas ideias e os meus métodos poderiam ter ressonância e consequências no conjunto do pensamento europeu.» Podiam, mas não tinham o desejado eco, porque «a pobreza intelectual de Lisboa» votava a obra à obscuridade, e ele sentia-se preso a «uma lenta degradação».

Sendo assim vou adquiri-lo.