2.7.10

Couto Viana, o voto de pesar e a troca de correspondência entre José Campos e Sousa e Pedro Mexia

Recebi do meu bom amigo José Campos e Sousa e de Pedro Mexia - com a devida autorização de ambos - esta troca de correspondência sobre o tema da negação do voto de pesar a António Manuel Couto Viana.
"Meu Caro Pedro Mexia
Assisti, fora de horas, como algumas vezes faço, ao “Eixo do Mal“ . Vi com surpresa que estava presente, em missão de substituição.
Falou-se do inevitável Saramago e da forçosa falta que ele faz aos Portugueses. Quero desde já dizer-lhe que pertenço à imensamente ignorante parte de Portugal a quem ele de pouco serve e a quem também não faz falta nenhuma.
A páginas tantas criticou-se a sábia ausência do P.R. nas exéquias. E lá vieram as carpideiras do costume.
O Pedro Mexia lembrou, e muito bem, aquilo que se passou com o António Manuel Couto Viana, a quem foi negado um voto de pesar na A.R. por ser ele simpatizante do regime salazarista.
Aqui para nós, o António Manuel, lá no Céu onde certamente se encontra, está muito mais agradado e aliviado com essa nega.
Mas eis senão quando o bloquista de serviço volta à carga e tem o desplante de qualificar o nosso Grande Poeta António Manuel como um Poeta menor, estando assim, na sua (dele) triste lógica, perfeitamente justificada, a nega da A.R.
É aqui que eu o venho criticar, Pedro Mexia!
Você calou-se - ou balbuciou qualquer coisa.
Calou-se, porquê?
Porque concorda?
Bastava ter perguntado ao bloquista de serviço, o que é que ele leu do AMCV para ser tão incisivo, agreste e definitivo na sua apreciação.
Cheira-me que o bloquista não leu mesmo nada e que fala unicamente por odiozinhos políticos.
O António Manuel Couto Viana é um Poeta da Pátria, Poeta que tenho a honra de ter musicado e cantado muitas vezes. Mas meu caro amigo, Pátria não é palavra nem conceito grato ao léxico do Bloquista. Atrevo-me mesmo a dizer que não faz parte do léxico dos Bloquistas e afins.
Logo e logicamente, terão que achar o António Manuel, um poeta menor.
Por isso, não critico e, acho até natural o tique do esquerdista.
- Já o seu silêncio…!……
- O Pedro Mexia calou-se quando devia ter falado!
Estive presente, há uns anos, no lançamento de um Livro do AMCV, no Círculo Eça de Queiroz.
-Você falou bem nesse dia, Pedro Mexia!
Ontem, calou-se! E o silêncio nem sempre é de oiro…
Meu Caro Pedro Mexia:
Em conversa com um amigo, que até talvez seja comum, e ainda sobre o António Manuel Couto Viana, ele disse-me, comentando estes esquecimentos, uma frase que me marcou:
- “ Politicamente correcto, politicamente covarde !
Espero, sinceramente, que V. nunca mais vista esta frase!

Os meus cumprimentos
José Campos e Sousa"
A resposta de Pedro Mexia:
"Caro José Campos e Sousa:
A minha opinião sobre o Couto Viana está clara em dois artigos escrevi sobre ele, num posfácio a uma antologia dele, e nessa apresentação a que se refere. Ontem, na televisão, limitei-me a discutir um princípio geral. Se o Couto Viana fosse um poeta menor, eu nem o tinha citado. Mas o que estava ali em causa era o critério: discute-se a obra de um autor ou as suas ideias políticas? O PC e o Bloco recusaram o voto de pesar por causa das ideias do Couto Viana, e foi isso que eu contestei, até porque eles acusam a direita de não gostar do Saramago por causa das ideias. Disse ao Daniel Oliveira que não discutia literatura naquele caso, porque há sempre quem ache os escritores «maiores» ou «menores», e isso é subjectivo; ali, o que me importava era a dualidade de critérios: então não se pode criticar o escritor Saramago por causa das ideias, e ao Couto Viana pode ser negado um simples voto de pesar por causa das ideias? Se eu tivesse discutido a qualidade literária do Couto Viana, o Daniel dir-me-ia: «é a tua opinião, subjectiva»; mas perante a dualidade de critérios, que é objectiva, ele reconheceu que eu tinha razão.
Cordialmente
Pedro Mexia"

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