22.12.08

Um Acto de Confissão de José Campos e Sousa

1. Após um interregno de quatro anos voltaste a editar. Depois de “Rodrigamente Cantando” veio a “Mensagem - À Beira-Mágoa”. A que se deve esse silêncio?
Silêncio? Eu não tenho estado nada calado, canto todos os dias para quem gosta de me ouvir. Por exemplo: no ano de 2008 foi religiosamente cumprida uma Missa Em Fado na Basílica dos Mártires – todos os terceiros Domingos de cada mês, às 18h30. Só falhámos no final por pura “exaustão de material humano”. Este projecto do Grupo “IN NOMINE” - Quando o Fado é Oração - Missa Fadista durou ininterruptamente de finais de 1994 até hoje.
Depois, e ainda em 2008, cumpri também quase religiosamente um Jantar de Poesia dita e cantada na Quinta de S. José do Marco, em Castanheira do Ribatejo, desta vez integrando o grupo “EM CANTO”. Foi – e vai continuar a ser um Jantar fantástico, tanto o jantar propriamente dito como o momento de poesia e música bem à antiga portuguesa, fazendo lembrar bons tempos em que não havia televisão e as pessoas se eternizavam à volta da mesa da casa de jantar a ouvir-se umas às outras!
Ainda em 2008, para que definitivamente não me fales em silêncios, envolvi-me em mais um projecto do grupo “EM CANTO” - A Estória do Menino que mudou a História. Gravámos uma maquete em Maio na esperança de entusiasmar algum Banco ou Câmara Municipal.
Mas estas coisas são o que são. Quando falam do Menino Jesus, são sempre difíceis de digerir pelas cabeças bem pensantes, bem falantes, certamente bem perfumadas e politicamente correctas que normalmente tomam decisões sobre estas coisas.
Afinal ‘somos um estado laico’ e acho que ainda a caminho do socialismo!!! Não temos nada que falar do Menino Jesus fora de portas, que é como quem diz, fora das Igrejas.
Assim é que é correcto! E lá fica o projecto á espera do seu Natal!!!
Os silêncios são relativos – muitas vezes são casos de surdez, de autismo, mesmo -, de quem não nos quer ouvir.
Mas voltando ao princípio da tua pergunta: Foi o “Rodrigamente Cantando” quando infelizmente teve que ser.
Foi agora a “Mensagem à Beira-Mágoa”.
2. Este CD tem outro significado ou simbolismo para além da celebração do 120.º aniversário do nascimento do poeta? Claro que sim! O que são 120 anos? Apenas mais um que 119!
A Mensagem é o que é verdadeiramente importante - dramaticamente actual. E espero sinceramente que “a HORA!” venha a tempo!
Pôr a Mensagem em música e dar-lhe voz, foi unicamente uma tentativa de formalizar a ideia de Pessoa: “Musicar um poema é acentuar-lhe a emoção, reforçando-lhe o rítmo!”
Ricardo Reis, um dos outros Pessoas dizia: - “A poesia é uma música que se faz com ideias!”
Fui um bocado parasita do génio musical de Pessoa na sua própria poesia. Ao musicar estes poemas da Mensagem, vou levá-los mais longe, até gente que de outra maneira a eles não teria acesso. A música adoça – Pode até ser que alguém que passa, se passe a interessar pelo tal Livrinho de fácil leitura mas de difícil compreensão!, como dizia o Poeta.
Pessoa, claro, não precisa de nada disso, nem de mim. Nós é que precisamos todos dele, e muito, e cada vez mais.
3. Pessoa dizia sobre si próprio: “um nacionalista místico, um sebastianista racional. Mas sou, à parte isso, e até em contradição com isso, muitas outras cousas.” Quem são para ti Pessoa e os seus heterónimos?
Falo clara e unicamente em meu nome, pois não sou catedrático de nada!
O encanto de Pessoa é o ele ser simultaneamente tudo e o seu contrário, sem perder com isso a coerência que lhe dão os seus heterónimos.
Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis (fiquemo-nos por estes!) tinham sentires diferentes e certamente outro tipo de preocupações de acordo com as suas próprias personalidades. Por isso são heterónimos e não pseudónimos.
Não posso deixar de transcrever uma passagem de um escrito de Pessoa sobre o que atrás mencionei:
“… Escrevi com sobressalto e repugnância o poema oitavo do - Guardador de Rebanhos - com a sua blasfémia infantil e o seu antiespiritualismo absoluto - Na minha pessoa própria e aparentemente real, com que vivo social e objectivamente nem uso da blasfémia nem sou antiespiritualista- Alberto Caeiro porém como eu o concebi. É assim : Assim tem pois que ele escrever, quer eu queira quer não….”
E podíamos continuar, mas acho que este bocadão de prosa me servirá para explicar que primeiro admiro incondicionalmente esta forma de “Loucura” chamada Fernando Pessoa, que era tudo menos um “cadáver adiado que procria”. Mas dentro da sua genial loucura sou um muito maior conhecedor e apreciador de Fernando Pessoa ortónimo - Ele próprio, o tal Nacionalista mistico Sebastianista racional etc…etc… Foi com ele que comecei e a verdade é que como compositor e intérprete do seu universo, nada ou quase nada tenho, que não seja dele próprio.

António Ferro e Almada Negreiros no funeral de Pessoa


4. Pessoa afirmou: “A Mensagem coincidiu com um dos momentos críticos (no sentido original da palavra) da remodelação do subconsciente nacional.” Achas que Pessoa está a referir-se ao Estado Novo e a Salazar?
Aqui estamos a entrar nas perguntas difíceis. Não sei o que iria na cabeça de Pessoa mas posso e devo tentar ler nas entrelinhas. Nas pausas e sobretudo nos silêncios. Pessoa leva a Mensagem até Dom Sebastião, largamente representado no seu “Livrinho…”, directa ou indirectamente.
Pessoa esqueceu na Mensagem períodos luminosos da nossa História, como por exemplo a Restauração da Independência que durou umas boas dezenas de anos. Esqueceu também alguns Portugueses que foram passando como fogachos do antigo Heroísmo Lusitano.
O “Dilúvio” começou logo após Dom Sebastião, continuou naturalmente pelos Filipes e prolongou-se pela dinastia de Bragança, pelas Invasões Francesas, pelo constitucionalismo e com a R, que quando ele morreu, já tinha a feia idade de 25 anos. A excepção para este hiato gigantesco na Mensagem foi para o Padre António Vieira. Sabe-se-bem-porquê! E talvez, em parte, para ele próprio quando escreve o poema “‘Screvo o Meu Livro á Beira-Mágoa”.
Mas esta é apenas a minha realidade. Tudo o mais será fatalmente interpretado, à luz da conveniência de cada um.
A mesma Mensagem são assim dois livros. Um, o tal “Livrinho…” que foi escrito e organizado por
Pessoa, publicado no dia 1º de Dezembro (vá lá!) de 1934. O outro, muito maior! “O livro dos silêncios e omissões”. Refiro-me, claro está a omissões no âmbito da Mensagem. Pois se houve alguém em Portugal que se pronunciasse tanto e tão bem sobre TUDO, esse alguém foi Fernando Pessoa. E lá virão certamente referências ao Estado-Novo e a Salazar.
A título de curiosidade, o final do poema
Liberdade
… E mais do que isto
É Jesus Cristo
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca!


5. Achas que o “Nevoeiro” continua actual? É a hora de o dissipar? Pelo que apurei, o Nevoeiro é datado de 10 de Dezembro de 1928. São treze versos de Verdades como Punhos. Será talvez bom recordar o Poema:

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quere.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro …
É a hora!

Se continua actual? Não, o nevoeiro passou a FOG - que é muito mais perigoso e tóxico! É que os nossos governantes têm mesmo como único desígnio cumprir e fazer cumprir e aumentar esta fatal toxicidade! Os que hão-de vir amanhã serão sempre piores do que os que estão hoje, que por sua vez, são piores do que os que estiveram ontem. Razões? Aos montes, e sem ordem de precedência, tirando a primeira:
- A negação constante e doentia da nossa raíz Cristã
- Faltam bons mestres e bons exemplos
- Ignorância galopante
- Como dizia o Rodrigo Emílio: - Não sabem nada de tudo
- Roubalheiras e negociatas
- Compadrios e casamentos de interesses
- Lobbys disto e daquilo
- Pedófilos a torto e a direito
- Abortos à la carte
- Eutanásias que vêm aí
- Pais que querem ser mães
- Mães que querem ser pais!
- O tudo (nada Pessoano) é possível!
- O porque não?
- O videirinho “Já agora!”
O trabalho científica e sadicamente executado na desmoralização das nossas Forças Armadas ou fardadas, cuja existência e utilidade são constantemente postas em causa. Choca-me ver gente em uniforme a exigir 13.º mês, subsídio de férias, segurança social e assistência médica na velhice. Deviam ser tratados como Primeiros Portugueses para que depois quando fosse preciso serem também os PRIMEIROS.
Valerá a pena falar na justiça?
Nos anos ridículos que se levam para julgar alguém!
No crime que compensa em Portugal, e até dá direito a indemnização?
- Não para todos!
Dependendo do clube partidário, da gravata e da camisa, do perfume e da marca do fato, dependendo da “Arte de Bem Cavalgar” e dar a volta às virgulas e pontos finais nas nossas leis. Estou cansado de divagar e quase já me perdi na entrevista. Vou ter que mudar de agulha, mas ainda dentro da mesma pergunta!
Fernando Pessoa escreve sobre o Homem Português:
“…Há um terceiro Português que começou a existir quando Portugal , por alturas do Rei Dom Dinis começou a esboçar-se Império. Esse Português fez as descobertas, criou a civilização transoceânica moderna e depois foi-se embora. Foi-se embora em Alcácer-Quibir. Mas deixou alguns parentes que têm estado sempre e continuam estando, à espera dele. Como o último verdadeiramente rei de Portugal foi aquele Dom Sebastião que caíu em Alcácer-Quibir e presumivelmente ali morreu. É no símbolo do regresso de El-Rei Dom Sebastião que os Portugueses da Saudade Imperial projectaram a sua fé de que a Família se não extinguisse…”
Tenhamos pois Fé em que ainda existam uma boa meia dúzia de Portugueses!
É a hora de dissipar o nevoeiro? Resta-nos saber quantas vezes temos que bater no fundo, para acordarmos. E, claro - quem vai acordar!?
Ah, é verdade, e também ter cuidado com quem acorda...
6. Na dedicatória lembras os poetas Rodrigo Emílio, Fernando Tavares Rodrigues e o José Alberto Boavida (Dinis Diogo) e referes António Quadros.
As leituras de Fernando Pessoa, “Portugal, Razão e Mistério” e “Poesia e Filosofia do Mito Sebastianista” foram importantes para a tua compreensão de ser Português e do pensamento pessoano?
Falemos primeiro do Rodrigo, do Fernando e do Zé Alberto.
Todos se foram embora quando Deus achou que deviam ir.
Todos tinham as suas razões.
Todos estão certamente no Céu.
E todos me fazem uma falta dos diabos, pois foi com eles e deles que muita da minha música nasceu.
Tenho o prazer de constantemente os manter vivos. Aquele chavão de que “um Poeta nunca morre”, não é chavão nenhum, é mesmo verdade, para mim que os canto!!
Quanto às leituras de que falas, esses títulos ainda não os li!
Tenho uma vastíssima obra sobre Pessoa, a maioria da autoria de António Quadros, que tive o prazer de conhecer. A ele devo quase tudo o que apreendi e a ele também dediquei este meu CD e dele me socorro constantemente.
Quero também mencionar uma obra interessantíssima “As Mensagens da Mensagem”, de Nuno Hipólito, um livro que aconselho vivamente e que também deu um valioso contributo neste trabalho.
Mas também tenho que atribuir um pouco de responsabilidade nesta aprendizagem à minha pobre e ignorante pessoa.
O tal “saber de experiência feito!”. Afinal fui um privilegiado. Andei no Império à semelhança de muitos, muitos milhares de camaradas meus que por lá andaram. Tive a felicidade de defender Portugal. Fui preparado pelo meu Pai e desse modo as coisas tornaram-se bastante mais fáceis para mim!
Para os que foram sem ter a devida preparação Histórica, mas foram e se portaram maravilhosamente, vai a minha grande Admiração e Respeito.
Como antigos combatentes encontramo-nos todos anos na minha querida C:CAÇ 2759 ou, de maneira mais abrangente, no Encontro do dia 10 de Junho, junto ao Forte do Bom Sucesso e da Torre de Belém, dia em que homenageamos os nossos Mortos Pela Pátria, os Primeiros Portugueses.
Portanto, a minha compreensão do Pensamento Pessoano de que falas, tem alguma ciência e alguma experiência que é como quem diz: - alguma inspiração e muita transpiração!
7. Ao homenageares António Quadros não estarás também a homenagear o seu pai, António Ferro, o mentor da “Política do Espírito” do Estado Novo, que teve o discernimento e a sensibilidade cultural de criar um prémio especial dado o valor poético, cultural e político da obra, no mesmo valor (5.000 escudos) dado que o 1.º Prémio do Prémio Antero de Quental em 1934, havia sido atribuído ao Padre Vasco Reis com “A Romaria” porque A Mensagem não tinha o número de páginas requeridas pelo regulamento? Ao homenagear António Quadros estou mesmo a homenagear o António Quadros. Tinha dois Pais muito difíceis de se terem, por causa das inevitáveis comparações: António Ferro e Fernanda de Castro.
O António Quadros, apesar destes Pais, fez o seu caminho, libertou-se deles, no bom sentido, claro!
Nunca fui muito íntimo de António Quadros. Tive o prazer de o receber em minha casa quando o convidei, e à sua mulher, para uma primeira audição do meu LP “Em Pessoa” em 1985. Cruzámo-nos, como ele diz, algumas vezes, sempre por motivos poético-musicais, quase sempre pessoanos.
António Quadros era um Senhor que sabia, e sabia saber!
Quanto a prémios e número de páginas obrigatórias e poesia a quilo, só tenho a dizer que, já então, como agora, era Portugal no seu melhor.
8. Pessoa escreveu: “A Minha Pátria é a Língua Portuguesa”. Como combatente na Guerra do Ultramar, achas que a Pátria é só e/ou sobretudo a Língua Portuguesa? Não lhe faltarão as componentes da raça e do território?
Sem dúvida, tenho dificuldade em olhar para o mapa mundi, ver todos aqueles países que já foram Portugal e esquecer-me disso. Mais ainda por, como já disse, ter andado no Império.
Quanto a território, há que ser pragmático. Não vale a pena negar as evidências. São países independentes e não vamos lá pela reconquista, vamos lá pela cultura que pode não ser a mesma, mas que é discutida na mesma língua por mais de 200 milhões de lusófonos.
E pelo menos nessa acepção Portugal continua do Minho a Timor, e ainda mais passando pelo Brasil!
Quanto à componente rácica, depende do que entendes por ela.
Para mim, Portugueses com Pês muito Grandes, há-os de todas as raças, de todos os credos, de todas as cores. É só ir ao 10 de Junho a Belém e ver aquela rapaziada escura, com peitos cheios de cruzes de guerra. Se tiveres sorte, podes encontrar e abraçar um “pretalhão” chamado Marcelino da Mata com uma Torre e Espada, para já não falar no muito querido amigo Comandante Alberto Rebordão de Brito, que infelizmente já morreu.
Se ainda quiseres ver nomes que soam a Império, daqueles que deram a vida pela Pátria Portuguesa, podes ler os que estão nas placas do Monumento.
Diz-me tu então: o que é a raça Portuguesa? Somos diferentes nós, os Portugueses!!
9.O teu Pai foi um reconhecido militante nacional-sindicalista. Pessoa frequentava nos últimos anos da sua vida os jantares nacional-sindicalistas como um célebre ocorrido no Parque Eduardo VII, em Lisboa. Alguma vez coincidiram? O meu Pai foi, como dizes, um militante Nacional-Sindicalista.
Era Monárquico, ainda nascido no Reinado de D. Carlos I. Nunca lhe ouvi dizer que se tivesse cruzado com Fernando Pessoa, talvez (certamente ) porque as posições de Pessoa sobre a Monarquia não fossem coincidentes com as suas. Nunca lhe ouvi falar no tal jantar do Parque Eduardo VII.
Ainda sobre o meu pai também quero dizer que, como Monárquico, nunca foi um homem do Estado-Novo. O meu pai recusou, mesmo quando bem precisava, pois já era casado e tinha filhos, um chamado bom cargo com um óptimo pagamento, tudo isto porque, segundo creio, na época esses cargos obrigavam a um juramento de fidelidade ou à república (o que não passaria pela sua cabeça) ou ao Estado-Novo, ao qual ele não pertencia pois era Monárquico.
Esta postura do meu Pai tem-me “perseguido” e servido de exemplo para muitas coisas. É uma espécie de consciência que anda cá por casa.
Tenho muitas saudades dele.
E faz-me muita falta pois há cada vez mais coisas que gostava de lhe poder perguntar!
10. Um dos poemas por ti cantados ao longo da tua vida musical é o “Navio Feiticeiro”, de Alfredo Pimenta e editado no LP "Ceia" (1983). Achas que o poema deste grande mestre da Portugalidade se revê no sentir e pensar de Pessoa? Quem me deu o Navio Feiticeiro foi o Rodrigo. Graças a ele e ao Alfredo Pimenta, fiz uma das músicas mais bonitas e conseguidas do meu reportório. Claro que o Navio Feiticeiro é fortemente inspirado em Fernando Pessoa.
Saudade, névoa, praias desoladas, navios feiticeiros, longes esfumados, e até no final o navio que uma tarde há-de chegar“. Só não é Dom Sebastião, porque Dom Sebastião vai chegar numa manhã de Nevoeiro!

11. Não é a primeira vez que cantas Fernando Pessoa. Em 1985, editaste o LP “Em Pessoa”, com vinte e seis temas, acompanhado pela Maria Germana Tânger e pelo Luís Pavão. Desses poemas cantados constam já “O Infante D. Henrique”, “D. Sebastião, Rei de Portugal”, “O Infante”, “Prece” e “Os Colombos”.
Francamente, nunca os contei. Nesse LP tive a colaboração da Maria Germana Tânger, do Luís Pavão e do Manuel Lourenço, meu grande amigo que me gravou agora este CD e foi director musical comigo. Os arranjos foram então do António Emiliano. Do meu primeiro LP transitaram para este CD Prece, os Colombos e Mar Português. 12. Terminada esta saga pessoana, em que tratas símbolos e arquétipos nacionais do inconsciente colectivo da Nação Portuguesa, julgo saber que o próximo símbolo nacional a ser cantado é D. Nuno Álvares Pereira. Vamos ter novo CD no próximo ano para comemorar a canonização do Condestável? Para fazer um trabalho sobre o Santo Condestável, vou precisar, acima de tudo, da ajuda de D. Nuno Alvares Pereira. Ele está no Céu e por isso, dada a distância e a minha insignificância, não sei se ouvirá os meus e certamente os teus pedidos. Mas como Católico, fraquinho mas Católico que sou, acredito em milagres!
13. E para quando um CD sobre D. Sebastião?
Dom Sebastião fica para a tal manhã de nevoeiro!
14. Deus quis, Pessoa “poetou” e José Campos e Sousa cantou!
É tudo verdade. Resta saber se o tal José Campos e Sousa musicou e cantou bem...

15. Outros projectos? Tenho uma quase obcessão por um poema de Pessoa "O Corvo ", tradução de um outro de Edgar Allan Poe – “The Raven” mas que os entendidos dizem ser melhor que o original , o que não é nada para admirar. Está musicado há um bom par de anos mas são 30 minutos quase de poema e de música que podia funcionar se alguém o encenasse por exemplo.
Enfim, quando for rico, vou gravá-lo nem que seja só para mim. Depois, tenho os meus amigos Fernando Tavares Rodrigues e José Alberto Boavida. Gostava de fazer com eles o mesmo que fiz com o Rodrigo Emílio.
Depois tenho o David Mourão-Ferreira.
Depois tenho...
Depois tenho...
Depois tenho...
Tudo se concretizará quando eu for rico.
Fica prometido!
E agora, sim, chegámos ao fim desta entrevista que mais não foi do que um ACTO DE CONFISSÃO
Possivelmente não disse o que muita gente esperava.
Possivelmente falei de mais.
Possivelmente disse muitas asneiras e ainda possivelmente dei um testemunho fantástico. A única coisa que posso garantir é a minha sinceridade - e isso é difícil, podem acreditar.
Um Abraço a todos que tiveram a paciência de chegar até ao fim e manda a tradição e a minha religião Católica e a minha devoção de amigo que deseje a todos

UM SANTO, MUITO SANTO NATAL
José Campos e Sousa

7 comentários:

Anónimo disse...

Gostei imenso desta entrevista. Uma delícia de leitura. Ri-me imenso com a parte em que o entrevistado descreve o que vai mal no País e tudo o que aponta está certíssimo. Mas é claro que nada disso é para rir e sim para chorar.
Parabéns pelas perguntas e sobretudo pelas respostas.
Maria

Anónimo disse...

Na sua aparente simplicidade, um Grande Português! E é bem verdade que o "Navio Feiticeiro" é uma das suas melhores músicas.
Parabéns ao Nonas pela entrevista.

Anónimo disse...

Parabéns ao entrevistado e ao entrevistador pela grande entrevista que merecia ser publicada em jornal.
Apesar de ser uma entrevista extensa, lê-se muito bem e tem bastante conteúdo.

Unknown disse...

Isto é que uma entrevista com "E". Vale mais do que o que cobram por um jornal inteiro. Força Zé.
Um abraço.
Henrique Lemos

Anónimo disse...

Tenho 43 anos feitos hoje e tenho vindo a "descobrir" Fernando Pessoa muito com a ajuda do Jose Campos e Sousa de quem sou uma grd admiradora. ADORO ouvi-lo cantar e tocar, ADMIRO-O, saboreio cada instante, cada som, cada gesto, cada musica, cada nota dedilhada na guitarra como se esta fosse o prolongamento da sua existencia, do seu corpo. Admiravel
Tem uma voz notavel que tem vindo a aperfeiçoar nos ultimos anos.
Ouvi-lo a tocar e cantar Pessoa é algo sublime e de (En)canto

A repetir, SEMPRE

Anónimo disse...

Obrigado pela menção.

O meu livro está disponível aqui:

http://omj.no.sapo.pt/FernandoPessoaMensagem.htm

Anónimo disse...

Meu Querido Amigo,

Estou sem palavras porque a emoção é muita.
Feliz por te ler, ainda mais por te ouvir!
Triste pelo denso nevoeiro que se abateu sobre este nosso Portugal!
Não fora uma Fé indescritível que se não apaga, e...
Aquele Forte Abraço.

fernando teodoro