28.12.08

Humor de Pacheco Pereira


Não sabia que era proibido em democracia ser contra a emigração
«O vereador Sá Fernandes, à revelia das leis e da liberdade, mandou arrancar um cartaz do PNR contra a emigração. Nada tenho com as ideias e as práticas do PNR, nem precisava de o dizer a não ser porque este mundo está tão envenenado que tem de se estar sempre a repetir o óbvio, mas desconhecia que era proibido em democracia pronunciar-se contra a emigração. O problema é nós nos esquecermos de que a liberdade dos outros é também para dizer aquilo que nós detestamos e com que não concordamos. A liberdade é assim, não é apenas aquilo que o vereador Sá Fernandes entende ser politicamente correcto dizer ou aquilo que ele quer quer censurar. Felizmente.»




E já agora, para fazer subir pelas paredes a mesma turba

«Não posso deixar de considerar mais uma vez excessivo o modo como o nosso sistema judicial penaliza os crimes reais, hipotéticos ou mesmo de opinião, que em democracia não são crimes, da extrema-direita. Já não é a primeira vez que tal se nota, numa desproporção enorme entre o modo como os juízes e procuradores se atiram para os crimes da extrema-direita e tratam com penas leves ou nenhumas crimes de sangue, violência, violações, assaltos à mão armada, etc. Entre as penas possíveis de aplicar aos crimes do grupo de skins que foi julgado (dou de barato que haja crimes, embora tenha a maior das dúvidas sobre uma polícia que apresenta como despojos de uma busca bandeiras e símbolos nazis, que eu também desconhecia ser um crime possuir, e que, já digo publicamente, também tenho no meu arquivo), parece sempre escolher a mais dura, mesmo quando o bom senso exigiria outra ponderação.
As ideias de Mário Machado matam, tenho poucas dúvidas sobre isso. Mas também a minhas há 30 anos matavam, as de Mário Soares, as de vários membros do Governo actual e de altos responsáveis da magistratura, de empresas, da comunicação social, matavam também. E as de muita gente hoje, que em Portugal passa por ser pacífica e que ninguém vê com os mesmos olhos com que vê os skins e os nazis, matam hoje mesmo, na Colômbia, na América Latina em geral, em África, na Ásia e mesmo na Europa, no nosso país vizinho. Ou pensam que é um exclusivo da extrema-direita e que a extrema-esquerda são uns pacíficos meninos, cujas bandeiras com a foice e o martelo têm tanto sangue como a cruz gamada?
Só que em democracia é suposto as ideias e as opiniões serem livres, por péssimas que sejam, e o nosso desgosto com elas não deve servir de agravante penal, sob pena de politização da justiça.»

Pacheco Pereira

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