7.9.08

O 7 de Setembro visto por Rui de Castilho

«Em Lourenço Marques era a velada de armas. Os dias que se iam seguir, seriam o ruir de todas as últimas esperanças, a inimaginável matança, a selvajaria completa, brutal inesperada. Brancos de pele pintada de negro iriam pelo Caniço explorar os mais baixos instintos da populaça; hordas de negros drogados, bêbados, excitados, iriam massacrar mulheres e crianças, capitaneados por uma Frelimo exultante; dos militares, emparedados na perplexidade, entre os seus compatriotas de raça e de cultura a caírem mortos ao lado e as ordens de Lisboa de subjugar, esmagar, os “revoltosos”, não houve resposta.
Ou só houve a simbólica, dos poucos que destruíram as próprias armas, carregadas de balas simuladas, impotentes ante o genocídio.
Os moçambicanos pagariam demasiado caro, ao preço do horror, uma certa leviandade a tratar com aqueles que os defenderam durante mais de dez anos.
À esquerda, o sol mergulhou finalmente, no oceano, deixando uma fugaz mancha rubra, ainda e sempre num reforçar de augúrios, como um lago de sangue, que logo desapareceu.
Findava o dia sete de Setembro de 1974.
Pela primeira vez em quatrocentos e setenta e seis anos a Noite cobria o Império.»

In Rui de Castilho, O Capitão do Fim, Prefácio Lda, 2002, p. 474.

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